Se você encontrasse um livro que contasse todo o passado sexual do seu parceiro ou parceira, você o leria? Foi essa a pergunta feita pela reportagem de O TEMPO a quem passava pela praça Sete, no centro de Belo Horizonte, na última terça-feira (22). Das sete pessoas questionadas, apenas uma disse que não. As justificativas dadas por aqueles que afirmaram que leriam as informações foram parecidas e incluíam desde curiosidade até necessidade de compreender os gostos e preferências dos parceiros. Houve também quem acreditasse que saber o que tinha sido feito oferecia uma oportunidade para reproduzir aquilo que deu certo, mas de uma forma aprimorada. 

Mas e num cenário não fictício, será que falar com o parceiro ou parceira sobre as experiências sexuais passadas é mesmo necessário? Segundo a sexóloga Enylda Motta, a resposta para essa pergunta vai depender de alguns fatores. Antes de tudo, ela explica que é preciso observar para quem esse bate-papo será importante, qual o intuito dele e se essa conversa fará bem ou mal aos dois. “Podemos pensar que, a partir do momento em que o relacionamento inicia, o passado não importa. Mas ele pode afetar o presente dependendo do que aconteceu”, observa.

Porém, a sexóloga pondera que, mesmo que a conversa tenha sua necessidade reconhecida, é preciso ter cuidado durante o papo. “Revirar o passado para falar de outras pessoas, de onde faziam sexo, de posições que faziam, entre outras coisas, pode ocasionar ciúmes, insegurança, ansiedade de desempenho, possessividade. Mas falar sobre o passado como forma de evitar que comportamentos sejam repetidos pode ser saudável. O importante é saber o momento certo e se a pessoa está aberta a isso”, acredita.

Para o psicólogo e psicanalista Eduardo Oliveira, essa conversa sobre as experiências sexuais passadas não deve ser encarada como uma obrigação, embora o diálogo seja importante para a relação. “A comunicação é uma prática essencial para a construção de um relacionamento mais saudável e profundo”, afirma ele, ressaltando que não é necessário compartilhar tudo. “Cada pessoa tem o direito de decidir quanto quer revelar sobre seu passado sexual, e o respeito por esses limites é crucial para que a relação não seja sobrecarregada”, explica.

Ele chama a atenção, porém, para a necessidade de que o diálogo entre o casal esteja amparado por uma condição de segurança e intimidade. “É essencial criar um espaço de empatia, escuta e respeito pelos limites emocionais do outro. Quando isso é feito com cuidado, essas discussões podem fortalecer a intimidade e o entendimento mútuo, ao invés de enfraquecer a relação”, destaca. 

Eduardo ainda observa que é preciso compreender que existe um tempo certo para que o bate-papo ocorra. “Uma conversa sobre o passado deve acontecer em um momento de calma, não pode ocorrer em períodos de tensão ou discussões. Um timing adequado é importante para evitar que o assunto seja visto como um ataque ou como algo que desequilibre a relação; porque, às vezes, você vai contar de uma coisa pessoal, mas o outro pode achar que é uma reclamação”, exemplifica. “Outra dica é validar a experiência emocional do outro, mostrando empatia e compreensão pela experiência que ele viveu no passado. Criar um espaço seguro, onde há abertura emocional, onde a conversa possa ocorrer sem risco de julgamento, é fundamental”, diz. O psicólogo também acrescenta que os parceiros devem ser capazes de escutar sem interromper ou julgar. “Deixe o outro expressar suas emoções e esteja disposto a ouvir sem criar expectativas ou comparações com o próprio passado sexual”, orienta. 

Já Enylda acredita que, caso a conversa aconteça, ela deve se dar de forma natural, à medida que os assuntos forem surgindo. “Existem casos em que as pessoas se sentam e discutem sobre o passado para melhorar, mas existem possibilidades de ir aos poucos, e, muitas vezes, algumas se limitam a falar porque sabem que não vai agregar nada. É importante perceber o momento certo, o assunto e saber se está preparado para mexer na própria história”, aconselha.