Fabrício Carpinejar, escritor e colunista de O TEMPO, se volta para a geração com mais de 40 anos em seu novo livro, “Se Eu Soubesse”, obra que ele lança nesta quinta-feira (26), às 19h30, no Sempre Um Papo, em Belo Horizonte. 

Mais do que falar com aqueles que já ultrapassaram as quatro décadas de idade, o autor de 51 anos mergulha no ponto de vista dos cuidadores, abordando a visão de uma geração que ele chama de “sanduíche”, que precisa se equilibrar entre o cuidado com os filhos e com os pais idosos. “É um malabarismo, porque você precisa exercer essa atenção, mas também conciliar com a carreira e com os relacionamentos. Não sobra tempo para mais nada”, observa.

O livro também se torna um registro de uma geração que viveu um tempo analógico e que, na opinião do autor, não existirá mais. “O que a gente pode concluir é que quem tem 40 ou 50 anos será mais parecido com seus pais do que com os filhos, porque há uma quebra de comportamento em relação a quem cresceu no ambiente virtual. Eles não têm a mesma saudade de casa, o mesmo apego aos costumes. Todo lugar é lugar. Existe uma adaptação maior, uma mobilidade”, pontua Carpinejar. 

O escritor explica ainda que, embora o livro tenha uma prescrição “para maiores de 40 anos”, ele pode ser lido também por aqueles que têm menos idade, se tornando uma ferramenta para que os filhos conheçam e compreendam melhor os pais.

“Acaba sendo uma forma maravilhosa para entendê-los, porque existe uma distância abrupta de experiências”, afirma. Ele projeta ainda que a própria questão do cuidado com os pais não deve se repetir para as novas gerações, já que há mais cuidado com a saúde. 

“Estamos nos preocupando com o nosso futuro, já que temos esse antecedente de cuidar dos pais. Não sei se a nossa geração terá uma velhice mais independente, é uma possibilidade porque os filhos estão sendo criados para o mundo, não para a família. Nós já fomos criados para a família, não para o mundo”, diz.

Novos tempos

A relação com o luto e com a saudade também são outros temas abordados por Carpinejar em “Se Eu Soubesse: Para Maiores de 40 Anos”. Na obra, ele observa transformações na forma como as pessoas têm lidado com a morte. “Somos de uma geração que enterrava seus mortos em túmulos na terra, mas a próxima será a da cremação. Ou seja, isso já é uma mudança de comportamento, uma alteração de mentalidade. Chegará a um ponto em que não teremos mortos para visitar porque eles viraram cinzas depositadas em algum local preferencial. E eu trago essas perspectivas novas e inéditas que não vinham sendo discutidas”, aponta.

A mudança nos relacionamentos é outro tema no qual Carpinejar se debruça na obra. “O que eu defendo no livro é o combate ao amor romântico, ao amor da renúncia, da privação, da desistência. É impraticável hoje um relacionamento em que você pare de trabalhar para viver em função do outro, ou largue sua cidade para viver a existência do outro”, acredita. “Quem tem 40 ou 50 anos já percebeu que o grande objetivo do amor é ter paz e não ter formigamento, vertigem ou borboletas no estômago. Não se suporta mais um casamento acomodado, casamento com boicote, baseado em reclamações. É uma geração que conheceu o divórcio, se casou novamente e não acredita mais no conto de fadas de felizes para sempre, mas sim no felizes um dia de cada vez”, completa.

Para Carpinejar, esses são ensinamentos preciosos. “A intimidade, a construção, a amizade, a admiração são fundamentais. Você vai querer que esteja ao seu lado quem você admira, quem é um exemplo, quem não incomoda, quem não vaia os seus sonhos. Existe uma preferência pela saúde emocional. É melhor sozinho que mal acompanhado”. 

Embora discorra sobre temas que vão do amadurecimento ao luto, o autor reconhece que o maior ensinamento de todos - aquele que gostaria de ter tido antes dos 40 - é em relação à ansiedade. “A precipitação de tomar atitudes contrárias à minha felicidade. Se eu pudesse ter menos culpa, porque a precipitação vem com a culpa e a impossibilidade de recuar. Ou seja, se tu tem, tu avança porque acha que não pode recuar. Permanece num relacionamento e pensa em tudo que fez para chegar ali, mas não em tudo que está perdendo dali por diante”, exemplifica.

Entender as várias linguagens do amor também é outro aprendizado valorizado por Carpinejar. “Quando você entende que as pessoas têm percepções de amor diferentes das suas, você se torna um poliglota do amor. Antes eu cobrava dos outros o que eu fazia, eu pedia, em contrapartida, o que eu efetuava. Um exemplo, eu fazia um jantar para minha mãe, mas ela não ficava feliz com o jantar, ficava feliz com a cozinha arrumada depois dele, porque ela queria o jantar e o ambiente perfeito como novo. Então hoje, quando eu vou fazer uma surpresa pra ela, eu cozinho e lavo. Isso é uma outra percepção”, explica o autor, que resume a obra da seguinte forma: “Tudo que aconteceu de errado em minha vida foi lição. Tudo que aconteceu de bom foi gratidão. E, tudo que não aconteceu não era para mim. Foi proteção”. 

Serviço

O quê. Fabrício Carpinejar lança “Se Eu Soubesse: Para Maiores de 40 Anos”, no Sempre Um Papo 
Quando. Quinta-feira (26), às 19h30
Onde. Auditório da Cemig (av. Barbacena, 1.200, Santo Agostinho)
Quanto. Entrada gratuita