No último Dia dos Namorados, a atriz Fernanda*, 32, não estava a fim de transar. Era uma quarta-feira e, além de cansada, ela havia chegado tarde em casa. Mas, mesmo com a compreensão do namorado, ela não deixou de sentir certa pressão, algo que ela reconhece que não aconteceria se fosse um dia qualquer. Da outra parte, isso também já chegou a ocorrer. Desta vez, durante uma viagem feita com o companheiro. “Sexo, para mim, tem que acontecer, acima de tudo, quando as partes estão com vontade, o que não necessariamente vai coincidir com as datas comemorativas. Mas, como nem tudo é preto no branco, isso não deixa de gerar certa frustração. Quando, por exemplo, nós viajamos e não transamos em um dos dias, fiquei um pouco decepcionada. Mas depois conversamos e ficou tudo bem”, lembra.
A psicóloga e sexóloga Renata Lanza explica que essa associação das datas comemorativas – principalmente as românticas, ou mesmo de viagens e férias – com o sexo está relacionada, principalmente, à nossa percepção desses períodos. As férias, por exemplo, indicam mudanças na rotina, pausa das obrigações e diminuição dos estresses diários, o que pode contribuir para que haja mais disposição e entrega para relações sexuais. “É justamente por estarmos relaxados, com a cabeça fresca, sem preocupações, que isso se torna mais possível. Nas datas especiais, também ocorre um movimento nesse sentido, por vários motivos. Esses dias são favoráveis a uma lembrança boa de como o relacionamento começou, e essas memórias podem atuar como uma forma de reconexão do casal. Outro motivo seria porque essas datas são uma boa razão para eles se ‘desligarem’ de outras obrigações do dia a dia, permitindo até adiar compromissos em prol da comemoração com a parceria”, diz.
Para a sexóloga Théa Murta, a explicação também está por trás do aspecto romântico que essas datas carregam. “Não é uma regra, mas o que eu observo é que tem uma romantização mesmo, principalmente no Dia dos Namorados, e o sexo acaba entrando nessa romantização. É um momento íntimo, um momento em que o casal está comemorando uma data importante do relacionamento. Então isso pode acabar levando ao sexo”, pontua. Ela acrescenta ainda que essa expectativa também está ligada à forma como as pessoas encaram a relação sexual. “Isso vem de como as pessoas interpretam o sexo, vendo-o como um momento de intimidade”.
Théa ressalta, porém, que é preciso ter cuidado, porque uma grande expectativa depositada nesses momentos pode significar também que há um descompasso na rotina do casal. “O sexo pode não estar acontecendo, e aí já fica um convite para ver como é o cotidiano e entender o que está acontecendo para trazer o aspecto da intimidade no contexto amplificado, não só no sexo padrão, mas em momentos de conexão do casal, de toque, de beijo, de carinho – que, sim, podem levar ao sexo, mas de uma maneira mais fluida na rotina”, orienta. “Se a gente se esquece do dia a dia, torna-se quase uma obrigação que a relação aconteça nessas datas”.
Aliás, tratar a relação sexual como obrigação em ocasiões comemorativas é algo que não deve ser feito, já que pode trazer consequências negativas para o relacionamento e cobranças desnecessárias não só entre o casal, mas até mesmo em uma das partes consigo mesma. “Quando existe a percepção de que o sexo virou uma obrigação, é realmente um ponto delicado, porque tudo que vem dessa forma tende a gerar um peso maior e, consequentemente, um distanciamento”, explica Théa.
Assertividade e compreensão para uma vida sexual
A sexóloga Théa Murta orienta que é sempre importante alinhar as expectativas entre o casal, conversando e construindo-as juntos. “Assim, eles podem entender um pouco o que cada um quer, o que está disposto a ter naquele momento”, afirma. Renata Lanza reforça o coro, ressaltando a importância da comunicação. “É preciso assertividade e compreensão de todos os envolvidos para que a vida sexual seja saudável e prazerosa. É válido conversar sobre as formas de propor e recusar o sexo, falar sobre os motivos pelos quais você se sente na obrigação de fazer mesmo sem vontade”, aconselha ela, acrescentando que, se for algo difícil de lidar em casal, vale buscar ajuda de um terapeuta sexual.
As especialistas ainda orientam que diversificar o sexo também pode contribuir, principalmente, para ampliar as formas de intimidade e conexão entre o casal. “O ato sexual é muito gostoso, ou pelo menos deveria ser, mas não deve ser a única forma de as parcerias comemorarem. Acho que o principal para os relacionamentos é quando os envolvidos se sentem amados, desejados, respeitados, e existem várias maneiras de isso acontecer que não apenas no sexo. Uma saída sem o celular, uma massagem de casal, uma troca profunda de olhares, voltarem a se beijar sem a obrigação de terminar em sexo, rirem e se divertirem juntos… estarem presentes na presença do outro. O sexo gostoso e prazeroso é apenas uma das várias formas de conexão entre parceiros”, destaca Renata.
(*) Nome fictício