Balanço

Evitando riscos, Kalil foca campanha na recuperação econômica pós-pandemia

Estratégia surtiu efeito e candidato à reeleição chega no fim do primeiro turno com mais intenções de voto do que no início da campanha

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 13 de novembro de 2020 | 15:30
 
 
 
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Com apenas 15 agendas de campanha em 47 dias, oito delas fechadas para acompanhamento da imprensa, sem contato com o eleitor comum e sem comparecer aos debates, o atual prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Alexandre Kalil (PSD), chega na véspera do primeiro turno sem ter se exposto a riscos: tanto de pegar a Covid-19 como de alguma escorregada em suas declarações.

A pandemia do novo coronavírus esteve sempre presente na campanha. Mesmo antes do período eleitoral, adversários de Kalil esperavam que o tempo que o comércio ficou fechado tirasse votos do atual prefeito, o que as pesquisas indicam que não aconteceu.

Já no primeiro compromisso de campanha, em 5 de outubro, Alexandre Kalil avisou que não teria agendas presenciais nos bairros da capital para não causar aglomerações. Da mesma forma, disse que não poderia sair às ruas para apoiar os vereadores de seu partido por questão de coerência, já que nos últimos meses pediu enfaticamente que a população ficasse em casa. 

Outro argumento frequentemente utilizado para justificar o número reduzido de agendas foi que, na condição de prefeito, ele não poderia deixar de lado a administração municipal para cumprir compromissos eleitorais.

Com 61 anos e com comorbidades, o que o coloca no grupo de risco, Kalil expressou no dia a dia de sua campanha a preocupação com o vírus. Nas coletivas para a imprensa os microfones e equipamentos da imprensa eram higienizados e um cordão de isolamento mantinha os jornalistas a três metros de distância. Quando o compromisso era no comitê central de campanha, localizado na rua da Bahia, a imprensa era autorizada a acompanhar a conversa, geralmente manifestações de apoio à reeleição dele. 

Porém, quando Kalil visitava associações e sindicatos patronais, o acesso era restringido à pedido dos anfitriões, segundo a campanha.

O atual prefeito não foi aos debates. No único deles que foi transmitido pela televisão, Kalil disse que não compareceu porque não concordou com as medidas sanitárias adotadas, entre elas a falta de acordo sobre a testagem dos candidatos. Outros três debates foram transmitidos pela internet: dois deles promovidos pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e um pelo Diretório Central dos Estudantes da UFMG.

Ao mesmo tempo que defendeu a continuidade das políticas públicas e ações de seu primeiro mandato na propaganda eleitoral no rádio e na televisão, Alexandre Kalil enfatizou que, passada a pandemia, ele vê como prioridade da prefeitura ajudar os setores da economia a se recuperarem depois de um ano conturbado. 

Ele falou em incentivos fiscais, eliminação de taxas e desburocratização. A frase “2021 será o ano do comércio, da indústria e dos serviços” foi repetida várias vezes. Kalil evitou detalhar propostas, mas, lembrando que não costuma fazer isso, prometeu um plano “sólido e robusto” para a retomada econômica.

Estratégia correta, avalia cientista político

Sem alcançar os eleitores nas ruas, a alternativa utilizada pela campanha de Alexandre Kalil foi usar a propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Foram 20 peças diferentes veiculadas, que depois também eram reaproveitadas nas redes sociais.

A campanha surtiu efeito: mesmo largando de um patamar considerável, com mais de 50% das intenções de voto segundo as pesquisas, Kalil chega ao fim do primeiro turno variando de 60% a 65%, a depender do instituto consultado.

“O Kalil adota uma postura que é estrategicamente correta. É se expor menos porque ele é o prefeito e é mais fácil sofrer críticas. Ao se expor menos, ele acaba diminuindo a chance de uma palavra mal dita, uma fala mal colocada, de uma exposição que poderia comprometê-lo”, avalia o cientista político da UFMG, Felipe Nunes.

Ele também destaca que o crescimento das intenções de voto de Kalil demonstram que as campanhas políticas continuam tendo valor, principalmente quando são bem executadas.

“O Kalil é o melhor exemplo de como as campanhas políticas são importantes. Mesmo já tendo começado bem, a campanha eleitoral dele sacramenta a posição que as pessoas têm em relação a ele. Muito se diz "ah, as campanhas não importam mais". O Kalil conseguiu crescer sua intenção de voto ao longo da campanha, numa demonstração clara, na minha avaliação, de que as campanhas continuam tendo muito importância”, diz.

Kalil demonstra confiança, mas evita cravar vitória no primeiro turno

Alexandre Kalil não teve compromisso público de campanha nesta sexta-feira (13). Em seu horário de almoço, ele foi para o comitê de campanha na rua da Bahia, onde se reuniu internamente com a equipe.

Em áudio enviado por sua assessoria de imprensa, ele disse que a vitória virá “seja agora ou seja depois”, em referência a um possível segundo turno, e agradeceu a equipe que trabalhou em sua campanha.

“Eu só tenho que agradecer a minha equipe que trabalhou na campanha até agora e se tiver outro turno vai continuar trabalhando, mas agradecer o esforço de todo mundo porque é muito importante pra mim ter uma equipe leal, competente que vai nos levar a uma vitória, seja agora ou seja depois”, disse.

Se dirigindo à população, ele repetiu a última propaganda eleitoral veiculada na quinta-feira (12) e disse que precisa que todos cumpram o dever cívico de votar no próximo domingo (15).

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