É natural que, com o passar do tempo em um relacionamento, uma ou ambas as pessoas sintam um certo tédio, tanto na convivência quanto na vida sexual. Estudo científico realizado pela antropóloga e bióloga Helen Fisher, na Rutgers University, de Nova York, nos Estados Unidos, revelou que a paixão tende a arrefecer após 12 a 15 meses do início de um relacionamento.
Depois desse período, ocorre a queda de hormônios, como a dopamina e a ocitocina, e o cérebro recupera sua atividade normal, transformando a paixão em um “amor tranquilo”, como diria Cazuza.
Essa mudança, somada ao estresse cotidiano e a convivência diária, leva à diminuição do tesão, responsável por manter acesso o desejo sexual de um casal. Dessa forma, as transas caem na rotina e acabam se tornando mais sem graça. Psicóloga especialista em sexologia e educação sexual, Renata Lanza reitera que um dos maiores vilões do desejo sexual é justamente o estresse.
“Ele pode ser um grande obstáculo na nossa vida sexual, já que os contextos doméstico e profissional costumam trazer questões que prejudicam a manutenção da intimidade com a parceria. O estresse gera geralmente ansiedade, que ativa o sistema nervoso simpático, responsável pela resposta de luta ou fuga. Com isso, nosso corpo fica em estado de alerta, o que dificulta relaxar e desfrutar de um momento de intimidade”, reitera.
Sexólogo e terapeuta somático, Flávio Teixeira complementa a análise de Renata, destacando que o estresse pode provocar uma mudança na dinâmica interna individual. “Ele ativa os modos de sobrevivência. Isso faz com que não consigamos estar presentes e abertos para se conectar com a outra pessoa, e o sexo necessita de uma troca de intimidade. Para que uma relação sexual seja prazerosa, é necessário desenvolver a excitação, mas quando há, tensões, ela não se desenvolverá”, afirma Teixeira.
Mudanças hormonais e fisiológicas também podem influenciar o desejo sexual ao longo dos anos. “Com o passar do tempo, há uma diminuição dos hormônios masculinos e femininos. Algumas questões clínicas também podem influenciar na resposta sexual, como doenças crônicas, identifica o especialista.
Além disso, é fundamental levar em consideração o contexto individual de cada um. “Nossa sexualidade é sempre influenciada por fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais… Pode acontecer uma diferença na resposta sexual da mulher que acabou de ter um bebê, por exemplo, devido não apenas aos hormônios envolvidos, mas também a toda mudança que ter um filho pode acarretar. Com a idade, os homens passam pela andropausa, o que acarreta uma diminuição do nível de testosterona, e isso também pode trazer mudanças na resposta sexual dele”, salienta Renata.
O jornal O TEMPO foi às ruas para conversar com as pessoas e entender como essas análises se comprovam na prática. Os entrevistados disseram que, sim, inevitavelmente o tesão pode diminuir com o passar do tempo, mas isso não significa que o desejo chegou ao fim. Casado há 27 anos, o comerciante Marcelo Pires, de 57 anos, afirma que o amor deve ser tratado como um jardim. “Ele precisa ser cuidado, com amor e carinho, arrancando as ervas daninhas. E se não cuidar todos os dias, acaba morrendo”, pontua.
Solteira, a dona de casa Gleiciele Falcão Vieira da Silva, de 25 anos, afirma que o passar dos anos fatalmente contribuiu para o desgaste da relação. “Não tem como garantir o desejo para o resto da vida. A questão é ter confiança”, afirma. Já para a costureira Nelcida Silva Torres, de 48 anos, o que importa é que exista amor entre as partes envolvidas em um relacionamento. Casada, ela afirma que, “se o sentimento for verdadeiro, pode até diminuir, mas não acaba.” E para o motorista de transporte escolar José Carlos Soares, de 65 anos, “o desejo não tem prazo de validade, mas a falta de confiança pode acabar com qualquer paixão”, resume.
Ações para reacender o tesão
Mas, afinal, é possível ter tesão no outro depois de tantos anos de relacionamento? Os especialistas respondem que não só é possível, como preciso. O primeiro passo é reconhecer se algo não vai bem na relação. “Cabe ajuda profissional quando está havendo algum sofrimento, seja individual ou que afeta a parceria; quando o sexo deixou de ser prazeroso e satisfatório; ou quando uma pessoa só consegue se excitar de uma única forma”, pondera a psicóloga especialista em sexologia e educação sexual, Renata Lanza.
As flutuações no desejo são naturais e não precisam se tornar um problema no relacionamento, aponta Renata, enumerando algumas ações para manter vivo o tesão. “Pequenas alterações na logística podem ser realizadas, e as parcerias podem ativamente construir momentos de mais conexão, erotismo, vínculo e trocas prazerosas. Realizarem atividades novas e projetos em comum, terem conversas com conexão e compreensão, se divertirem juntos, são algumas formas de se estimular o vínculo e, consequentemente, alimentarem a paixão e o tesão’, diz Renata.
É importante destacar que o tempo não é necessariamente prejudicial ao tesão de um casal. “Quando o sexo é bom e de qualidade, o relacionamento só tende a melhorar com o tempo. É muito satisfatório quando nos sentimos amados, desejados, respeitados. Quanto melhor a comunicação e a capacidade de alinhamento (emocional e sexual), maior a satisfação relacional e sexual”, diz a psicóloga.
“O desejo sexual pode evoluir e se tornar mais profundo. Para isso, é preciso conhecer sobre o outro e saber o que o deixa estimulado. Há casais, por exemplo, que fazem do sexo uma brincadeira, em que representam papéis ou exploram coisas diferentes. Há outra que trabalham para construir uma ‘fusão’ com o outro: ou seja, o sexo se torna um momento de conexão energética. Então, é importante entender como cada um funciona e saber o que é erótico para cada um. Também é preciso criar momentos onde o casal possa se redescobrir e saber que partes do corpo são estimulantes”, afirma o sexólogo e terapeuta Flávio Teixeira.