A cena se passa em Colares, no Pará, em setembro de 1977. Do céu da cidade amazônica, luzes pairavam no ar e tomavam conta do local, que passou a conviver com fenômenos extraordinários que marcaram a história da ufologia em todo o planeta. Diante dos aterrorizantes relatos, os quais incluíam até mesmo supostas manifestações que sugavam o sangue das pessoas, a Força Aérea Brasileira (FAB) decidiu investigar a fundo o que estava acontecendo. Iniciava-se a Operação Prato.
Até hoje, esse é um dos episódios mais documentados da história da pesquisa por Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs). Supõe-se que todo o processo gerou mais de 2.000 páginas de relatórios oficiais. E em busca de investigar o ocorrido e contar como os moradores de Colares e região foram impactados pelo fenômeno e ações dos órgãos governamentais que o podcaster Andrei Fernandes, de “Mundo Freak”, juntou-se a Ivan Mizanzuk, de “Projeto Humanos”, para a produção do mais novo podcast da Globo, “Operação Prato”. A obra, que tem estimativa inicial para dez episódios, estreia no Globo Podcasts e nas melhores plataformas de áudio nesta terça-feira (24), tendo periodicidade semanal.
Para além do lado místico que possa envolver a temática, o projeto de Andrei Fernandes é um convite para entender como uma comunidade foi e ainda é impactada por aquela série de aparições de luzes. Mais do que a discussão sobre o fenômeno ufológico, “Operação Prato” é um podcast sobre pessoas, como o comunicador faz questão de destacar.
“Nossa proposta não é desvendar se estamos sendo visitados por extraterrestres, como muitos podem achar inicialmente quando veem o título do podcast. Nosso trabalho é falar sobre pessoas, tanto sobre as pessoas impactadas, quanto quem pesquisou tudo o que ocorreu naqueles meses. Vamos contar toda a história da Operação Prato, mostrando tudo o que aquilo impactou e ainda gera impacto”, aponta Andrei.
Para tal, Andrei mergulhou no cotidiano da cidade durante 21 dias no final de 2023. Naquele período, ele buscou conversar com moradores e entender melhor a percepção deles daquele fenômeno. Essa experiência lhe deu um novo olhar, que ele e a produção do podcast passarão ao longo dos episódios.
“Essa pesquisa de campo me marcou profundamente. Nasci no Rio de Janeiro e me mudei para São Paulo aos 20 anos. Ou seja, sou do Sudeste. Entrar em contato com aquelas pessoas foi mágico. Quando falamos de floresta aqui, falamos de Mata Atlântica. E são situações diferentes. São situações de árvores de mais de 10, 20, 30 metros... É bem intimidador e impactante. Fui para locais que mal tinham energia elétrica, isso hoje. Se anoitecer e eu não souber onde estou indo, me perco. E eu me coloquei no lugar do que aquelas pessoas viveram em 1977. Encontrei pessoas muito reais, que foram e ainda são impactadas. Tem gente que até hoje está traumatizada”, explica Andrei.
Para além da imersão na realidade dos moradores de Colares e região, a obra vai dialogar com a pesquisa junto a fontes anônimas e oficiais. Outro grande trunfo de “Operação Prato” é recontar todo o trabalho já feito por ufólogos de renome, como Ademar José Gevaerd e Marco Petit, que ajudaram a difundir ainda mais o caso em meados da década de 1990.
“Eu acredito que a pesquisa que a gente fez vai dar um olhar para a Operação Prato, já que usamos novas ferramentas, como machine learning, o que trouxe várias estatísticas que algumas pessoas não fizeram outrora, porque não tinham acesso. Vamos trabalhar também com muitas fontes, algumas anônimas, mas cruciais para a investigação. Isso tudo aliado a muitas ferramentas, como a Lei de Acesso à Informação. Quem trata sobre a Operação Prato é bem apaixonado. Isso serve como combustível para o start, que fique claro. Sem os ufólogos não teríamos nada. Mas isso tem contaminação e esvaziamento. Por isso, quero deixar claro que vamos fazer um podcast jornalístico”, explica Andrei.
E em dado momento da obra, Andrei mostrará a importância da acessibilidade a essas investigações. Essa é outra das motivações que o guiou ao longo do projeto. “Nesse podcast, contamos o processo que a gente levou para chegar ao material. A ideia geral é que é mostrar que qualquer investigação nesta temática é muito difícil. Além do tempo de distância do fato, pois muitos podem sequer existir, temos que falar que foi na época da ditadura. Teoricamente nunca deveríamos saber que isso existiu, já que foi uma operação da FAB naquele período. Estamos trabalhando com o melhor que conseguimos. Vamos levantar a bola de que esse material precisa estar acessível. A gente sabe que a aeronáutica tem mais material do que eles falam que têm”, completa.
Disponível na Globo Podcasts e nas plataformas de áudio, ‘Operação Prato’ tem dez episódios iniciais planejados - mas Andrei garante que tem material até mesmo para uma segunda temporada -, com novas publicações às terças-feiras. Produzido pela Paratopia Podcasts, o projeto é idealizado e apresentado por Andrei Fernandes e dirigido por Ivan Mizanzuk.
O que foi a Operação Prato?
A Operação Prato foi uma missão militar que teve como objetivo principal investigar uma série de avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs) na região de Colares, no Pará. A população local relatava encontros com luzes intensas, objetos metálicos e até mesmo seres de aparência humanoide. Os casos mais comuns envolviam o fenômeno conhecido como "chupa-chupa", em que as pessoas sentiam queimaduras e acreditavam que estavam sendo sugadas por algum tipo de energia.
Para desvendar o mistério, a FAB enviou uma equipe de especialistas para a região. Durante meses, militares, médicos e cientistas coletaram dados, entrevistaram testemunhas e documentaram os fenômenos. O resultado foi um acervo impressionante de fotos, vídeos e relatos que, até hoje, alimentam debates e teorias sobre a existência de vida extraterrestre.
Um dos pontos mais controversos da Operação Prato foram os relatos de avistamentos de seres não-humanos. Testemunhas descreveram criaturas com características físicas inusitadas, como olhos grandes e brilhantes e pele pálida. Embora essas informações sejam difíceis de confirmar, elas contribuíram para fortalecer a crença de que a região estava sendo visitada por seres de outros planetas.
A Operação Prato foi encerrada sem uma explicação definitiva para os fenômenos observados. As evidências coletadas nunca foram totalmente compreendidas. Até hoje, o caso continua sendo um dos mais famosos e controversos da ufologia mundial, atraindo a atenção de pesquisadores e entusiastas do tema.