O plano era pegar um empréstimo, quitar as dívidas e dar um fôlego ao negócio para não deixá-lo morrer. Com taxas bem mais baixas e carência de até oito meses para começar a pagar, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) surgiu como um galão de oxigênio que garantiu respiro aos pequenos empresários. Só que o vencimento das parcelas, previsto para março deste ano, chegou antes da pandemia acabar e muita gente não teve tempo de fazer caixa para honrar o financiamento.
“A economia não voltou na velocidade que todo mundo esperava e muita gente vai ter problema no fluxo de caixa, com dificuldade para honrar as dívidas”, afirma o gerente da Unidade de Articulação para o Desenvolvimento Econômico do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), Alessandro Chaves.
Dono de restaurante, Matheus Daniel, recorreu ao Pronampe para manter o negócio, mas o que vai ficar mesmo são as dívidas. “Eu usei o dinheiro só para quitar as coisas com fornecedores, aluguel e taxas. Agora, a parcela está vencendo, eu não tenho capital de giro para reabrir, por isso, estamos encerrando a operação do restaurante Família Daniel”, lamenta.
O fechamento do estabelecimento, que funcionava há seis anos, significou a demissão de 18 pessoas.
O empresário é presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel/MG) e sabe que não está sozinho. “O levantamento da associação mostra que 62% dos estabelecimentos devem a fornecedores, impostos, aluguel e salários”, diz. A pesquisa foi realizada entre 24 de dezembro de 2020 e 4 de janeiro deste ano no Estado.
Ao todo, 517 mil empresários de pequeno porte recorreram ao socorro financeiro do Pronampe, somando R$ 37,5 bilhões em empréstimos no país, segundo o Ministério da Economia. Em Minas Gerais, foram 65,9 mil negócios atendidos, com R$ 4,9 bilhões.
“O acesso a esse crédito no início da pandemia foi o que garantiu a sobrevivência de muitas empresas. O Pronampe foi muito importante porque os bancos estavam concedendo mais recursos para grandes empresas, que estavam reforçando o fluxo de caixa. Esse programa garantiu dinheiro a juros mais baixos também para os negócios menores”, afirma o diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer.
O recurso foi um sopro para os negócios, mas muitos deles ainda respiram com dificuldade. “Na medida em que a pandemia se estendeu, a economia não se recuperou como o esperado. Além disso, a expectativa de vacinar os trabalhadores a curto prazo ainda é pequena. Dessa forma, o que as empresas estão vivendo deixou de ser um simples aperto de caixa e passou a ser uma dificuldade de sobrevivência”, afirma Storfer.
Na avaliação do gerente do Sebrae-Minas, Alessandro Chaves, a tendência de aumento da inadimplência das empresas é inevitável. “Se a economia não gira, o crédito não pode ser honrado”, explica. O endividamento, que os especialistas trazem como uma possibilidade, já é visto praticamente como certo entre os empresários. “A verdade é que passou o tempo de carência e nossa situação é a mesma do início da pandemia. Em Belo Horizonte, chegamos a ter os serviços não essenciais fechados em janeiro. O que eu sei é que muitas pessoas não terão como pagar o Pronampe porque a crise não acabou”, afirma o presidente da Associação dos Lojistas do Hipercentro, Flávio Froes.
Socorro
Só no segmento de bares e restaurantes, 49% dos estabelecimentos faturaram menos da metade em dezembro e janeiro frente ao mesmo período anterior, segundo a Abrasel. Sem o mesmo faturamento de antes, a prorrogação do prazo para pagamento da parcela é uma grande expectativa dos empresários. “As medidas de auxílio às empresas, seja dos governos ou das instituições financeiras, são como o oxigênio necessário para a empresa conseguir tomar fôlego.
Mas, diferente dos pacientes, que respondem de imediato, assim que recebem o ar, no caso das empresas essas medidas demoram um pouco para fazerem efeito e elas ainda vão ficar um tempo em dificuldade, até retomarem normalmente”, avalia o gerente da Unidade de Inteligência Empresarial do Sebrae-Minas, Felipe Brandão.
O economista chefe da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, lembra que o comércio teve queda de 6% em dezembro. “Diante deste cenário, acho muito pouco provável que o governo não tenha que recorrer a novas medidas. Não só na questão do auxílio emergencial, que vai injetar dinheiro, mas também com adiamento de impostos, suspensão de contratos”, afirma Bentes.
A preocupação já está gerando mobilização para prorrogar medidas que garantam a oxigenação do setor. “Estamos trabalhando com a CNC para pressionar Brasília”, afirma o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo Souza e Silva.