O cartaz de divulgação de “Invocação do Mal 4”, que entra em cartaz nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (4/1), já avisa aos fãs da franquia criada por James Wan: “prepara-se para o fim.” O subtítulo ainda revela tratar-se d‘O Último Ritual.” Ou seja, o longa-metragem vai contar o ato final de Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga), que atravessam a vida dividindo o mesmo teto com objetos mal-assombrados, resultado dos mais de 1.000 exorcismos realizados pelo casal e devidamente guardados em uma saleta macabra. 

No entanto, logo na primeira tomada do filme dirigido por Michael Chaves, um terceiro membro da família, que, até então, tinha passado de relance pela franquia, ganha certo protagonismo. Em uma cena tensa do parto de Lorraine, realizado às pressas depois de a médium tocar em um espelho amaldiçoado, nasce a filha do casal, Judy Warren, que só sobrevive graças a uma súplica da mãe dirigida aos céus. A trama se desenrola com atenção focada em Judy, que passa a infância enfrentando espíritos do mal, até chegar à fase adulta. Paralelamente, o público é apresentado ao caso Smurl, que estampou as manchetes dos Estados Unidos na década de 1980.

Ao que parece, o diretor usou desse recurso para dizer que esse é o fim, sim, de Ed e Lorraine, mas não necessariamente o término da franquia, que ainda contempla os filmes “Annabelle” (2014), “Annabelle 2: A Criação do Mal” (2017), “Annabelle 3: De Volta para Casa” (2019), “A Freira” (2018), “A Freira 2” (2023) e “A Maldição da Chorona” (2019). Isso porque a jovem Judy, interpretada pela atriz britânica Mia Tomlinson, está prestes a se casar com Tony Spera (Ben Hardy). Herdeira do dom mediúnico da mãe, ao lado de um marido solidário, ela surge como substituta natural para continuar as investigações demoníacas iniciadas por seus pais.

Se, por um lado, esse movimento dá fôlego à franquia e permite conhecer melhor a filha do casal, por outro, o filme se perde em digressões. A sensação é que a produção estende para além da conta nessa história, e, com isso, perde de vista seu propósito. Há momentos em que a narrativa parece mais interessada em cenas familiares do que no terror, como no longo churrasco em que Tony pede a bênção de Ed e Lorraine para se casar com filha deles.

A promessa de um último ritual inédito também não se cumpre totalmente. O que se vê, em grande parte, é a fórmula já conhecida: uma família numerosa e feliz, assombrada por uma presença maligna. Só na meia hora final o longa assume, de fato, sua identidade de terror, quando Ed e Lorraine deixam a aposentadoria para investigar um caso que ameaça a vida de Judy. Há, então, sequências tensas, como a do padre que vê o mundo desaparecer à sua volta ao buscar ajuda da Igreja, ou a transformação perturbadora de Judy em uma versão até então desconhecida de si mesma. Como de costume, Patrick Wilson e Vera Farmiga entregam uma atuação convincente carregada da química já observada em outros filmes.

Outro mérito do filme é trazer dois novos objetos à trama: um espelho esculpido com os rostos de três anjos amedrontadores, que funciona como um canalizador de demônios, e uma boneca de plástico que engatinha e chama insistentemente por “mamãe, mamãe” – quem foi criança nos anos 90 sabe o quanto essas bonecas causavam arrepios, especialmente quando ligavam sozinhas na madrugada. O filme ainda explica porque Ed e Lorraine simplesmente não destroem esses objetos, optando por mantê-los em casa. Só resta saber se esta sala estará fechada para sempre ou se Judy voltará a abri-la em possíveis novos filmes da franquia.