“Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro” fez história ao se tornar o primeiro longa-metragem de animação produzido em Minas Gerais. Um ano e meio depois, os mesmos realizadores alcançam outro feito inédito, como responsáveis pela primeira série mineira de animação infantil a chegar a um grande conglomerado de mídia internacional. “Cosmo, o Cosmonauta” estreia nesta segunda-feira, simultaneamente na América Latina, no canal Cartoonito e na plataforma de streaming Max, ambos ligados à Warner.

Quatro dias antes, numa sala de cinema do Minas Tênis Clube, dubladores e equipe técnica se reuniram para celebrar esse momento especial do formato no Estado. E também para prestar homenagem a Guilherme Fiuza, diretor da série – ao lado de Eduardo Damasceno – e de “Chef Jack”, falecido no mês passado, após sofrer um enfarte. “Ele havia entregue a série pronta um mês e meio antes de morrer”, afirma Luiz Fernando Alencar, produtor e sócio-diretor da Immagini Animation Studios.

“Dá um aperto no coração, mas ao mesmo tempo um quentinho ao ver esse projeto que ele amava tanto aí, funcionando”, ressalta a coordenadora de produção Taísa Campos, lembrando que, devido ao jeito meio ranzinza de Fiuza, ele se identificava principalmente com um Caracol, um dos vários personagens que cruzam o caminho do solitário astronauta Cosmo, que vagueia pelo universo em busca de um amigo alienígena. O personagem é baseado no quadrinho “Cosmonauta Cosmo!”, de Damasceno e Luís Felipe Garrocho.

“Fiuza se encantou com a história e os personagens. Imediatamente ele viu ali uma obra com muito potencial para ser adaptada no formato de série de animação para o público infantil. A partir daí atuou constantemente para tornar a série uma realidade”, registra Alencar. O diretor também era presidente do Sindicato da Indústria do Audiovisual de Minas Gerais e um combativo defensor do fomento à produção cinematográfica no Estado. O universo infantil já o havia fisgado com a adaptação de “O Menino no Espelho”, lançada em 2014.

“Transformar o quadrinho em animação era um sonho mais do Guilherme Fiuza do que nosso e ele correu atrás por anos até finalmente conseguir. Fico muito feliz que pudemos fazer esse processo todo com ele até o fim”, assinala Damasceno. Quando criou “Cosmo”, ao lado de Garrocho, não era uma preocupação dele se o quadrinho iria se conectar ou não com o público. “Não acreditamos que seja um bom critério pra criar coisas. Queríamos algo que não subestimasse a capacidade do público infantil de entender assuntos emocionalmente complexos”.

A participação de mineiros não se limita aos realizadores principais de “Cosmo”. Da música de abertura, criada e cantada pela banda Pato Fu, ao time de dubladores, a contribuição de conterrâneos foi majoritária. A voz de Cosmo, por exemplo, aparentemente de um menino, é de uma atriz adulta, Renata Corrêa. Taísa Campos lembra o desafio que representou essa escolha, já que trabalhar com um casting infantil implicaria numa alteração de elenco em caso de uma segunda temporada, devido às mudanças naturais na voz de uma criança.

“Ao optar por uma atriz adulta, percebemos a intenção de continuidade da série desde o momento inicial da seleção, com a escolhida sendo a Renata Corrêa, que tem um talento enorme em produzir vozes de crianças”, detalha a coordenadora de produção. Por falar em continuação, tudo irá depender do êxito dos primeiros episódios. “As histórias para uma segunda temporada existem. Então, se os planetas se alinharem, não faltarão histórias”, sublinha Garrocho. Nesse quesito, todo mundo também aposta numa ajudazinha de Fiuza lá do céu. 

Continuação de "Chef Jack"

Enquanto a série “Cosmo, o Cosmonauta” chega à telinha, outra frente de trabalho na Immagini Animation se debruça sobre a continuação da saga gastro-aventuresca de Chef Jack, já em fase de roteirização. Com o título “Chef Jack, a Ilha do Capitão Cook”, o segundo longa-metragem terá a direção de Robert Keese, um dos roteiristas do primeiro filme e que também está nos créditos da adaptação, ainda inédita, de “O Astronauta”, de Mauricio de Sousa.

“Após a partida inesperada do Guilherme Fiuza, naturalmente houve um enorme vazio em nossa equipe. A tarefa de encontrar um novo diretor não foi fácil. Tínhamos que achar um perfil que tivesse experiência e, ao mesmo tempo, uma boa sinergia com o projeto, além de uma personalidade agregadora com nossa equipe. Keese conhecia bem o projeto e tinha um carinho enorme por ele, além da experiência com direção e roteiro de animação”, revela Alencar.

Para o produtor-executivo Giordano Becheleni, tantos projetos ilustram o momento atual da animação mineira. “Em nosso Estado temos profissionais talentosos e que amam trabalhar com desenho de animação. Atualmente não precisamos mais recorrer a pessoal de fora para produzir uma obra completa de animação. Às vezes até ocorre de contratar gente de fora, mas porque o mercado de animação mineiro está aquecido e a demanda por profissionais de nosso Estado está muito grande”, comemora.