Depois de passar a maior parte do ano com as lojas de rua fechadas, o comércio tem esperança de ganhar um fôlego no Natal. Pelas estimativas da Confederação Nacional de Comércio, Bens, Turismo e Serviços (CNC), a data deve movimentar R$ 37,5 bilhões, cerca de 3,3% a mais em relação ao ano passado. 

Na avaliação do economista da CNC Fábio Bentes, este será um Natal de promoções. “À exceção dos alimentos, pressionados pelo dólar, o varejo vai ter muitas ofertas neste fim de ano. Diante do elevado desemprego e da falta de dinheiro, o lojista vai ter que adequar o mix ao bolso do consumidor”, diz Bentes. Economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Ana Paula Bastos lembra outro fator que vai estimular as ofertas. “Tem muito lojista com estoque alto, porque ficaram muito tempo fechados. Então, a primeira estratégia serão as promoções. E os lojistas vão usar as redes sociais, tanto para fazer divulgação como para vender”, afirma Ana Paula.

É exatamente nessa combinação que a dona da loja Daju, Juliana Gouvêa, vai apostar. “Eu vou fazer promoções com o estoque antigo. Mas também não tive medo de arriscar e comprei muita novidade, porque é o que as minhas clientes esperam. E estou investindo no marketing, nas redes sociais”, afirma Juliana. 

A empresária está otimista. “Outubro já foi bem melhor. Novembro deu uma caída. Mesmo assim, sinto que as vendas vão, no mínimo, se igualar às do ano passado”, afirma Juliana, que criou uma loja virtual. “Eu me adaptei e tive resultado. Mesmo depois da reabertura, continuo com 60% das vendas pelo WhatsApp. Antes, representavam 10%”, conta.

Segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a internet será a principal opção de compras, apontada por 47% dos consumidores. “Neste ano, além da internet, as pessoas também vão dar preferência para lojas de bairro. Por ser perto de casa, isso evita longos deslocamentos, e essa escolha vai minimizar o risco de contágio da Covid-19”, diz Ana Paula.

Sinal de recuperação

Economista da Federação do Comércio de Bens e Serviços de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Guilherme Almeida afirma que as vendas deste Natal não serão tão boas como as do ano passado. Entretanto, vão indicar recuperação. “Se a gente comparar com o Natal de 2019, serão menores, por conta de todas as incertezas do momento. Mas, quando a gente compara com os meses anteriores, certamente teremos crescimento. Ainda que a flexibilização do comércio esteja gradual e não tenhamos certeza se novos fechamentos de lojas vão ou não acontecer, a data tem um apelo emocional muito forte”, destaca Almeida. 

De acordo com os economistas, os consumidores podem até gastar menos, mas vão continuar comprando. Pelo levantamento da CNDL, os presentes preferidos serão roupas (57%) e brinquedos (38%). Em 2020, o gasto médio por presente deve ser de aproximadamente R$ 109. No Natal anterior, era R$ 125, ou seja, agora os consumidores estão dispostos a gastar 13% a menos que no ano passado. 

“Os brasileiros vão buscar lembrancinhas, e o comércio tende a fazer promoções. O crescimento das vendas é definido por acesso ao crédito, renda, confiança do consumidor e preço. Então, o comércio vai ter ofertas porque, desses quatro fatores, o único que o varejo pode controlar é o preço”, avalia o economista da CNC Fábio Bentes.

Preço 

O preço vai ser o principal fator de decisão na hora das compras de Natal. Para 53% dos brasileiros, este será o principal fator de influência para a escolha do local de compra. As ofertas e promoções estão em segundo lugar, citadas por 39% dos consumidores entrevistados pelo estudo da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). 

Pensando nisso, a dona da Paraíso da Cegonha, Valquíria Rosa, vai manter promoções. “Vou dar descontos no estoque que eu não consegui vender durante a pandemia. A estratégia acaba atraindo clientes, que entram para comprar esses itens, mas acabam levando outros. Foi assim na Black Friday”, comenta a lojista. 

O gerente executivo da CNDL, Daniel Sakamoto, afirma que o faturamento tende a ser menor do que o do ano passado. “Mesmo assim, as projeções são otimistas”, avalia ele. A pesquisa da CNDL também indica que tem menos gente disposta a presentear neste ano. Pelo levantamento, 54% devem comprar algum presente. No ano passado, foram 77%. “Das pessoas que afirmam que não farão compras, o principal argumento é o desemprego. O segundo é a falta de dinheiro”, explica Sakamoto. 

Entre os que estão dispostos a presentear amigos e familiares, os gastos serão menores. A maioria (45%) diz que vai gastar menos em 2020.