BONITO - Uma das realizadores mais interessantes do cinema brasileiro atual, Carolina Markowicz já deve retornar aos sets em breve. Ele prepara o filme "Funeral", produção que irá dialogar com seus dois longas-metragens anteriores, "Carvão" (2022) e "Pedágio" (2023), ambos protagonizados por Maeve Jinkings, com quem é casada. As duas estão acompanhando a terceira edição do festival Bonito CineSur, na cidade sul-mato-grossense. Caroline adianta que o novo filme reprisará a "atmosfera cheia de nuances que o ser humano é, dentro do universo da estranheza".
Ela destaca que há inquietudes que assombram o realizador e que seguem com ele a vida inteira. Com ela, não é diferente. "Existe a questão das complexidades, das contradições humanas, como moral, hipocrisias, que a gente é culturalmente obrigado a ter e que acho muito interessante de investigar. A grande diferença, no caso do meu próximo filme, é que estarei de falando de outra classe social. Ele será sobre uma família rica de São Paulo. Mas o que eu investigo no ser humano será bem similar aos outros que fiz", analisa Carolina.
O humor é outro elemento sempre presente na filmografia da diretora paulistana. "Ele faz parte um pouco de como eu enxergo o mundo. Dificilmente eu vá fazer algum filme um dia que não tenha um pouco mais de humor, porque é a forma como eu vejo a vida. 'Funeral' seguirá tendo um certo sarcasmo", revela. A previsão é que ela comece a filmar no primeiro semestre de 2026. "Eu sempre começa a ver muito antes a ver locação e elenco. E algumas coisas já comecei a buscar. Locação, por exemplo, é algo muito importante na realização dos meus filmes".
A diretora já chegou a mudar o roteiro por conta das locações. Um bom exemplo disso aconteceu com "Carvão", que só recebeu esse nome depois que ela encontrou uma carvoaria. "Era o mesmo filme, com uma casa distante, com pessoas escondidas lá, mas virou 'Carvão' por conta do próprio elemento carvão fez parte do filme de uma maneira transcendente. Gosto muito do que o mundo pode trazer para o filme. Não fico tentando adaptar o que eu imaginei e gosto de receber as surpresas da vida durante durante o processo", revela.
Para Carolina, o fazer cinema é bem sofrido. "Não dá para romantizar", avisa. "O set é complexo, difícil, não é algo acolhedor, porque estamos sempre tensos. Eu tento pensar que estou assistindo ao filme, porque aí não serei tão generosa com o que eu estou fazendo. Assim consigo manter um certo distanciamento, até para ver se eu gosto da cena do jeito que aconteceu. Mas isso demanda um nível de atenção e tensão muito cansativo. Por isso que, quando estou estou filmando, não consigo fazer mais nada. Amo fazer, mas é algo que me esgota", assinala.
A cineasta recentemente reviu "Carvão" pela primeira vez após o lançamento, com a disponibilização do filme na plataforma de streaming da Mubi, e achou a experiência curiosa. "Tem todo um processo na realização de um filme. Você fica apaixonado, com o filme participando do circuito dos festivais, você assiste nas primeiras exibições, para ver as reações do público. Mas tem uma hora que não aguenta mais ver. É um amor e ódio que fica oscilando. E quando volta a falar dele é quase como se não tivesse mais as mesmas coisas para dizer ou não tivesse tão claro na sua cabeça", registra.
(*) Repórter viajou a convite da organização do 3º Bonito CineSur