A noite desta quarta-feira (27) tem jeito de despedida. É quando o BDMG Cultural, que deve ser extinto em 2025 após controversa decisão do conselho do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, realiza seu provável último ato: o show do músico Marcos Ruffato, que, ao lado de Itiberê e Mariana Zwarg, pai e filha, encerra a temporada de shows com os vencedores do tradicional 23º Prêmio BDMG Instrumental.

A apresentação, com ingressos gratuitos, ocorre às 20h, no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH).

Natural de Uberaba, no Triângulo Mineiro, Ruffato foi anunciado um dos contemplados pela honraria em maio. Outros três músicos também foram agraciados, o baterista Arthur Rezende, o violinista Guilherme Pimenta e o clarinetista Felipe Rossi, que já realizaram apresentações tanto em Belo Horizonte quanto em São Paulo – como prevê a premiação. 

Todas essas atividades – do anúncio dos vencedores aos shows celebrativos subsequentes – aconteceram em meio a um clima de incerteza e tensão, afinal, já em abril funcionários, servidores e agentes da cultura foram pegos de surpresa com o anúncio da decisão do banco público do Estado de encerrar as atividades do seu braço cultural. A informação circulou, inicialmente, em um comunicado interno.

Diante desse cenário, o clima de celebração ganha contorno de lamento e protesto. Na apresentação da noite desta quarta, por exemplo, mais que celebrar a conquista, Ruffato homenageia os trabalhadores da cultura e ressalta a importância do equipamento de reconhecida atuação no campo da música e das artes visuais.

“Cada nota do show será de gratidão e carinho pelas trabalhadoras e trabalhadores da cultura, especialmente os que batalham pelo BDMG Cultural, que deixa um riquíssimo legado à cultura mineira”, expõe o artista, que já havia vencido a premiação anteriormente, em 2016.

“A partir dali, comecei a me perceber como compositor. Esse processo acabou me levando a iniciar a produção do meu primeiro álbum autoral, Vata, um trabalho de canções que contou com a participação de um grande número de musicistas de Minas Gerais e de outros lugares”, estabelece Ruffato, que realiza um repertório de músicas autorais, além de composições de Itiberê Zwarg e uma releitura especial de Surfboard, de Tom Jobim.

Sobre os músicos que o acompanham no espetáculo, o artista lembra ter tido a oportunidade de participar duas vezes do projeto “Oficina Musical” do Itiberê – “e ambas foram marcantes na minha formação musical”. Já Mariana Zwarg, recorda ter conhecido ao assistir shows e gravações de seu pai. “É também uma musicista gigante. Em 2021, lancei o single Manhã Bravia e a convidei para fazer as flautas”, informa ele.

Além dos convidados, Ruffato, que assume o violão, é acompanhado pela banda formada por Breno Mendonça, nos saxofones tenor, soprano, flauta e berimbau, Igara Silva, no piano, Marcela Nunes, na flauta em dó e flauta em sol, Thamiris Cunha, na clarineta e clarone, e Yuri Velasco, na bateria.

Entenda a crise envolvendo o BDMG Cultural

Reviravoltas pautaram os últimos meses do BDMG Cultural, cujas ações têm sido marcadas por um clima de apreensão diante das incertezas em torno da continuidade de suas iniciativas em 2025.

A extinção da entidade foi anunciada em abril, causando surpresa a artistas, funcionários e servidores e motivando uma série de protestos de pessoas ligadas à cultura, que contestam a decisão do conselho do banco público estadual e alegam que a ação representa uma “caça às bruxas”: uma suposta retaliação a posicionamentos políticos de funcionários e servidores do lugar.

Após a repercussão negativa da medida, porém, Jefferson da Fonseca Coutinho, presidente da Fundação de Artes de Ouro Preto (Faop), ainda na expectativa de ser empossado presidente do BDMG Cultural, disse, em entrevista a O TEMPO, em 25 de abril, que ações e programas antes encabeçados pela entidade seriam continuados, sugerindo que a Galeria de Arte poderia passar a ser administrada pela Faop. 

Coutinho havia sido escolhido pelo Conselho de Administração do BDMG. A expectativa era que ele fosse o responsável pela condução da transição na instituição para realinhar os investimentos do banco e fortalecer a cultura no Estado.

Contudo, em outro capítulo envolvendo a crise em torno do encerramento das atividades da instituição, ele renunciou à presidência da entidade menos de um mês depois, em 16 de maio. Ele havia sido nomeado oficialmente para o cargo há menos de duas semanas. Com o movimento, a entidade voltou a ser presidida interinamente pela diretora financeira Larissa D’Arc, até que foi assumida por Luiz Felipe Braga Bastos, que ocupou o cargo de “diretor liquidante” do BDMG Cultural.

Questionado pela reportagem de O TEMPO sobre a possibilidade de as iniciativas lideradas pela entidade serem continuadas, ainda que sob outra chancela, Bastos informou que o equipamento “cumprirá, até o mês de dezembro, todos os projetos e atividades propostos para o ano de 2024, conforme o planejamento”. 

Quanto as razões para a extinção do órgão, o diretor-liquidante se limitou a informar “as decisões seguem determinação do Conselho de Administração para a dissolução do Instituto”. Já em relação à realização de um inventário e posterior destinação do acervo de artes visuais e documentos históricos pertencentes, hoje, à Galeria de Arte BDMG Cultural, ele disse que “todas as providências estão sendo tomadas com relação à destinação do acervo, documentação e patrimônio”, sem dar mais detalhes.

Grupos buscam respostas e tentam reverter decisão

Dias antes da renúncia de Jefferson Coutinho do cargo de diretor do BDMG Cultural, uma audiência pública ocorreu na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em que parlamentares buscaram explicações para a decisão do conselho do banco de encerrar as atividades da entidade cultural. A cerimônia foi marcada pela ausência de respostas de representantes do governo do Estado frente aos questionamentos.

Durante a audiência, a deputada Lohanna (PV), vice-presidente da Comissão de Cultura da ALMG, propôs estratégias para fazer frente a ameaça de encerramento do equipamento.

Uma das ações mencionadas por ela seria impetrar um mandado de segurança pedindo a reversão da decisão do Conselho do banco, que, segundo ela, não consultou a Associação dos Servidores do instituto, configurada como uma associação que tem como sócios e fundadores o BDMG e a Associação dos Funcionários do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (AFBDMG).

Até o momento, porém, não há informações sobre desdobramentos de quaisquer ações que tentem reverter a dissolução do equipamento.

SERVIÇO:
O quê. Marcos Ruffato convida Itiberê e Mariana Zwarg no encerramento do 23º Prêmio BDMG Instrumental no CCBB BH
Quando. Nesta quarta-feira (27), às 20h
Onde. Teatro I do CCBB BH (praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. Gratuito. Ingressos disponíveis no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria física do CCBB BH.