BRASÍLIA - Uma denúncia de assédio sexual arquivada pela Justiça contra o candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSDB, José Luiz Datena, foi um dos motivos que levou o tucano a dar uma cadeirada em seu adversário Pablo Marçal (PRTB). A confusão ocorreu durante debate promovido pela TV Cultura, na noite de domingo (15).  

O caso tramitou na Justiça de São Paulo em 2019. Na época, Datena comandava o programa Brasil Urgente, que era transmitido pela TV Bandeirantes. A denúncia de assédio sexual foi feita por uma repórter do jornal que interagia com o então apresentador.

De acordo com uma publicação do site Notícias da TV da época, o assédio teria sido praticado em uma confraternização da equipe, em 7 de junho de 2018. Datena teria dito para a jornalista que ela não precisava emagrecer porque já "era muito gostosa".

Ainda segundo a publicação, Datena afirmou teria se masturbado pensando na repórter por diversas vezes e declarou que achava "um desperdício" ela "namorar uma mulher". No mês seguinte, a profissional entrou em licença médica e disse ter enfrentado grave crise de depressão e pânico.

Na época, Datena alegou: "Na comemoração, repeti a ela que ela era muito bonita e que não precisava emagrecer, porque ela já era competente. Tirando isso, todo o resto é mentira, calúnia e delírio".

A denúncia foi protocolada no Ministério Público de São Paulo em 2019, mas foi retirada pela jornalista, em 18 de outubro do mesmo ano, por uma carta protocolada em um cartório de São Bernardo do Campo (SP).  

Com isso, o caso foi arquivado pela Justiça. Datena disse não haver provas contra ele. Depois, a repórter declarou que foi induzida a escrever a carta após um processo de calúnia movido por Datena, mas que as acusações seriam verdadeiras.  

Entenda a agressão de Datena a Marçal

Cerca de 45 minutos antes de levar a cadeirada no debate da TV Cultura, Marçal provocou Datena e se referiu ao adversário como “jack”, gíria comum em presídios para identificar acusados de estupro.  

“Sabe o que eu estou falando, né? Tem alguém aqui que é ‘jack’. Está aqui tirando onda, apoiando censura, mas é alguém que responde por assédio sexual. Essa pessoa dá pena”, acrescentou, sugerindo que Datena “paga milhões” pelo silêncio da repórter que o denunciou.

Nos minutos que antecederam a agressão, Marçal perguntou a Datena quando o adversário iria parar com a “palhaçada” e desistir da candidatura.

Na resposta, o candidato do PSDB chamou o ex-coach de “bandidinho”. Ocupando o tempo de réplica, o candidato do PRTB continuou as ofensas. Em seguida, a situação escalou e Datena saiu de sua bancada com a cadeira em mãos e acertou o adversário.

A situação resultou na paralisação do debate e na expulsão de Datena, que alegou ter “perdido a cabeça” após a referência ao suposto caso de assédio. O candidato do PSDB disse que sua sogra morreu por conta da denúncia e que, por isso, não pôde se conter.

"Ninguém suporta isso”, disse, em referência ao que chamou de “acusação mentirosa”. “Ela [sogra] teve três AVCs e morreu, muito por conta disso. E agora eu achei que devia uma satisfação a ela por ter sido acusado por um canalha desse que ontem mesmo me convidou para tomar um café. E eu me recusei a tomar um café com ele”, disse sobre Marçal.

Na manhã desta segunda-feira, por meio de nota, Datena disse que acusações que Marçal fez diante de milhões de pessoas são graves e "absolutamente falsas”.

“Usando linguagem de marginais, algo que lhe é tão peculiar, feriu minha honra e maculou minha família, já machucada pela perda de um ente querido em decorrência do mesmo episódio agora novamente imputado a mim de forma vil pelo meu adversário”, escreveu Datena.

tucano admitiu que errou, mas ressaltou que de forma alguma se arrepende de ter lançado uma cadeira em Marçal. “Preferia, sinceramente, que o episódio não tivesse ocorrido. Mas, fossem as mesmas circunstâncias, não deixaria de repetir o gesto, resposta extrema a um histórico de agressões perpetradas a mim e a muitos outros”.    

Marçal deixa hospital

Após a agressão, Marçal foi encaminhado a um hospital, de onde já recebeu alta médica, e registrou boletim de ocorrência. Ele deve fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal. 

Por meio de um boletim, o Hospital Sírio-Libanês informou, nesta segunda-feira (16), que o ex-coach foi admitido "após traumatismo na região do tórax à direita e em punho direito, sem maiores complicações associadas".

"Foi avaliado pelas equipes de clínica médica e de ortopedia e está de alta hospitalar", informou a nota, publicada às 11h27.