Belize é um país da América Central às margens do mar do Caribe. E é também o nome de uma atriz que é certamente um dos grandes destaques da teledramaturgia brasileira em 2024: Belize Pombal. “Olha, eu creio que não (o nome não tem relação com o país). Talvez. Não sei... Foi uma ideia do meu pai, e eu fui ganhando amor por esse nome, por ser diferente. Criança tem essa coisa de não gostar muito de ter nome diferente, às vezes. Hoje em dia eu gosto bastante. Mas de fato é o nome de um país”, comenta a artista paulistana, de 38 anos.
Apesar de ter uma longa estrada artística, Belize começou a ganhar projeção nacional nos últimos meses, por causa de seu trabalho em duas das produções mais celebradas da televisão e do streaming neste ano: o remake de “Renascer”, atual trama das nove da Globo, e a série “Justiça 2”, do Globoplay. Aliás, todos os 28 episódios da trama já estão disponíveis na plataforma. Belize celebra a atual fase profissional. “Com certeza é um momento bonito, potente, em que a possibilidade também de vivenciar essas personagens, com o espaço e complexidade, tem sido muito gratificante”, festeja.
Belize Pombal estava em intercâmbio no Canadá quando fez um teste por vídeo para Geíza, de “Justiça 2”, escrita por Manuela Dias. A personagem é uma manicure que vive na comunidade Sol Nascente, em Ceilândia (DF), e acaba matando um homem para defender Sandra (Gi Fernandes), sua filha. Além de Belize, Murilo Benício, Nanda Costa e Juan Paiva são os protagonistas da história. Seus personagens, Jayme, Milena e Balthazar, respectivamente, são presos no mesmo dia e libertados sete anos depois. Eles vão em busca de uma justiça que vai além da lógica dos processos judiciários.
O texto da série, assim como toda a equipe envolvida, foi um dos fatores que mais atraíram a atriz para embarcar nessa iniciativa. “E também é uma personagem tão rica, com tantas camadas. Sem contar que é um projeto que já tinha uma história anterior tão potente (‘Justiça 1’ foi ao ar em 2016, com outras tramas), com personagens complexas, com histórias muito ricas, com uma beleza artística, um cuidado, uma delicadeza em tudo que foi feito. Isso alimenta muito o nosso desejo de participar, de estar junto contando aquelas histórias. Fico muito feliz de fazer parte de ‘Justiça 2’”, ressalta Belize, que tem no currículo trabalhos como a quarta temporada da série do GNT e do Globoplay “Sessão Terapia”, dirigida por Selton Mello, “Irmãos Freitas”, série sobre a vida do lutador Acelino Popó de Freitas, dirigida por Walter Salles, Sérgio Machado e Aly Muritiba, e o longa-metragem “Mar de Dentro”, dirigido por Dainara Toffoli.
Recorde
Aliás, assim como a primeira temporada, “Justiça 2” é um fenômeno de público e crítica. Porém, a sequência foi além e atingiu recorde no Globoplay. Considerando o consumo de todas as séries do catálogo da estreia ao 30º dia de publicação, a produção, escrita por Manuela Dias e com direção artística de Gustavo Fernández (também diretor de “Renascer”), é a série mais consumida da plataforma.
Para Belize Pombal, o “êxito” da nova temporada se deve não só ao sucesso da primeira “Justiça”, como da narrativa da própria autora. “É um projeto que já tinha construído uma relação anterior com o público, pelo fato de ‘Justiça 1’ ter sido incrível e impactante. Então, isso conta bastante, além de toda a expectativa que gera. E a qualidade mesmo da produção, da equipe envolvida, o refinamento empregado. Sem contar o texto da Manuela, que é muito comprometido com o ser humano, com as questões contemporâneas e sobre as quais a gente precisa falar, dar atenção e refletir. É um texto sempre com humanidade, com amor, mas com reflexões críticas contundentes. A gente precisa disso. E digo isso não só como alguém que teve a alegria de participar, mas como espectadora, porque eu também adoro assistir. O conjunto de todos os esforços faz com que ‘Justiça’ tenha a força que tem”, analisa.
Apesar de ter gravado “Justiça 2” antes, a primeira aparição para o grande público de Belize Pombal foi em janeiro, quando surgiu nos capítulos iniciais de “Renascer”, na pele de Quitéria, a mãe de Maria Santa (Duda Santos), moça ingênua que se apaixona e se casa com José Inocêncio (Humberto Carrão/Marcos Palmeira), o protagonista do folhetim de Bruno Luperi.
Sendo submissa e leal ao marido, Venâncio (Fábio Lago), Quitéria não questiona suas decisões, mas também não o perdoa por ter expulsado de casa Marianinha, a primogênita. A interpretação visceral de Belize impactou os telespectadores, assim como vem acontecendo agora na série do Globoplay, em que interpreta Geíza.
“São duas mães lidando com questões da maternidade, mas cada uma com o seu próprio universo. São duas mulheres, antes mesmo de serem mães. Duas pessoas vivenciando ali questões humanas muito profundas e desafios grandes. Mas, ao mesmo tempo, em diálogo com a realidade de cada uma delas, que são realidades diferentes. Tem coisas em comum, mas também tem peculiaridades. São mulheres que estão em diferentes lugares do Brasil, em tempos diferentes, em relações diferentes, e isso acaba trazendo elementos específicos para cada história”, reflete.
Justiça para Geíza?
Questionada sobre o desfecho de sua personagem, Belize Pombal não dá spoilers e comenta que a justiça pode ser relativa. “Acho que essa visão de o final ser justo ou não vai depender muito da perspectiva de cada um. Eu acredito que haja muita potência e beleza na história dessa personagem, do início ao fim. E amor também, já que é uma mulher muito movida pelo amor pela filha e vai descobrindo também força nela mesma apesar dos pesares e dos desafios que ela enfrenta. Então, se há justiça ou não pra Geíza no final, eu acho que vai depender muito da perspectiva de cada espectador”, opina.
“Uma atriz que canta e compõe”
Criada na zona Norte de São Paulo, Belize Pombal conta que o desejo da vida artística começou a se manifestar quando ela tinha por volta dos 6 ou 7 anos. Aos 11, iniciou os estudos em teatro e canto coral na escola que frequentava. “Foi algo que foi amadurecendo com o tempo. Algumas pessoas me inspiraram com certeza, e foi um processo que foi acontecendo até eu entender de fato esse caminho como um caminho profissional”, frisa a artista, que se formou na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo.
Em seu perfil no Instagram, ela se define como “uma atriz que canta, compõe, cria textos e ama o mar!”. Belize chegou a fazer alguns trabalhos mesclando a interpretação e o lado musical, como a peça-filme infantil “Fulaninho e Menininha”, em que foi responsável pela dramaturgia e algumas composições, além do espetáculo infantojuvenil “Os Coloridos”, do grupo Os Crespos – coletivo teatral que mantém uma pesquisa cênica e audiovisual, composto por artistas negros. Nesta última produção, ela concebeu a ideia original e a composição das músicas. No entanto, apesar de gostar muito de cantar e compor, a artista não tem conseguido se dedicar ultimamente tanto a essas áreas, embora tenha alguns projetos engatilhados, um, inclusive, com produção musical do cantor e compositor baiano Bruno Capinan.
Sobre o movimento que tem colocado artistas negros em posição de destaque nas produções do audiovisual, Belize Pombal acredita que muita coisa evoluiu, mas ainda há bem mais a se fazer. “Eu acho fundamental. A gente está em 2024, e em algum momento isso tinha que acontecer. É um processo que vem sendo nutrido por muitos artistas que vieram antes e que foram abrindo caminho. Mas o fato de isso ainda ser uma notícia e gerar espanto, ou seja, um artista negro ser protagonista e ter destaque, é um ponto pra gente prestar atenção, porque de alguma forma isso revela e denuncia quanto trabalho ainda tem a se fazer”, salienta.
Belize Pombal acabou de filmar “Vítimas do Dia”, longa-metragem produzido pelo novo Núcleo de Filmes dos Estúdios Globo, com direção de Bruno Safadi e que tem no elenco Jéssica Ellen, Guilherme Piva e Amaury Lorenzo (ator mineiro que se destacou na novela “Terra e Paixão” na pele de Ramiro). “É uma história bem forte, diferente das que eu fiz agora. É uma personagem em outro contexto. É um processo bem intenso, e fiquei muito feliz de ser dirigida pelo Bruno Safadi. Acho que vai ser um filme forte e bonito. Ainda não tem data pra estrear”, contou.