Cozinhar é o ato de transformar ingredientes, às vezes brutos, em comida e alimento. Por isso, não é absurdo dizer que Rosa Moraes é uma espécie de cozinheira de vidas. Sua atuação vai além da gastronomia; ela transforma pessoas, carreiras e realidades. Como uma das personalidades mais impactantes do cenário gastronômico brasileiro e mundial, Rosa alia força, generosidade e uma visão independente, moldando o futuro de chefs e profissionais do setor desde a criação do primeiro curso superior de gastronomia no Brasil, em 1999.

Um dos seus passos, nesse sentido, como embaixadora de Turismo e Hospitalidade do Ecossistema Ânima Comunicação, é a estreia do curso da renomada escola francesa Le Cordon Bleu em Belo Horizonte, junto com o UniBH.

Filha de imigrantes italianos, Rosa Moraes canaliza sua força para promover inclusão social através da gastronomia como apoiadora do projeto Gastromotiva. Sua liderança vai além das cozinhas, estendendo-se ao setor de hospitalidade, onde promove a excelência em serviços. À frente das seções brasileiras do The World’s 50 Best Restaurants e do Latin America’s 50 Best Restaurants, ela tem sido fundamental para dar visibilidade internacional à diversidade da culinária brasileira, deixando um legado de transformação tanto no prato quanto na vida das pessoas. 


Rosa desembarca em BH no próximo dia 30 para participar do Seminários O TEMPO Gastrô (veja a programação completa aqui). Ela é uma das convidadas do painel “Sabores que contam histórias: a gastronomia como experiência sensorial”. Ao lado do chef Caio Soter, ela compartilha suas visões sobre como criar experiências gastronômicas únicas e memoráveis. 

 

Seu pioneirismo na gastronomia inspira muita gente. Como é lidar com esse legado e responsabilidade com os profissionais e, sobretudo, com as mulheres nas cozinhas que são motivadas pelo seu trabalho? Foi um trabalho de formiguinha, construído ao longo de mais de três décadas, sempre com muita paixão pela gastronomia, por educação e por pessoas. Eu fico emocionada quando percebo que de alguma forma fiz parte da trajetória de tantos. E minha palavra, principalmente para as mulheres, é sempre de apoio e resiliência. Sim, é mais difícil pra gente. Tivemos e ainda temos muitas vezes que abrir portas com um pé de cabra (risos), em um mercado que sempre foi bastante machista e em um mundo comandado por homens, para no final ainda termos que provar que merecemos ocupar esses lugares. Mas acredito que, juntas, estamos conseguindo mudar essa realidade, para construir um presente e um futuro em que somos reconhecidas e respeitadas, sem precisar provar nada a ninguém. 

Como é o seu papel como presidente das seções brasileiras do The World’s 50 Best Restaurants e do Latin America’s 50 Best Restaurants? O meu papel é selecionar um painel de 40 votantes para o ranking mundial, que cobre 27 regiões, e 61 votantes para o ranking da América Latina. No caso do ranking mundial, os presidentes de cada uma das 27 regiões devem fazer o mesmo, criando um corpo de 1.100 especialistas de todos os lugares do mundo. Já no caso da América Latina, o corpo de especialistas totaliza 300 pessoas. Estas seleções de jurados devem ter diversidade e representatividade. São pessoas gabaritadas, entre profissionais da área, como chefs e proprietários de restaurantes, críticos, jornalistas e amantes da gastronomia que viajam o mundo para comer e beber bem. Esse cuidado todo na seleção do júri permite jogar uma lente de aumento em cada pedacinho do mundo, do ponto de vista de pessoas que compreendem a gastronomia local, dando chance de visibilidade internacional a estabelecimentos e cozinheiros de lugares antes marginalizados ou ignorados pelo meio gastronômico global. Este é outro papel que tenho, aliás: o de promover a gastronomia do Brasil pelo mundo. 

Qual a sua visão sobre as premiações e listas que categorizam e premiam restaurantes e estabelecimentos gastronômicos no mundo todo? São rankings que, acima de tudo, indicam tendências. Ao invés de seguir critérios técnicos mais rígidos, eles apontam estabelecimentos gastronômicos e cozinheiros que estão alinhados e comprometidos não apenas com a qualidade da comida que servem, mas também com questões ligadas à cadeia gastronômica, como autenticidade cultural, preservação de raízes culturais, impacto socioambiental, entre outros. Tudo isso, claro, desenvolvendo cozinhas criativas, inovadoras ou que remetem à memória afetiva das pessoas. 


Conte mais sobre como será o curso da UniBh, que é a segunda instituição do Ecossistema Ânima, a recebê-lo em parceria com o Le Cordon Bleu. Qual a importância de trazer a escola francesa para Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Estado que é um dos principais destinos gastronômicos no país? A Ânima, ecossistema que o UniBH integra, já possui seis anos de parceria com o Le Cordon Bleu e essa novidade para Minas Gerais representa um marco importante para o ensino da gastronomia. Ao unirmos uma das escolas de culinária mais tradicionais e prestigiadas do mundo com um dos melhores centros universitários privados de Belo Horizonte, oferecemos aos nossos alunos uma experiência de aprendizado única e transformadora. O que o UniBH está fazendo, junto com o Le Cordon Bleu, é adaptar sua metodologia à culinária e aos produtos de Minas Gerais. O impacto dessa união é enorme. O curso já é um sucesso e estamos formando a nova geração de cozinheiros, gerentes, líderes empresariais e outros profissionais para a cadeia da hospitalidade. Esse é o nosso objetivo: ensinarmos a gastronomia além da cozinha. A Ânima tem o compromisso de transformar o país através da educação e essa é mais uma entrega que reforça de que forma está fazendo isso.

Quais conselhos você daria para quem quer trabalhar com gastronomia? Sempre estudar e se atualizar. Este é um mercado extremamente competitivo. Cada vez mais, quem der de ombros para a importância da formação e diversificação do conhecimento profissional na área vai perder espaço. E hoje, mais do que nunca, é necessário também ter resiliência, criatividade e empatia. Resiliência para suportar os obstáculos no caminho, muitas vezes inesperados; criatividade para encontrar soluções e inovar sempre que necessário, sem se apegar a antigas receitas ou regras muito rígidas; e empatia para olhar para quem está construindo junto, seja na carreira ou no empreendimento. Quem alimenta ou produz alimento deve ter empatia porque o humano é a razão de existir desse trabalho. 


Quais são suas impressões sobre a cozinha mineira? E os seus pratos preferidos? Minas Gerais é um Estado muito especial, pois todos são muito orgulhosos de sua cultura, falam muito sobre seus produtos e, principalmente, da sua culinária. Seus produtos são de muita qualidade, como café, charcutaria e cachaça. Os vários preparos e pratos com a carne de porco são excelentes. Além disso, tem uma variedade e uma qualidade muito grande de queijos – e eu não poderia deixar de citar o pão de queijo, que é excepcional e mora no meu coração! Para coroar, eu me chamo Rosa em homenagem à minha avó paterna, que era mineira de Guaranésia e cozinhava extremamente bem. A cozinha mineira faz parte das minhas memórias mais queridas.

SERVIÇO
O quê. Seminário O TEMPO Gastrô
Quando. 29 e 30 de outubro, das 13h às 20h
Onde. Mercado de Origem (rua Adriano Chaves e Matos, 447, Olhos d’Água)
Quanto. Gratuito, mediante retirada de ingressos pelo site Gofree