Como se forma um par perfeito? Duas pessoas que vêm de um contexto familiar semelhante? Alinhamento ideológico? Níveis de beleza parecidos? Esta é a pergunta que a protagonista de "Amores Materialistas", Lucy, se questiona ao longo do novo filme de Celine Song, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (31/7).

Uma casamenteira, a personagem de Dakota Johnson vê relacionamentos românticos mais como uma transação do que obra do destino. Biotipo e dinheiro, no mercado em que ela opera, valem muito mais do que amor. É uma ideia frívola, mas perfeita para ser estilhaçada num filme de romance.

Neste "feel good movie" - como os americanos se referem àqueles longas com mensagens bonitas e gostosos de ver -, a diretora que despontou há dois anos com "Vidas Passadas" mais uma vez esmiúça os relacionamentos de sua protagonista, agora num tom mais leve e com estrelas mais badaladas.

Pedro Pascal e Chris Evans, que completam o trio da vez, são os interesses da personagem de Dakota, que não está necessariamente procurando o amor da sua vida, mas não ligaria de ter um marido rico.

É o que ela diz para o personagem de Pascal, dono de uma cobertura de US$ 12 milhões em Manhattan, quando o conhece no casamento de uma cliente. E é também o que a afastou do ex-namorado, papel de Evans, um ator frustrado que vive de bicos para poder pagar as contas altíssimas que Nova York tem a oferecer.

"É uma cidade sem amor ao mesmo tempo em que é o lugar perfeito para se apaixonar, surpreendentemente", diz Celine, que nasceu na Coreia do Sul, cresceu no Canadá, mas escolheu a cidade americana de arranha-céus e palcos pulsantes como seu lar, ainda quando tentava emplacar a carreira de dramaturga.

"Morar em Nova York é como viver em contradição. É difícil, principalmente por causa do alto custo de vida, mas você escolhe morar lá porque acredita que vai vencer, você acredita nos seus sonhos, e isso faz de você um romântico. Nova York é o paradoxo perfeito, assim como se apaixonar é um paradoxo", completa.

Celine Song também havia escolhido a cidade americana como cenário para "Vidas Passadas", longa que a revelou e que recebeu duas indicações ao Oscar, de melhor filme e melhor roteiro original. Na história, acompanhamos um alter-ego da diretora que deixa a Coreia do Sul e se casa com um americano. Muitos anos depois, ela se reconecta com o amor de juventude que deixou para trás, formando um triângulo amoroso platônico.

Ao contrário do que o marketing de "Amores Materialistas" quer que o espectador pense, porém, o novo filme não é mais uma história de triângulo amoroso escrita e dirigida por Celine Song - o fato de seu marido ter roteirizado "Rivais", de Luca Guadagnino, também dá gás à narrativa.

O longa que estreia agora, na verdade, está mais interessado nos dilemas internos da protagonista, tanto que o trio formado por Dakota, Pascal e Evans se encontra em cena uma única vez. Ao ser questionada sobre o tema, Celine faz careta, como se discordasse da estratégia de lançamento de "Amores Materialistas".

"O filme de agora é sobre amor romântico, sobre casamento. 'Vidas Passadas' fala muito de amizade, de coisas que você vive e não voltam mais. Mas ambos trazem, em seu cerne, a ideia do amor como a escolha de viver e morrer ao lado de outra pessoa", explica.

Pragmática, a protagonista de "Amores Materialistas" acredita que sentimentos só atrapalham esta escolha, mas vai mudando de opinião ao longo do filme. Principalmente depois de tentar capturar um "unicórnio" - como chama os solteirões com altura, beleza e conta bancária de brilhar os olhos - para sua agência e acabar se envolvendo com ele.

Conforme seu relacionamento com o personagem de Pascal avança, a protagonista vai mudando os looks estilosos para roupas mais casuais e confortáveis, deixa a louça se acumular sobre a pia e se conecta com seus clientes num nível mais humano. Curiosamente, em paralelo, ela também se aproxima do ex vivido por Evans e passa a questionar seu trabalho como casamenteira.

Por mais absurdas que sejam as situações e os diálogos que Lucy protagoniza no trabalho, eles têm um pé bem fincado na realidade. Celine Song trabalhou, ela própria, como casamenteira por um período curto de tempo, após sua chegada em Nova York.

O que mais a chocava, conta a diretora, era o fato de as pessoas procurarem parceiros de vida com base em números - altura, peso, idade, salário, normalmente em combinações irreais. Por causa deste "mercado do namoro", como o chama, Celine decidiu espalhar pelo roteiro de "Amores Materialistas" a palavra "valioso".

Já no começo do longa, a personagem de Dakota Johnson se depara com uma noiva de maquiagem borrada e vestido amassado, chorando sobre a cama minutos antes de subir ao altar, porque não ama verdadeiramente o noivo. Mas ele a faz se sentir valiosa, como um bem precioso e desejável, e isso basta, diz Lucy, ainda tomada pela futilidade.

Em outro momento, a protagonista conversa com uma colega de trabalho sobre uma cirurgia em que se quebra os joelhos para ganhar até 15 centímetros de altura. Se você tem dinheiro, é um ótimo investimento, diz Lucy, com banalidade.

"Hoje em dia, quando buscamos um relacionamento, assumimos a posição de mercadorias. O mundo acha que a parte mais rasa de nós é a mais interessante. Não acho que tenhamos nos tornado rasos de fato, mas somos encorajados a acreditar nisso", diz Celine Song.

"Me preocupa o fato de o mercado estar matando o romantismo e transformando as pessoas em objetos, mas o amor é a única coisa na qual o capitalismo não pode tocar. Ele até tenta lucrar o máximo possível, mas o amor é para todos. É algo maravilhoso, lindo e gratuito", analisa a diretora.

"Amores Materialistas"
Quando. Estreia nesta quinta (31/7), nos cinemas
Classificação. 14 anos
Elenco. Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans
Produção. EUA, Finlândia, 2025
Direção. Celine Song