Belo Horizonte é, sem dúvida, o palco perfeito para sediar um festival que celebre os 150 anos da imigração italiana no Brasil. É o que defende Valentino Rizzioli, presidente da Câmara de Comércio Italiana de Minas Gerais, ao falar sobre a realização do Festival de História (fHist), que, em sua oitava edição, volta-se justamente à celebração dessa centenária comunhão ítalo-brasileira, com atividades e atrações se desenrolando entre os dias 28 e 30 deste mês, nos jardins do Palácio das Artes e Teatro João Ceschiatti.
E a conclusão, explica ele, não é gratuita. Pelo contrário: se sustenta por uma série de fatores, como o fato de o Estado ter sido um dos que mais receberam imigrantes no país desde o início do movimento migratório no final do século XIX, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio Grande do Sul. “Portanto, BH, sendo a capital do Estado, tem inegável protagonismo nesse processo”, examina, animado com a proximidade do evento, cujo pontapé inicial ocorreu na última semana, quando a cidade recebeu um show da cantora italiana Mafalda Minnozzi, que tem forte relação com a música brasileira – ela tem parcerias com artistas como Milton Nascimento e João Bosco, além de ter ficado conhecida pelo trabalho em trilhas de novelas.
Agora, dentre as atividades do fHist que se desenrolam a partir da próxima quinta-feira (28), Rizzioli destaca as mesas de debate, exposições de arte, sessões de cinema, feira de livros e até mesmo aulas de culinária italiana e esgrima.
“Assim como os brasileiros, os italianos valorizam e enaltecem fortemente sua cultura, sua gastronomia e suas tradições populares. Portanto, ao compilar essa diversidade de atividades, tão apreciadas e caras, tanto pela Itália quanto pelo Brasil, o fHist deste ano contribui para fortalecer os laços entre os dois povos, uma vez que é notório que essa convergência de interesses também justifica o sucesso de uma parceria bem-sucedida entre nesse século e meio de presença italiana no Brasil”, argumenta.
O presidente da Câmara de Comércio Italiana de Minas Gerais ainda reflete sobre como a presença desses imigrantes e seus descendentes no Brasil ao longo desses 150 anos trouxe influências que se proliferaram e se frutificaram em todo o país. “A valorização do trabalho, a criatividade nas soluções de mercado, a paixão pela gastronomia, pelas tradições e movimentos culturais populares, são alguns exemplos de onde convergem e se encontram italianos e brasileiros. Por isso, o resultado dessa mistura é uma convivência harmoniosa e mutuamente enriquecedora, em frentes diversas”, assinala, exaltando que, hoje, Brasil e Itália cultivam uma relação amigável, festiva e bem-sucedida.
As cozinhas vizinhas de Minas e Toscana
Um bom exemplo de como Minas Gerais se tornou terreno fértil para as trocas ítalo-brasileiras está na história de Christiane Contigli. “Sou filha da senhora Grazia Massetani, que nasceu em Florença há 90 anos e, com meu pai, veio para Belo Horizonte em 1956”, recorda a ítalo-descendente, orgulhosa da matriarca, que além de psicóloga e professora de italiano, foi a fundadora da Aromi di Toscana, que nasceu do desejo de oferecer ao público um pouco da culinária italiana caseira e tradicional – “que tem sido o elemento agregador das nossas confraternizações familiares”.
Seguindo os passos de sua mãe, Christiane também se desdobra em múltiplas funções. “Sou bióloga, atuo como pesquisadora em políticas públicas e sou sócia da Aromi di Toscana”, expõe, feliz com a oportunidade de levar sua marca para a Feira Gastronômica realizada pelo fHist, que, com tendas dispostas nos jardins do Palácio das Artes, convida o público a degustar iguarias tradicionais do país homenageado enquanto acompanha mesas, debates, palestras e oficinas. “Será uma oportunidade de apresentar nossos produtos para um público que com certeza vai estar interessado na gastronomia italiana, e também na história e nas tradições por trás de cada receita”, anima-se.
Christiane indica que, nos seus preparos, o toque mineiro veio pelas raízes estabelecidas por seus pais no Estado e pela “confluência de sabores e ingredientes que tornaram Toscana e Minas Gerais irmãs na gastronomia”.
Aos curiosos, a ítalo-brasileira dá detalhes da produção que traz para o fHist entre os dias 29 e 30 deste mês. “Produzimos artesanalmente antepastos, entradas, molhos, primeiros pratos, pratos principais, acompanhamentos, sobremesas e licores, seguindo receitas tradicionais da culinária italiana e receitas de ‘famiglia’ exclusivas, oferecendo um cardápio para uma refeição completa, segundo a cultura gastronômica da Itália. Sempre que possível, são utilizadas matérias-primas frescas, livres de agrotóxicos e minimamente processadas, de acordo com a disponibilidade sazonal, preferencialmente obtidas de pequenos produtores locais”, detalha.
“Não são usados conservantes, corantes ou adoçantes artificiais e a produção é feita em pequena escala. Por isso, os produtos da Aromi di Toscana são oferecidos congelados ou para consumo imediato, com opções de pronta entrega e outras somente por encomenda”, complementa.