Hannah chega em fevereiro de 2025, a poucas semanas do Carnaval. Quando isso acontecer, sua mãe, Nathália Ventura, que no último dia 18 de outubro completou 22 semanas de gestação, vai contar para a filha “o quanto ela foi planejada e esperada”. “E também para que ela saiba que, se ela quiser engravidar, com planejamento e suporte adequado, a idade não será um fator limitador”, sublinha. Aos 42 anos, a publicitária e advogada se soma a uma gama de mulheres que tem decidido engravidar em uma idade mais avançada do que era usual até outro dia. 

De acordo com o Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos do Ministério da Saúde, o Brasil atingiu a marca de 106.534 nascimentos de filhos de mães com 40 anos ou mais em 2022, quase o dobro (78,05%) em comparação com o início do século (59.833 em 2001). A apresentadora Sabrina Sato também pode ser incluída nessa lista. Na última semana, ela anunciou que, aos 43 anos, está grávida do segundo filho, fruto de seu relacionamento atual com o ator Nicolas Prattes. Sabrina já é mãe de Zoe, de 5 anos, nascida durante o casamento com Duda Nagle. 

A obstetra e ginecologista Luciana Guedes explica que esse aumento significativo de mães que engravidam após os 40 se deve “especialmente às técnicas de fertilidade disponíveis”. “A utilização dessas técnicas varia de caso a caso, e há desde o tratamento menos invasivo, que é aquele em que vai haver o estímulo da ovulação; passando pelo coito programado e chegando até à FIV, que é o processo de fertilização in vitro”, diferencia a especialista. Nesse último caso há a possibilidade de se unir artificialmente o óvulo da mãe aos espermatozóides do pai, ou de se recorrer ao óvulo de uma doadora anônima para ser fertilizado com o esperma do parceiro e colocado no útero dessa mulher que deseja ser mãe. 

Corrida contra o tempo

Nathália optou pela FIV, que, de acordo com sua médica, Luciana Guedes, era o procedimento mais indicado. Inicialmente, nem ela nem o marido queriam ter filhos. “Não sei dizer o momento exato que nosso pensamento mudou. Foi gradual, mas foi rápido. Tanto para mim quanto para o meu marido. Acho que tudo começou com a vontade de saber se ainda era possível engravidar, e, com o passar do tempo, fomos amadurecendo a ideia e vencendo cada empecilho que aparecia”, compartilha Nathália. Ela lista “a saúde e o investimento financeiro” como os principais desafios desta empreitada.

Nesse caminho, o casal identificou um problema de fertilidade com o marido. “Ele fez um tratamento de um ano, e, nesse período, a vontade de sermos pais aumentou”, conta Nathália. Só quando o tratamento do marido chegou ao fim, Nathália começou a realizar os próprios exames, e, nessa época, ela “já estava com quase 40 anos”, idade em que “a reserva ovariana é baixa na maioria das mulheres”. “E esse era o meu caso”, informa a entrevistada. 

“Por esse motivo, precisei coletar óvulos, numa corrida contra o tempo. Também tive diagnóstico de adenomiose e endometriose”, completa. Ela descreve a FIV como “um processo complexo que exige dedicação e também um grande investimento financeiro, já que o plano de saúde não cobre”. “Outro desafio que tivemos foi adequar a rotina de vida e trabalho para iniciar os procedimentos e seguir com o processo”, detalha. 

Mitos e verdades

A ginecologista e obstetra Luciana Guedes esclarece que “não existem grandes diferenças entre a mulher que engravida pela primeira vez aos 40 anos e a que já tem filhos quando volta a engravidar nessa idade”. “Isso é um grande mito. Os riscos são iguais pela idade, e não têm muita relação com uma experiência pregressa, a não ser pelo fato de a mulher que engravida pela segunda vez ter mais tranquilidade, pelo fato de já ter passado por aquilo”, garante. 

Segundo ela, os riscos inerentes ao parto após os 40 estão relacionados a questões do próprio envelhecimento do corpo, como “aumento de pressão, diabetes gestacional, câncer e doenças autoimunes”, enumera. Por tudo isso, a ocorrência de abortamento, prematuridade e a necessidade da cirurgia de cesariana também seriam mais comuns. 

Benefícios

Para as mulheres que intencionam engravidar após os 40 anos, Luciana orienta o cuidado com a saúde, a partir da “prática de exercícios físicos e uma alimentação balanceada”. Além disso, recomenda “o acompanhamento anual para diagnóstico precoce e tratamento” das possíveis complicações citadas anteriormente. A obstetra pontua que “não existe uma idade limite para engravidar”. “Enquanto a mulher estiver menstruando, existe a chance de engravidar. E isso é importante ser dito porque, por incrível que pareça, muitas mulheres engravidam sem querer após os 40 por acharem que não há mais chances, e acabam interrompendo os métodos contraceptivos”, alerta. 

A obstetra ainda faz questão de ressaltar que, para além dos desafios, uma gravidez na maturidade traz os seus benefícios particulares. “A idade materna avançada está associada à melhora da saúde e do desenvolvimento das crianças pequenas. Estudos comprovam que crianças até 5 anos com pais mais velhos apresentam menos episódios de lesões e quedas. As taxas de imunização, desenvolvimento social e da linguagem também apresentam índices mais altos”, observa. O resultado seria decorrente de pais e mães “mais pacientes e atenciosos”, graças a uma maior “estabilidade emocional e financeira” que se estenderia aos filhos. 

Superação de preconceitos

Nathália Ventura admite que se cansou de ouvir a incômoda pergunta ao se casar: “Quando vão ter filhos?”. Ela acredita que “a cultura de ter filhos mudou bastante, mas ainda existem resquícios de preconceito aqui e ali”. “Algumas pessoas ainda pensam que, casou, tem que engravidar logo. Mas, no meu caso, essa pergunta normalmente vinha de desconhecidos”, salienta. Já quando decidiu engravidar com mais de 40 anos, ela afirma não ter sofrido nenhum tipo de preconceito. “Recebi felicitações e apoio de todos com quem convivo”, agradece. 

Agora, Nathália incentiva outras mulheres na sua idade a não desistirem do sonho se o ímpeto de ser mãe aparecer. “Não tenham medo. É possível! A ciência evoluiu, a sociedade evoluiu, os direitos das mulheres evoluíram. Então, se é o que você quer, não tenha medo”, conclama ela, que acrescenta um conselho. “Congele óvulos se você for jovem e tiver condições financeiras. Mesmo que não planeje ter filhos. Sua opinião pode mudar futuramente e o tempo conta muito. A qualidade e quantidade de óvulos quando somos jovens é infinitamente melhor”, avisa. 

Na opinião de Nathália, “o ideal seria difundir informações para mulheres jovens sobre os fatores que podem dificultar a gravidez com idade avançada”. “O medo muitas vezes pode ter fim com o conhecimento”, afiança. “Eterna otimista”, a obstetra Luciana Guedes percebe avanços da sociedade no que diz respeito a preconceitos do passado.

“A gente tem falado cada vez mais dessas questões de uma forma ampla, e a gravidez em mulheres acima de 40 anos tem se tornado mais comum, porque as mulheres estão no mercado de trabalho, correndo atrás de educação, posicionamento, e, com isto, os planos de casamento e filhos acabam ficando para mais tarde”, arremata Luciana.