Reconhecimento

Vereadora propõe Cidadania Honorária para Cintura Fina

Iza Lourença sugere a homenagem em condição post mortem, visando resgatar a memória daquela que é considerada precursora da luta LGBTI+ de BH

Por O TEMPO
Publicado em 30 de novembro de 2021 | 14:45
 
 
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Em 1953, quando tinha apenas 20 anos, Cintura Fina percebeu que, para sobreviver, teria que fazer de tudo um pouco. Travesti, negra, cearense, pobre e órfã, Cintura foi cozinheira, faxineira, lavadeira, gerente de pensão, profissional do sexo, alfaiate, cabeleireira e gari. Evidentemente, não ficou livre da transfobia, que por vezes enfrentava inclusive se utilizando de uma navalha. Aliás, foi dessa forma que acabou ganhando a alcunha de “rei da navalha”. No final da década de 1990, sua história ficou conhecida nacionalmente através da minissérie "Hilda Furacão", da Globo, baseada no livro do saudoso Roberto Drummond. Aliás, recentemente, a disponibilização da minissérie na plataforma Globoplay acendeu uma polêmica pelo fato de a personagem ter sido interpretada pelo ator Matheus Nachtergaele, um homem branco e cis

Independentemente da celeuma a vereadora Iza Lourença (PSOL) anunciou que está articulando a indicação de Cintura Fina para ser reconhecida como cidadã honorária de Belo Horizonte em condição post mortem. Como parte das iniciativas do Novembro Negro, a vereadora está indicando a travesti ao título com o objetivo de resgatar a memória daquela que é considerada precursora da luta LGBTI+ na cidade, um símbolo de resistência ao conservadorismo e de ocupação dos espaços públicos, um caso que, como aponta Iza, revela muitas das contradições do desenvolvimento de Belo Horizonte nas décadas de 1950 a 1970. “Cintura é parte da história da cidade, do seu desenvolvimento, e como tal deve ser  conhecida”, defende ela. Cintura morreu em 18 de fevereiro de 1995, aos 62 anos, tendo também sua trajetória contada no livro "Enverga, mas não quebra: Cintura Fina em Belo Horizonte", escrita pelo pesquisador Luiz Morando.

Indicação

De acordo com Iza Lourença, a imprensa da época construiu uma lenda ao redor da história de Cintura, criando e reproduzindo estigmas e violências contra a sua figura. “Cintura teve sua vida e imagem exploradas de forma cruel. Quando a imprensa dizia que a violência era uma constante em sua vida, deveria ter dito da violência que ela sofria por ser quem era. Essa estigmatização reforçada na abordagem da mídia da época justificava, também, a violência do Estado contra ela, e legitimava as políticas de criminalização e higienização para controle social do nosso povo”, destaca.

E completa: “As várias prisões de Cintura por vadiagem demonstram que, em última instância, o Estado estava lhe dizendo: ‘você não tem direito de circular por aí! Esta cidade não é sua! Você não é sujeito, você não é nada’. Cintura foi uma sobrevivente, um símbolo de luta e resistência, e figura importantíssima na luta LGBTI+ da cidade e do país! Concedê-la esse título reconhecerá sua importância na luta pela cidadania e garantia de direitos na cidade, além de fazer justiça à forma criminosa como foi tratada quando viveu por aqui”, entende Iza.

Por mandato, cada vereador pode indicar pessoas de contribuição relevante para a história da cidade para serem nomeadas como cidadãs honorárias. Para a nomeação ser concretizada, a indicação precisa de dois terços das assinaturas de líderes de bancadas e blocos de vereadores.

 

 

 

 

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