Aniversário

Galpão Cine Horto faz 25 anos como um dos principais centros culturais do país

Criado pelo grupo teatral Galpão, o GCH já recebeu 250 mil pessoas desde a sua abertura

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 31 de março de 2023 | 08:50
 
 
 
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No vídeo exibido na sala Wanda Fernandes, um grupo de atores se junta naquele mesmo espaço, anos atrás, e grita se parar “rodinha! Rodinha!”. No final, vem a palavra decisiva: “merda!”, um expressão que atravessou décadas no teatro, vinda da França, como forma de desejar sucesso. A palavra foi repetida muitas outras vezes, durante a noite de quinta-feira, para comemorar os 25 anos do Galpão Cine Horto.

O centro cultural foi criado pelo Galpão, um dos mais importantes grupos teatrais do país, onde funcionava uma sala de cinema, no bairro Horto, região Leste de Belo Horizonte. A uma quadra de distância do espaço de ensaios da companhia, o local se transformou numa usina constante de formação e difusão artística. Como ficou claro nos depoimentos de diversas autoridades presentes, a cultura mineira passa pelo GCH.

“(Nosso desejo) é uma criar uma casa que, além dos nossos projetos, abrigue os trabalhos de terceiros. Queremos muito o envolvimento dessas pessoas. Somente com isso o Galpão Cine Horto irá vingar”, observou Chico Pelúcio naquele ano de 1998, em entrevista exibida no vídeo de apresentação da cerimônia de comemoração. E vingou: são mais de 250 mil espectadores em três mil apresentações desde a abertura.

Um dos fundadores do grupo celebrado por peças como “Romeu e Julieta”, “Um Molière Imaginário” e “Till, a Saga de um Herói Torto”, Pelúcio é uma das razões de ser do Galpão Cine Horto, como o seu grande articulador. Era um dos mais emocionados na quinta-feira, numa imagem bem diferente de seu personagem na novela das seis “Amor Perfeito”, em que interpreta o ranzinza Padre Zezinho.

“Foram muitos artistas, técnicos, pensadores e espectadores que deram alma à essa casa e que fizeram daqui um centro de produção e reflexão. É uma espécie de provocadora de pensamentos, de olhar crítico e de cidadania”, destaca Pelúcio, sentado num banco do corredor que dá acesso ao teatro Wanda Fernandes e que, a partir de agora, será, de forma permanente, uma galeria de artes visuais.

A galeria é uma das muitas novidades reservadas para 2023, que terá ainda novas edições do “Oficinão”, do Festival Cenas Curtas e da Mostra de Monólogos. O GCH será palco também do “Núcleos para as Juventudes”, que oferecerá atividades gratuitas a jovens da região. O projeto “Sabadão” trará à cidade o diretor Amir Haddad, considerado um dos maiores encenadores do Brasil e criador do grupo Tá na Rua.

Apesar do tom festivo, em que não faltaram homenagens a funcionários antigos da casa, a cerimônia chamou a atenção para a dificuldade de manutenção de um espaço dessa dimensão. Pelúcio lembra que, no começo, eles tiveram que ter “uma certa insanidade para encarar uma reforma num prédio que não é nosso; até hoje ele é alugado, sendo o grande gargalo para a expansão do Cine Horto”.

Nos últimos quatro anos a situação ficou preocupante devido ao que ele chama de crise cavalar, gerado pela pandemia e pela falta de incentivo federal à Cultura. “Passamos por muitas dificuldades. Tanto que é nosso lema hoje é coragem, resistência e esperança. Agora estamos comemorando a passagem dessa tempestade e podendo planejar dias melhores, torcendo para que a arte seja prioridade em todas as esferas de governo”.

Por sinal, as três esferas (federal, estadual e municipal) se fizeram presentes na comemoração. Secretária municipal de Cultura de Belo Horizonte, Eliane Parreiras destacou o impacto gerado para a cidade, apontando a descentralização de um fazer cultural que contaminou outras iniciativas na região Leste. Em nível nacional, os inovadores projetos de pesquisa e difusão inspiraram diversas instituições culturais.

 Pelo Estado falou o subsecretário de Cultura Igor Arci, que frisou o papel de resiliência do GCH, dando o devido valor à capacitação artística. É justamente do governo estadual que vem a possibilidade de um novo passo para o futuro do espaço. “A gente não pode ampliar, como fazer um quarto andar, porque o prédio não é nosso. A ideia é que o Estado permute, com os proprietários do cinema, um outro terreno”, revela Pelúcio.

“O Estado tem muitos terrenos ociosos e poderia fazer uma troca que fosse interessante para os proprietários. Com isso, o prédio iria para o Estado, que o passaria em comodato para nós. A gente, por meio de nossas forças, faria as reformas necessárias. Tudo isso é possível. Só é preciso ter determinação e vontade política. A gente tenta levar essa possibilidade para apreciação do Estado, mas não tivemos retorno até agora”, lamenta.

Há menos de um mês à frente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Maria Marighella, que também é atriz, lembrou que fez teatro na época da redemocratização do Brasil, moldado pela renovação do pensamento do trabalho coletivo que marca o Galpão e o GCH. “A ideia não é olhar esse espaço como quem assiste, mas vê-lo como parte de algo que precisa ser instalado para que esse direito universal à cultura seja permanente e definitivo para a nossa gente”.

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