Com 18 anos de atividades ininterruptas nas artes cênicas, o grupo mineiro O Trem - Companhia de Teatro soma 15 peças encenadas que acumulam mais de 10 prêmios e 38 indicações a prêmios. No caminho, ainda há espaço para a produção de diversas mostras dedicadas ao fazer teatral e um festival internacional de artes. Um trabalho contínuo e resiliente que, a partir desta sexta-feira (10), ganha uma merecida mostra celebrativa reunindo cinco espetáculos infantis originais da trupe, que abordam temas como consciência ambiental, silenciamento feminino, segurança doméstica e o incentivo à leitura frente aos avanços tecnológicos.
As apresentações se estendem até o dia 10 de fevereiro, sempre no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH).
Abrindo a programação, a montagem “A Fantástica Floresta”, que recebeu prêmio de Melhor Figurino Usiminas/Sinparc de 2010, para Alexandre Colla, fica em cartaz entre sexta (10) e segunda-feira (13). Depois, a peça “A menina que Entra em Livros”, indicada em cinco categorias da mesma premiação, entra no programa, sendo apresentada entre os dias 17 e 20. Na sequência, entre 24 e 27, o grupo monta “O que Mora no Escuro”, que já foi apresentada em Portugal e levou o Prêmio Sinparc de Melhor Espetáculo Infantil em 2016.
“Princesa Falalinda sem Papas na Língua”, que recebeu quatro indicações e levou o Prêmio de Melhor Atriz para Livia Gaudencio no 6º Sinparc/Copasa, ganha os palcos entre 31 de janeiro e 3 de fevereiro. Por fim, fechando a temporada, a peça inédita “Margot e a Árvore da Vida” chega ao CCBB BH no dia 7 e segue apresentada até o dia 10.
Mais que apenas como uma comemoração de aniversário, a mostra é encarada por Lívia Gaudencio, diretora artística da companhia, como uma vitória da arte mineira. “É raro que um grupo sobreviva por tanto tempo. E não é fácil. Estamos sempre superando desafios, questões financeiras, lutando pela manutenção dos trabalhos, para viabilizar projetos. Então, vejo essa celebração como uma vitória, da trupe e da cultura em Minas Gerais”, ressalta ela, que também atua como dramaturga e dirige algumas das peças do espetáculo.
Ela reconhece não ter sido fácil selecionar apenas cinco entre os 15 espetáculos já encenados pelo grupo. “Nós temos um repertório infantil muito amplo, então, precisamos fazer um recorte e, por isso, optamos por trazer apenas as montagens com dramaturgias autorais”, explica.
Novidades
A temporada inclui uma estreia em Belo Horizonte: a peça “Margot e a Árvore da Vida”, montagem mais recente de O Trem que, com dramaturgia assinada por Lívia Gaudencio, dialoga com a primeira peça criada por ela, “A Fantástica Floresta”.
“Os dois espetáculos falam de consciência ambiental. Um deles, escrito há 15 anos, nunca deixou de ser montado. E o outro nasce agora de uma necessidade que senti de voltar a esse assunto de forma mais atualizada, mais conectada com as discussões que temos hoje”, examina, detalhando que o novo projeto tematiza as mudanças climáticas e a urgência de cuidar do planeta.
“Quis trazer também uma mistura com a tecnologia”, detalha, situando que, na peça, a protagonista se encontra com o Zyan, um menino que vem de um futuro inabitável. “Daí, juntos, eles vivem essa aventura de tentar modificar o presente para salvar o nosso futuro”, antecipa.
E o novo espetáculo não é a única novidade da temporada. “Teremos também a estreia de uma criança em cena: a minha filha, Cecília, que tem 11 anos e já demonstra vontade de seguir na companhia, já escreve histórias novas. Ela vai fazer a protagonista de ‘Princesa Falalinda sem Papas na Língua’ na infância. E eu faço a mesma personagem quando mais velha”, relata, entusiasmada com essa “passagem de bastão”. “Penso muito nesse legado, em ter essas gerações seguintes ocupando esses espaços”, comenta.
Parcerias
Embora ressalte não ser nada fácil chegar a 18 anos de estrada fazendo teatro, Lívia Gaudencio reconhece que estar em uma trupe tão longeva, claro, tem também suas vantagens.
“Como estamos juntos há muito tempo, construímos uma relação de intimidade. A gente se sente bem quando está junto e a gente se conhece. Então, quando vamos montar uma peça, já sei quem vou escalar e para qual papel. Além disso, consigo criar personagens para serem interpretados por aqueles artistas, o que é muito especial”, observa.
A consistência do grupo ainda abre espaço para que novas forças sejam agregadas. “Na peça ‘Princesa Falalinda sem Papas na Língua’, eu queria estar em cena. Então, chamei a Cynthia Falabella, que é uma amiga, para fazer a direção, porque também valorizamos essa relação afetiva, que fortalece o nosso trabalho”, indica.
Outro exemplo citado por ela é a parceria com outra longeva companhia mineira: o Giramundo. Neste caso, além de admirar o grupo, Lívia reconhece que já tinha o desejo de trabalhar com teatros de bonecos. Foi quando, preparando o texto de “O que Mora no Escuro”, que tem muitos monstros, pensou que ter ali a oportunidade para fazer essa aproximação. “A receptividade deles à ideia foi imensa. Tanto que ensaiamos no ateliê do Giramundo, de forma que a confecção dos bonecos foi afetando a construção da dramaturgia e vice-versa, com tudo sendo feito junto”, celebra.
Acolhimento
Além de celebrar a receptividade dos parceiros externos no fazer artístico, Lívia Gaudencio também comemora o acolhimento do CCBB BH ao grupo. “Estamos no teatro principal da casa, porque nossos cenários demandam um espaço físico maior e graças à forma como fomos bem-recebidos pela equipe do CCBB, que está sendo super generosa com a gente”, elogia.
A expectativa, agora, é ter essa mesma receptividade do público. “É um programa que diverte a família inteira, cujas histórias servem também aos adultos e trazendo questionamentos, incentivando o censo crítico das crianças. Então, é um ótimo programa para as férias escolares”, cita.
E a temporada é também uma oportunidade para alcançar um reconhecimento que Lívia considera sem igual: os aplausos entusiasmados das crianças: “Estou em um momento de avaliar essa trajetória e os prêmios que recebemos, claro, são incríveis. É ótimo ter esse reconhecimento da classe, do mercado. Mas, no trabalho com a dramaturgia infantil, há essa particularidade: podemos ver o brilho nos olhos do nosso público, recebemos o abraço no final das peças. E é uma expressão completamente genuína, porque criança não finge gostar. É gratificante ouvir as perguntas delas, ver como reagem, receber esse carinho. Tem dias que é isso que me alimenta, que me faz ter mais ideias, que me faz marcar novas temporadas”.
SERVIÇO:
O quê. Mostra celebra os 18 anos de O Trem - Companhia de Teatro
Quando. A partir desta sexta-feira (10). Até o dia 10 de fevereiro. Sessões de sexta a segunda, às 15h
Onde. Teatro I do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. A partir de R$ 15 (meia). Ingressos disponíveis no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria física do CCBB BH.
PROGRAMAÇÃO:
- 10 a 13/1 – Espetáculo “A Fantástica Floresta”, com direção de Marcelo Carrusca
- 17 a 20/1 – Espetáculo “A Menina que Entra em Livros”, com direção de Lívia Gaudêncio
- 24 a 27/1 – Espetáculo “O que Mora no Escuro”, com direção de Juliano Barone
- 31/1 a 3/2 – Espetáculo “Princesa Falalinda sem Papas na Língua”, com direção de Cynthia Falabella
- 7 a 10/2 – Espetáculo inédito “Margot e a Árvore da Vida”, com direção de Lívia Gaudencio