Aos 29 anos, Igor Fernandez afirma, com orgulho: “Este ano eu estou colhendo muitas coisas que plantei durante toda a minha vida, desde que me entendi como artista”. A frase celebra o momento vivido pelo ator mineiro, que em 2025 debutou no cinema, com o longa “Um Lobo Entre os Cisnes” - cinebiografia do bailarino Thiago Soares, do Royal Ballet de Londres - e, agora, emplaca seu primeiro papel no streaming, na série “Máscaras de Oxigênio (não) Cairão Automaticamente”, da HBO Max. “Estou vivendo exatamente o que sempre sonhei”, resume o artista, que nasceu em Cataguases, cidade referência no audiovisual brasileiro.
“Máscaras de Oxigênio (não) Cairão Automaticamente” estreou no dia 31 de agosto. Baseada em fatos reais, a produção tem cinco episódios, sendo disponibilizado um por domingo. Dirigida por Marcelo Gomes e Carol Minêm, retrata a epidemia de AIDS no Brasil, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. A série acompanha comissários de bordo que, diante da lentidão da distribuição oficial de medicamentos, passam a transportar clandestinamente, dos Estados Unidos para o Brasil, o AZT (antiviral que só chegou ao país em 1991), salvando vidas em um contexto de medo, preconceito e desinformação. No elenco, além de Igor Fernandez, estão nomes como Johnny Massaro, Ícaro Silva, Bruna Linzmeyer, Eli Ferreira, Hermila Guedes e Andréia Horta.
“A produção fala sobre como essas pessoas se ajudavam, se juntavam e se fortaleciam em um momento em que a sociedade virava as costas, em um período muito complicado, de desinformação e preconceito”, destaca Fernandez. “Mesmo se passando na década de 1980, ela dialoga com questões que ainda estão presentes hoje. A forma como lidamos com o outro, com empatia, acolhimento e resistência, continua sendo muito necessária”, reflete ele, que já atuou nas novelas “Bom Sucesso” (2019) e “Cara e Coragem” (2022), ambas na Globo.

Na produção da HBO Max, o mineiro interpreta Caio, um famoso jogador de futebol que namora o protagonista Fernando, vivido por Massaro. “Caio é um jogador de futebol, e esse ambiente é muito machista ainda hoje, imagine na década de 1980, então. Foi um desafio muito grande construir esse personagem, entender esse universo e, ao mesmo tempo, trazer humanidade para ele”, explica o artista, que revelou ter se dedicado a entender as camadas emocionais do personagem.
“Caio é um cara que carrega muitos medos e segredos. Ele vive em um constante conflito entre quem ele é e o que os outros esperam que ele seja. O futebol é o sonho da vida dele, mas, ao mesmo tempo, é também o lugar onde ele mais se sente sufocado. Essa dualidade me fez querer mergulhar profundamente na história dele”, descreve o mineiro. “Caio é alguém que vive escondendo partes de si para sobreviver naquele ambiente”, acrescenta o ator, que acredita que dar voz a personagens como Caio é uma forma de provocar debates importantes.
“Contar essa história é uma forma de homenagear quem veio antes, quem resistiu e abriu caminhos para que hoje possamos falar sobre esses temas com mais liberdade. É também uma forma de lembrar que o preconceito ainda existe e que precisamos continuar lutando”, ressalta. “Muita gente vai se reconhecer em Caio, mesmo quem nunca passou por uma situação parecida. Todos nós já sentimos medo de sermos quem somos. A série fala exatamente sobre isso: coragem e resistência”, frisa.
Estreia no cinema e novos projetos
Além do streaming, neste ano Igor Fernandez pôde ser visto, pela primeira vez, nas telonas. Ele está no elenco do longa “Um Lobo Entre os Cisnes”, cinebiografia de Thiago Soares, primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres, que ficou em cartaz entre julho e agosto. No longa, dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki, ele interpreta Norberto, amigo próximo de Thiago, vivido pelo também ator mineiro Matheus Abreu.
“O Norberto é uma síntese dos amigos do Thiago”, define Fernandez. Para construir o personagem, ele conta que contou com a ajuda do bailarino, que compartilhou as histórias vividas ao lado dos amigos no Rio de Janeiro. “Foi um grande prazer viver esse cara que foi um suporte para o Thiago, que saiu da favela do Rio de Janeiro e se tornou um dos melhores bailarinos do mundo”, diz.
Agora, Igor Fernandez está na expectativa para a chegada de duas novas produções em que atua nos cinemas. Uma delas é “Bom Retorno”, do cineasta Breno Alvarenga, gravado em Belo Horizonte. Aliás, Fernandez faz questão de frisar que é o seu primeiro protagonista da carreira e o “primeiro longa-metragem filmado em Minas Gerais”. Para o projeto, que conta com um elenco majoritariamente mineiro, ele teve a preparação da atriz Bárbara Cohen (que também atua no filme).
No longa-metragem ele vive Antônio. “Ele é um cara que passa muito tempo fora de BH; fica cinco anos fora, tentando a vida na dança nos Estados Unidos, mas não consegue. Retorna para BH cinco anos depois, completamente desconectado da cidade, da família, dos amigos”, conta Fernandez, que revela que a rotina de gravação foi intensa. “Eu estava em todas as cenas do filme”, diz o ator, que morou na capital mineira, em abril e maio, por conta das gravações de “Bom Retorno”. A produção tem previsão de estreia para 2026.
O mineiro também está no elenco de outro filme, “Corrida dos Bichos”, dirigido por Fernando Meirelles, também previsto para o ano que vem. “É numa história que tem relação com o jogo do bicho, mas é uma história em um Rio de Janeiro distópico”, adianta. Ele também atua em “Os Donos do Jogo”, nova produção nacional da Netflix, que também aborda o jogo do bicho na Cidade Maravilhosa. A estreia está prevista para outubro.
Carreira e raízes em Minas
Filho de uma costureira e de um pedreiro, Igor Fernandez começou a fazer teatro ainda criança, aos 7 anos, ao entrar por acaso em uma sala de um centro cultural de Cataguases, cidade referência no audiovisual brasileiro. “Foi muito natural. Parece que é uma coisa que está no meu cotidiano desde sempre. A arte sempre esteve ao meu redor”, conta. Cataguases também é berço de conterrâneos como o cineasta Humberto Mauro (1897-1933).
“A minha cidade teve um papel fundamental na minha construção como artista. Eu até brinco que Cataguases é uma das cidades que têm mais artistas por metro quadrado, porque é assim: é um tio que toca violão, é o vizinho que faz figuração para o audiovisual… Então, desde pequeno já lidava com isso”, explica. “Eu cresci com acesso facilitado para absorver a arte”, acrescenta.
Aos 12 anos, Igor começou a trabalhar com o pai na construção civil, financiando seus cursos de teatro. Aos 15, entrou para o grupo circense itinerante TOCA, atuando como palhaço, malabarista, equilibrista e performer em diversas cidades mineiras. “Foi o período que eu mais evoluí como profissional da arte, porque eu passei de adolescente para jovem adulto, entendendo o meu valor de trabalho ali, sabendo cobrar pelo meu trabalho”, relembra.
Ele seguiu nesse caminho até se mudar para o Rio de Janeiro, em 2014, para estudar cinema e TV, abrindo espaço para sua estreia em novelas. “Estou muito feliz porque estou realizando coisas que sempre sonhei. Lembro que, quando comecei, me perguntava se um dia conseguiria fazer uma série, um filme, uma novela. Hoje estou fazendo tudo isso. Só consigo agradecer”, afirma.