Após 13 anos de sua última passagem pelo Brasil e um cancelamento em 2017 que deixou seus fãs devastados, a cantora e compositora norte-americana Lady Gaga volta ao país para um mega show gratuito neste sábado (3), nas areias de Copacabana, no Rio de Janeiro.
A diva do pop traz ao Brasil a turnê de seu novo álbum, o “Mayhem”, e vai cantar em um palco com 1.260 m², onde estarão dispostos telões de LED de 800 m², naquela que já é considerada a maior apresentação da carreira da artista.
Os Little Monsters (como são chamados os fãs da artista) estão em polvorosa, e muitos deles estiveram acampados em frente ao Copacabana Palace, onde a artista está hospeda desde a chegada no país e de onde a Mother Monster mandou entregar para seus monstrinhos algumas caixas de pizzas.
Pessoas de todo o país, incluindo de Belo Horizonte, estão desembarcando no Rio de Janeiro para ver Gaga de perto. Uma delas é a jornalista Fernanda de Sousa Dias, de 25 anos, que mal acreditou que a diva do pop viria mesmo ao Brasil.
“Primeiramente, achei que fosse mentira, até começarem a aparecer os comentários e atualizações da prefeitura do Rio. Aí eu já falei: ‘agora a parada é séria mesmo.’ Depois que começaram a oficializar, eu já comecei a me preparar, procurando companhias, vendo quais amigos meus queriam ir… Confesso que até hoje ainda tô um pouco preocupada. Já tô com tudo certo para ir, mas com medo de acontecer igual aconteceu em 2017, quando não teve show, o ‘Brasil, I’m devastated’”, diz, fazendo referência a um tuíte publicado por Gaga naquele ano, cancelando a apresentação no Rock in Rio por problemas de saúde.
Esta será a primeira vez que a jornalista vai assistir a um show de Lady Gaga ao vivo. “Eu estou realizando um sonho”, resume. Fernanda começou a escutar a artista ainda na infância, por volta dos 10 anos. Mais do que uma inspiração por suas músicas, a diva do pop se tornou uma referência de vida para a jovem.
“Ela sempre foi uma grande inspiração para mim, especialmente por ser uma artista que rompe muitas barreiras sociais, em relação à aparência, entrega nas performances e letras das músicas. A Lady Gaga entrega tudo o que pode, não só na voz e na parte musical, mas também na composição, nas performances artísticas, na dança, nos looks. Acredito que ela também me ajudou muito na questão da minha sexualidade, e acho que isso aconteceu com muitas outras pessoas também”, relata.
Da capital, ainda partiram caravanas de ônibus em viagem estilo bate-volta. Ou seja, os veículos lotados de Little Monsters saíram na sexta (2) à noite, chegaram na madrugada deste sábado (3) no Rio de Janeiro e devem retornar para a cidade logo no raiar do domingo (4).
Dona da empresa Império Tour, Jeniffer Jordana Campos organiza esse tipo de viagem há 10 anos e conta que, desta vez, precisou contratar dois ônibus extras para comportar a demanda. “Se eu pudesse, teria organizado a viagem com cinco veículos, porque a procura foi muito alta”, comenta. A maioria dos passageiros é de BH e região, mas também há pessoas de outras partes de Minas Gerais e até da Bahia. A passagem ida e volta custou R$ 300 para quem deixou para comprar de última hora.
A designer gráfico Linda Laura Souza, de 24 anos, é uma das passageiras de Jennifer. Ela, que vai sozinha ver a diva do pop de peto, optou pela modalidade “porque sabia que seria uma experiência divertida e cheia de conexões.”
“Vou conhecer outros fãs no ônibus, e o pessoal do meu grupo é simplesmente sensacional! Além disso, essa opção foi mais acessível financeiramente, o que também pesou na escolha”, conta. Assim como Fernanda, ela tornou-se fã da cantora ainda na infância e afirma que não podem faltar “Bad Romance” e “Just Dance” no line-up de Gaga. “Como mulher LGBT no Brasil, cresci enfrentando barreiras e preconceitos, e a Gaga sempre foi um símbolo de resistência, coragem e liberdade. Por meio da arte dela, aprendi a lutar pelos meus espaços e a não ter vergonha de ser quem eu sou. Ela representa força em minha vida”, orgulha-se.
O executivo de negócios Thiago Martins, de 31 anos, também vai embarcar no bate-volta. Morador de Contagem, Martins não vê a hora de acompanhar Gaga de perto. Ele é um dos muitos fãs que foram ao Rock in Rio, em 2017, mas que não puderam assistir à diva de perto.
Para provar seu amor por Gaga, o contagense tatuou em seu corpo título de uma canção dela, a “Sexxx Dreams”. “E a música dela ‘911’ me ajudou bastante em momento que enfrentei uma crise de ansiedade e início de depressão. Ela me resgatou! Hoje sou 100% feliz e confiante em mim mesmo. Eu, sendo um jovem latino americano, preto, pobre, periférico e gay, vi por meio das músicas dela afeto e acolhimento; uma forma de ser quem eu sou”, emociona-se.
Gaga também foi fundamental para uma autodescoberta de Luana Leonor, de 18 anos. “Quando eu ainda estava me entendendo como mulher trans, existiam dias em que me sentia muito sozinha e deslocada do mundo. Nessas horas, colocava uma música dela para tocar e me sentia acolhida de uma forma única. Mais do que uma artista que admiro, a Gaga é parte da minha história de autoconstrução e orgulho”, comenta.
Luana está na expectativa que Gaga cante “Paparazzi”, “Bad Romance”, “Judas”, “Just Dance”, “Alejandro”, “Applause”, “Dance in the Dark”, “Born This Way”, “Shallow” e “Rain On Me”. “Esta última é a minha favorita”, revela. “As expectativas estão altíssimas: tenho certeza que vai ser uma experiência única e inesquecível. Estou muito empolgada e ansiosa”, comemora.
Elementos que fazem de Gaga uma diva do pop
No Brasil, Lady Gaga se apresentará com a turnê de seu novo álbum, “Mayhem”, e a expectativa é que a estrutura do show siga o padrão das apresentações realizadas no Coachella, nos Estados Unidos, e no México.
Considerado um disco que marca o retorno às suas origens artísticas, o álbum deve ser apresentado em performances suntuosas, com figurinos ousadas e coreografias elaboradas. Professor dos cursos de Produção Fonográfica e Música Popular Brasileira do UniBH, Manassés Morais concorda com os fãs sobre o conjunto da obra de Gaga ir muito além da música em si.
“As composições da Lady Gaga trazem questões essenciais contemporâneas como empoderamento feminino, saúde mental, amores, sexualidade, transformação sociais e culturais. Desse ponto de vista vale ressaltar a elaboração minuciosa na sincronia entre as temáticas, música, cenário e gestualidade. A interação entre coreografia, movimentos, cores e figurino e recursos visuais dão vida a personagens e atribuem realidade às narrativas. Elementos que se misturam no palco entre a tecnologia e performance humana, transformando o show numa experiência multissensorial impactante”, ressalta.
O docente avalia ainda que a performance vocal de Gaga é um dos grandes diferenciais que fazem dela uma grande diva do pop. “Uma das características que chamam a atenção é a fluência entre notas graves e agudas executando melodias impressionantes e movimentadas em sintonia com a expressão corporal e coreografia", diz.
"‘Disease’ (canção que abre o novo disco) é um exemplo disso. Na tour 2025, a apresentação da música reproduz todo cenário dramático e de suspense composto para o clipe, enquanto ela mantém uma interpretação vocal intacta, mantendo toda intensidade e a rítmica da melodia. Nesse sentido, acho que a tessitura vocal (ou elasticidade) junto a expressividade podem ser o tempero vocal de Lady Gaga”, avalia.
A artista não revelou qual é o setlist dela, mas o professor aposta que não devem faltar algumas músicas de seu último disco e justifica-se. “Na minha opinião, entram ‘Disease’, pela explosão da canção, ‘Vanish Into You’, pela consistência e energia, ‘Abracadabra’ pelo refrão contagiante e super assimilável, e ‘Die With a Smile’, por trazer todos ingredientes de uma boa cancão pop, como melodia simples, rápida absorção e execução orgânica, com uma sonoridade musical crua e impactante. Depois disso, pode ter até um ‘Girl From Ipanema’ acapella”, aposta.
Com base em apresentações anteriores, o show do Rio também pode ter músicas como “Judas”, “Scheiße”, “Poker Face”, “Paparazzi”, “Alejandro”, “Born This Way”, “Bad Romance”, entre outras.