Serviços como plano de saúde, consulta de psicólogo e de contador subiram acima da inflação em Belo Horizonte no ano passado. Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 5,23% na capital, acima do centro da meta de 4,25% estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), essas atividades chegaram a ficar até 42,86% mais caras, como é o caso das excursões – elas foram a principal contribuição para a inflação da cidade em 2019.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens de Minas Gerais (Abav-MG), Alexandre Brandão, a saída da Avianca Brasil do mercado elevou o custo das passagens e foi a principal razão para o aumento dos preços dos pacotes de viagens em 2019 – de janeiro a setembro, o valor médio da tarifa aérea doméstica subiu 11,8% em comparação com o mesmo período do ano anterior, conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

A valorização do dólar e o crescimento da demanda por viagens também contribuíram. “Houve um aquecimento grande do turismo no ano passado. Em Minas, nós trabalhávamos com uma previsão de 7,5% de crescimento, mas pode ter sido ainda maior”, afirma.

O serviço de contador ficou 26,4% mais caro no ano passado, o que, de acordo com o Sindicato dos Escritórios de Contabilidade, Auditoria e Perícias Contábeis no Estado de Minas Gerais, não foi por acaso. “Tivemos uma série de novas obrigações e responsabilidades. Os contadores se tornaram responsáveis subsidiários pelos clientes e, por isso, passaram a contratar um seguro de responsabilidade civil, o que levou à alta dos honorários”, diz Roseli de Sales Silva, professora do sindicato na área de perícia.

Já o plano de saúde individual avançou 7,35% no ano, percentual máximo de reajuste definido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A taxa foi definida a partir de uma metodologia baseada na variação das despesas médicas das operadoras e em um índice de inflação. Segundo a ANS, índices como o IPCA não contemplam a frequência de uso do plano e a variação dos custos de saúde, que impactam o setor.

O advogado trabalhista Gabriel Viegas, 26, passou a fazer por conta própria serviços de contador que costumava terceirizar. “Esse aumento de preços foi muito nítido, e fiquei em um dilema: assumir o prejuízo ou repassar para os meus clientes. Como a gente está em um período de crise, descartei essa última possibilidade”, conta.

Segundo ele, a declaração do Imposto de Renda do escritório e os cálculos contábeis de seus processos deixaram de ser contratados de terceiros. “São procedimentos de pouca complexidade, mas que gastam muito tempo. Nós decidimos fazer”, diz.

Para o supervisor de tecnologia Sédreguy Candido, a solução foi cortar o plano de saúde – o dele sofreu três reajustes em menos de dois anos e passou de R$ 133 para R$ 178, alta de 33%. “Acho que o problema é a carga tributária que incide sobre tudo. As empresas acabam repassando para o cliente, mas o salário não acompanha. É importante ter plano de saúde, a gente nunca sabe quando vai precisar. Estou olhando outros”, afirma.

Energia, transporte e saúde pesam mais

Os preços de produtos e serviços controlados, administrados ou considerados essenciais, como energia, transporte e saúde, subiram mais do que a inflação nos últimos 20 anos, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgado na última semana.

A pesquisa mostra que, de agosto de 1999 a março de 2019, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 240%. A cesta de serviços médicos e hospitalares foi o que mais subiu, acumulando alta de 374% no período. A energia elétrica aumentou 358%, e o transporte público, 352%.

“São mercados fortemente controlados, seja por intervenções nos preços ou por controle sobre a qualidade e o tipo de serviço prestado, gerando um ambiente de competição imperfeita”, diz o estudo.

No mesmo período, os preços de produtos que passaram por inovações tiveram queda. Os televisores ficaram 57% mais baratos, e os microcomputadores tiveram 66% de redução. Já os celulares subiram 132% nos últimos 20 anos, e os automóveis, 44% – ambos os reajustes foram inferiores à inflação.