Entrevista
Alexandre Kalil diz que vai abrir caixa-preta da BHTrans
Empresário abre a série de entrevistas com os prefeituráveis de BH
Na primeira entrevista da série com os 11 candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte – promovida pelos jornais O TEMPO e Super Notícia e pelo Portal O TEMPO –, o empresário Alexandre Kalil (PHS) falou sobre a “caixa-preta da BHTrans”, as indicações de vereadores a cargos da PBH, o armamento da Guarda Municipal e a situação da saúde na capital. A entrevista foi transmitida ao vivo ontem pelo Facebook e contou com perguntas de internautas. As datas das conversas foram indicadas pelos candidatos por ordem de resposta ao convite – quem respondeu primeiro teve prioridade na escolha.
Empresário de fala direta e colecionador de polêmicas, Alexandre Kalil disse que, se eleito, quer “ver o tamanho do lucro” das empresas de ônibus da capital. Para o candidato, a prefeitura precisa “mandar de novo” no transporte público coletivo para aumentar a qualidade do serviço.
Kalil evitou prometer novas obras, mas se comprometeu a dar andamento às que já foram iniciadas na cidade. Sobre educação, o candidato disse que a área está “bastante razoável”, mas alfinetou o adversário e atual vice-prefeito de BH, Délio Malheiros (PSD), em relação às Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis). “O outro candidato só fala em Umei. É uma cidade-creche. Parece que eles não têm mais nada pra falar”, afirmou.
Ressaltando que não é político, Kalil afirmou que é possível sustentar uma boa relação com a Câmara sem “encher a prefeitura de brinco de vereador”. “Você ajuda vereador é atendendo a comunidade dele. É assim que se faz maioria (na Câmara)”, disse. O candidato também afirma que uma das prioridades de seu eventual governo será enxugar a máquina pública da prefeitura da capital. “Precisamos fechar a torneira”, declarou.
Confira a seguir os principais pontos da entrevista, que teve duração de 30 minutos e está disponível na íntegra no portal O TEMPO.
Você afirma que o atual prefeito não tem condições de fazer muitas obras por conta do Orçamento apertado. Por que você quer ser candidato diante desse cenário pessimista?
Eu fiquei especialista em cenário pessimista (risos). Mas acho que (o cenário das contas de Belo Horizonte) não é tão pessimista. Pior do que estava quando eu peguei (a administração do Atlético), Belo Horizonte não estará. A verdade é que ser prefeito de BH é se doar. Por tudo que eu já recebi nesta vida, coisas que nem são materiais, pelos filhos que criei aqui, pelo que Deus já me deu (...), é hora de ajudar, de mostrar que é viável. O que eu não tô vendendo é milagre. Temos que parar de pensar que vender a realidade é o quadro pessimista. O que não pode é vender a fantasia e, depois, querer entregar a realidade. Tem um cara que está prometendo emprego. Emprego! Tá todo mundo achando que, do outro lado, só tem retardado mental escutando mentiroso.
O que você propõe para melhorar o trânsito da capital? Tem um projeto específico?
Vou te dar um dado importante: BH é uma das cidades que mais veículos têm por 100 mil habitantes. A frota de carros, em 15 anos, subiu 127%, e a de ônibus, 40%. Então eles pegaram um corredor na Antônio Carlos, alargaram, botaram muro e espremeram os carros. E o transporte público não tem qualidade. Eu achei o Move muito bacana, muito confortável; se todos (os ônibus) fossem como o Move, seria bacana. Mas os outros são balaios indecentes. Me fez muito bem andar (de ônibus) e ver o que está lá. A população é obrigada a andar naquilo. Precisamos voltar a ter autoridade no transporte de BH. A prefeitura precisa ter autoridade. Hoje quem manda são eles.
Você se refere às empresas de transporte coletivo?
Claro. Quem manda são eles.
O que você pretende fazer com relação às UPAs? Como ampliar o número de profissionais sem recurso?
O Orçamento para a saúde neste ano gira em torno de mais de R$ 3 bilhões. Foi aplicado, até julho, apenas 33% desse dinheiro. É só pegar o dinheiro da saúde e colocar na saúde.
Onde está esse dinheiro?
Não sei. São dados da prefeitura, não estou inventado nada. É o que está no papel. Vai lá e vê o Orçamento, é público. E, olha, a solução para a saúde não é tão grave quanto eu imaginava. Vou te dar um exemplo: o (hospital) Risoleta Neves, que antes eu chamei de “casa da mãe Joana”. Lá, ninguém sabe quem é o chefe. O governo de Minas construiu o prédio, entregou para a prefeitura, que entregou pra UFMG, que entregou pra Fundep. Ninguém sabe quem manda. Enfim, o grande problema de lá eram R$ 1,5 milhão por mês que a prefeitura não estava repassando. Se você pensar que um hospital desse está entrando em colapso por causa dessa quantidade, em um Orçamento de mais de R$ 3 bi, precisamos entender o que está acontecendo. Os médicos e funcionários são ótimos, bem-treinados e sabem atender. Temos que motivar esse pessoal, ninguém aguenta o descaso. O servidor da saúde precisa estar sempre preparado e motivado, porque eles vão lidar apenas com pessoas desesperadas. Quem chega com um filho no hospital, coisa que todos nós já passamos, seja por um corte na cabeça, alergia ou o que for, a gente sabe como é entrar com o filho no braço em hospital.
Você está afirmando que tem dinheiro para fazer a saúde funcionar de forma eficiente?
Eu não sei se tem dinheiro, nunca fui funcionário da prefeitura. Não sou amigo de secretário, o prefeito nunca me contou. Estou falando só os dados do Orçamento. São dados públicos, não investiguei nada.
Sim, mas algumas vezes, se projeta um Orçamento com um valor e, depois, a arrecadação não permite.
Mas com valores tão diferentes assim? Tão errado assim?
Qual deve ser a medida prioritária para o prefeito que assumir em 2017? Qual área deve ser privilegiada?
Temos que ver se precisa mesmo dessa máquina pública gigantesca que se tornou a prefeitura. É um assunto delicado, político não gosta de conversar sobre isso, não dá voto, mas é uma área muito importante. O que eu tenho certeza que não farei é colocar penduricalho de vereador na minha prefeitura. Vão ter que enfiar penduricalhos de vereador nos gabinetes deles mesmos lá na Câmara. Na minha prefeitura não vem brinco de vereador, não. Isso é promessa de campanha. Posso até, sem querer, contratar um brinco desses, mas encomendado não vai ter. É um ponto importante. Precisamos fechar a torneira. Agora, também a saúde e, principalmente, a segurança (são áreas prioritárias), até porque acho que o projeto de educação da prefeitura já é bastante razoável. Aliás, é até engraçado, a propaganda deles (de Délio Malheiros, atual vice-prefeito de Belo Horizonte): só fala em Umei (Unidade Municipal de Educação Infantil). É a cidade-creche, eles não têm mais nada pra falar.
Você propõe, então, um enxugamento da máquina pública em Belo Horizonte?
Sim, tem que diminuir (o número de cargos comissionados na prefeitura). Se diminuir, você fortalece o servidor. Não é pra economizar, é pra gastar. Você não economiza pra guardar, é pra gastar bem. A prefeitura não é um banco, ela tem que pegar dinheiro, economizar ao máximo e jogar onde precisa.
A prefeitura depende muito da Câmara, e isso, como o senhor falou, muitas vezes causa uma relação promíscua. Como vai ser sua relação com os vereadores?
Honesta e correta. Se for pra colocar penduricalho, é falta de vergonha. É igual entregar uma secretaria importante, como a de Saúde, pra qualquer um que for indicado. Isso é um absurdo. Não estou falando que fizeram isso, veja bem, mas já imaginou penduricalho trabalhando no meio do sofrimento humano? Nessa área tão sensível?
E como seria sua reação se vereadores cobrassem um favor em troca do apoio a um projeto importante que a prefeitura precisa?
Não, esse papo vai mudar, tem que mudar. Se acontecer chantagem, nós temos boca. Queremos ajudar os vereadores pra termos a maioria na Câmara. Você ajuda vereador é atendendo a comunidade dele. É assim que se faz maioria. Se você atender a comunidade dele, ele tem que apoiar o governo que atende a ele.
E sobre uma comunidade que não tem vereador: os moradores de rua. Qual a proposta para dar uma solução a essas pessoas? E os viciados em drogas ilícitas?
É um problema que queremos mandar pra Secretaria de Saúde, e não para a de Assistência Social. É uma coisa grave. Temos um grupo de médicos e especialistas estudando esse problema dos drogados. Já os moradores de rua são quase 1.800 em BH. São apenas dois abrigos. O grande problema é que o morador de rua não quer ficar no abrigo, ele quer ficar na rua. Vai chegar um candidato aqui, tenho certeza, que vai falar que vai construir 5.000 abrigos com ar-condicionado, refeitório, piscina. Não dá, o cara quer morar na rua. É um problema social gravíssimo que deixaram acontecer em BH pelo descaso
E o que dá para fazer por esse pessoal?
Não sei. Temos que ter uma política social séria, de remoção, de colocar em um lugar bem-cuidado. Mas não tem solução imediata. Tem dois grandes problemas que ainda não possuem solução: os resíduos sólidos – em que o partido do (Paulo) Lamac (candidato a vice de Kalil pela Rede) propõe a criação de uma universidade do lixo pra se estudar – e morador de rua. São coisas que estamos quebrando a cabeça pra resolver. Não adianta olhar com carinha de nojo pra morador de rua, eles estão lá. Precisamos enfrentar isso com humanidade. Quem tiver a solução será muito bem-vindo. Quero tratar, alocar. Mas não há solução curto prazo.
Em seu programa, o senhor propõe a construção de 24 novas Umeis...
Não tem mais, essa proposta eu cortei. Temos que ver se há a necessidade de mais Umeis. Outro dia eu vi que tá faltando comida na creche. Não podemos deixar menino fora da escola, isso não é fazer obra, isso é fazer escola pra menino que tá sobrando. Eu não vou é fazer, como vi por aí, o VLT. Viaduto eu não vou fazer. Quer dizer, pelo menos o que eu fizer não vai cair. Umei, creche, isso é cuidar de gente. Não é obra.
O que o senhor fará com o portfólio de obras em curso?
O que está em andamento vai acabar (ser concluído). Pior do que mentir sobre obra é deixar obra inacabada. Outro dia fui na Vila São Tomaz. A prefeitura derrubou quase 1.500 casas, lá e tudo virou um grande lixão a céu aberto, tem criação de porcos lá. O que eu faço é não prometer obras. Não quer dizer que eu não vou fazer. Vamos lutar pra trazer dinheiro pra cidade. O governo federal deve muito a Belo Horizonte. BH foi abandonada pelo governo federal.
O que pretende fazer para as pessoas que vivem em ocupações e áreas sem saneamento?
São obras muito caras, mas necessárias. Cabe ao prefeito lutar insanamente atrás do recurso. Isso é que tem que fazer. Lutar insanamente. Tirar a bunda da prefeitura, ir pra Brasília e voltar pra BH com o dinheiro. Foi o que fiz no Atlético, peguei um orçamento de R$ 30 milhões e entreguei um de R$ 280 milhões.
O senhor pretende lançar o bilhete único de ônibus?
Sim. É um negócio que tem que ser feito.
O senhor, como empresário, acha que pode ter mais facilidade em conversar com os donos das empresas de ônibus, que visam ao lucro?
Sim, mas o lucro é legítimo. Não quero ir contra o lucro. Só temos que abrir a caixa e ver o tamanho desse lucro.
Mas o senhor acha que eles vão querer abrir a caixa?
Vão ter que abrir, é uma concessão (pública).
Na área de segurança pública, qual o projeto do senhor?
Tem que cumprir a lei. Temos uma resolução que permite ter 4.500 guardas municipais nas ruas. Hoje, só há 3.000. Temos que botar na rua, aumentar a guarda, armar bem a guarda.
Você é a favor de armar o guarda municipal?
Claro. Muito armada. Temos que dar segurança.
As pesquisas indicam o senhor no segundo turno contra o deputado e ex-goleiro do Atlético, João Leite (PSDB). Como é competir com um ídolo seu?
Ele é meu amigo. Somos amigos, levo tudo na boa. Estamos numa disputa política, não é pra tentar moer gente. Ele pode dizer que eu fui um péssimo dirigente do Atlético, e eu vou lá rebater. Qual o problema disso? É um cara bacana, gosto dele, nos damos muito bem. Sei que ele não mudou o que acha de mim por causa da eleição, até nos encontramos outro dia. Sempre foi uma pessoa gentil. Temos só que levar em um nível bacana.
Série de entrevistas
Veja as datas das entrevistas ao vivo pelo Facebook (às 14h) com os demais candidatos à PBH:
Nesta sexta, 2.9: Maria da Consolação (PSOL)
5.9: Vanessa Portugal (PSTU)
6.9: Eros Biondini (PROS)
8.9: Délio Malheiros (PSD)
9.9: Marcelo Álvaro Antônio (PR)
12.9: Rodrigo Pacheco (PMDB)
13.9: Luis Tibé (PTdoB)
14.9: João Leite (PSDB)
15.9: Sargento Rodrigues (PDT)
16.9: Reginaldo Lopes (PT)