Quando o espetáculo “Um Jardim para Tchekhov”, com texto inédito de Pedro Brício e direção de Georgette Fadel, anunciava sua temporada de estreia no CCBB BH, a atriz Maria Padilha reconhecia que chegava à cidade com “a expectativa alta” e vontade de “fazer bonito”.

Na trama, a carioca interpreta a protagonista, uma consagrada e desempregada atriz de teatro chamada Alma Duran, que sonha em montar o clássico “O Jardim das Cerejeiras”, do autor russo que empresta nome à peça e que, em dado momento, surge como uma entidade, borrando os limites entre realidade e fantasia, e trazendo luz – e, consequentemente, expondo sombras – à vida da protagonista, de sua aluna de teatro, de sua filha e seu genro.

Agora, na quarta e última semana de apresentações da peça na cidade, que inclui atividades extras, como uma palestra sobre o processo criativo no sábado (14), às 15h, as falas de Padilha – como, por vezes, as de sua personagem – soam quase mediúnicas, com um quê de epifania. Tanto que, além das experiências para lá de auspiciosas vividas pelo elenco na capital mineira, a temporada de “Um Jardim para Tchekhov” repercutiu também no amadurecimento da própria peça.

“A gente teve a alegria de estrear em Belo Horizonte, que tem uma plateia muito, muito acolhedora, que fez muito bem ao espetáculo, que estava saindo do forno depois de três meses de ensaios, que fizemos no Rio”, estabelece Erom Cordeiro, que interpreta Otto, um delegado de polícia casado com a filha de Alma Duran. Por isso, diz, a temporada está sendo gratificante. “É sempre bom voltar com um espetáculo de teatro para BH”, prossegue ele, lembrando que esta é a quinta vez que ele apresenta uma peça na cidade. A última vez foi 2014, com a montagem “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”, que passou pelo Cine Theatro Brasil Vallourec. 

Agora, no CCBB BH, Erom elogia a proposta de realização de sessões nas segundas-feiras. “Tinha tempo que eu não fazia peças nesse dia”, reflete, lembrando que, durante um período, no Rio de Janeiro, onde ele vive, algumas temporadas também incluíam a segunda-feira. “Era ótimo porque, se eu não estava em cartaz, era o momento de assistir meus colegas”, aponta, dizendo perceber que o fenômeno se repete na capital mineira. O ator ainda sublinha que essas sessões têm ficado cheias, até lotadas, atraindo uma plateia muito interessada.

As reflexões dele são ratificadas por Olívia Torres, que vive a médica Isadora, casada com Otto, que lida com uma crise no casamento ao mesmo tempo que abre as portas de seu apartamento para acolher sua mãe, a atriz em decadência que protagoniza a história. Para ela, aliás, não havia lugar melhor para acolher a estreia da montagem. 

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“Eu já tinha ido para Belo Horizonte uma vez, há muitos anos, fazer um final de semana com a montagem ‘Além do que os nossos olhos registram!’ (em 2018). E, mesmo rapidinho, já tinha percebido como o público de BH responde bem, é interessado”, rememora para, em seguida, garantir que, desta vez, não foi diferente. “Tivemos uma troca muito boa e essa passagem tem sido muito gostosa. Além disso, está sendo interessante estar em um espaço grande”, pontua, citando que os teatros do CCBB do Rio e de São Paulo são mais compactos. 

Comparando as sessões com uma partida de vôlei, em que o jogo tende a crescer quando o time está entrosado e a torcida empurra para cima, Olívia brinca que, em algumas “partidas”, encontrava uma audiência com o riso mais solto, em outras, menos. “E isso nos permitia imprimir outro tom. A gente podia decidir amenizar no humor e dar uma carga mais tensa ou, talvez, embarcar em uma proposta de mais leveza. E tudo isso, decidimos ali, em cena, sem precisar trocar uma palavra, porque já estamos nos entendendo muito bem”, conta, animada com a dinâmica do teatro, que ela reencontra após um hiato de cinco anos longe dos palcos.  

Combustível

Após a estreia na capital mineira, “Um Jardim para Tchekhov” segue para o Rio, com estreia no fim deste mês, onde fica em cartaz por cinco semanas, de quarta-feira a domingo. Em seguida, vai para São Paulo, onde permanece pelo mesmo período. Em janeiro, por fim, a peça chega a Brasília, para quatro semanas de apresentações.

Para dar conta da empreitada, a boa experiência na temporada de estreia serve como combustível. É o que defende Olívia Torres.

Assim como Erom Cordeiro, ela considera que, a cada série de apresentações, o elenco descobria, com o público, nuances, humores e delicadezas que poderiam ser exploradas. “E isso nos deixa mais animados, nos dá a perspectiva de dividir essa experiência, esse aprendizado com outras plateias, em outros lugares, onde também vamos descobrir coisas novas”, arremata.

SERVIÇO:
O quê. Últimas sessões do espetáculo “Um jardim para Tchekhov”
Quando. De sexta-feira (13) a segunda (16), às 19h. Palestra no sábado (14), às 15h
Onde. Teatro I do CCBB Belo Horizonte (praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. As entradas para a peça custam a partir de R$ 15 (meia-entrada), enquanto a palestra é gratuita. Ingressos disponíveis no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do centro cultural.