Moacyr Luz caminha lentamente pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro. Na Travessa do Ouvidor, ele se aproxima da escultura erguida em homenagem a Pixinguinha cantando “Som de Prata”, uma de suas tabelinhas com Paulo César Pinheiro. “Nasceu no Rio de Janeiro/ Dia do santo guerreiro/ Naquele tempo que passou/ Foi o maior mestre do choro/ Tinha um coração de ouro/ E que bom compositor”, Moa canta baixinho.
O sambista se aproxima um pouco mais da estátua para estabelecer um diálogo sobrenatural com Pixinguinha e dar um importante recado: “Fala, meu cumpadi. Você sabe que na música ‘Som de Prata’ eu descrevo você como embaixador dessa cidade, e o filme vai sair ‘Embaixador dessa Cidade’, então vim te pedir permissão para usar esse título”.
A cena, que vemos logo no início de “Moacyr Luz – O Embaixador Dessa Cidade” (Roda Filmes/Onda Filmes, 2025), documentário dirigido por Tarsilla Alves, é simbólica porque mostra a reverência e humildade com que Moa pede permissão a Pixinguinha para poder contar sua história, que se confunde com a própria história do samba carioca dos últimos 40 e poucos anos.
“Moacyr Luz – O Embaixador Dessa Cidade” tem pré-estreia em Belo Horizonte nesta quinta-feira (14/8), às 19h30, no Una Cine Belas Artes. Os ingressos (R$ 30 e R$ 15) estão à venda no site veloxtickets.com. Antes da sessão, haverá pocket show com a presença do sambista carioca. O documentário estreia no circuito nacional no dia 21/8.
O filme acompanha Moacyr pelo seu amado Rio de Janeiro. Cai bem o recurso de dividir a narrativa o longa em dias da semana – Sábado de Botequins, Domingo da Ilusão e por aí vai – como capítulos que nos revelam como a vida e a obra de um caminhante que visita lugares e pessoas da cidade se entrelaçam e se transformam numa coisa só.
Em bares, botequins, rodas de samba e encontros com amigos e parceiros, vemos um boêmio clássico e um excelente contador de histórias, cujo humor tipicamente carioca tempera passagens marcantes da música popular brasileira, como o nascimento da amizade com Aldir Blanc. “O Aldir me ensinou a falar”, diz Moacyr, rodeado por milhares de livros na biblioteca do apartamento do parceiro.
É da dupla a canção “Coração Agreste”, enorme sucesso na voz de Fafá de Belém, que dá um depoimento emocionado, e música-tema da personagem Tieta, vivida por Betty Faria em uma das novelas de maior sucesso da TV brasileira.
O Samba do Trabalhador, que acontece às segundas-feiras na Zona Norte do Rio e foi criado pelo compositor há 20 anos, ganha, naturalmente, destaque no longa. Além das canções com Aldir, a trilha sonora ressalta parcerias com Paulo César Pinheiro, Teresa Cristina, Luiz Carlos da Vila e Sereno.
Entrevistas com Zeca Pagodinho, Maria Bethânia, Leila Pinheiro, músicos do Samba do Trabalhador e o trio Jards Macalé, Guinga e Zé Renato, que formou o Dobrando a Carioca com o biografado, nos ajudam a entender a importância de Moacyr Luz para a música brasileira.
Para o sambista, o que sobressai no longa é um sujeito comum, do dia a dia, mas profundamente dedicado à música. “Depois de 45 anos compondo, estou modestamente sendo reconhecido como compositor de música brasileira. Faço música por amor, minha vida não tem nenhuma figurinha toda cheia de charmes, de não me toques. Sou um sujeito da cidade, ando nos bares, pelo metrô, me incluo no cotidiano”, comenta Moacyr.
Elogio à amizade e à música popular brasileira, “Moacyr Luz – O Embaixador Dessa Cidade” é um retrato sensível da relação de Moa com o samba, com o Rio de Janeiro e ressalta como ele alcançou reconhecimento por meio de seu talento e de seu trabalho.