Embora o sexo seja um componente importante para o sucesso de um relacionamento, pessoas que estão em relações mais longevas costumam fazer sexo com menos frequência. É isso o que mostra um estudo realizado em 2015, na Alemanha, que analisou a vida sexual de mais de mil casais e descobriu que logo depois dos dois primeiros anos de relacionamento, eles já passam a fazer menos sexo - em média, cinco vezes a menos por mês. A tendência, conforme o estudo, é que a frequência se torne ainda menor nos anos seguintes.
A sexóloga Carla Cecarello explica que essa situação costuma acontecer porque relacionamentos mais longevos acabam trazendo outras contribuições, fazendo com que o sexo, mesmo que importante, deixe de ser uma prioridade. “É como se ele viesse como uma espécie de confirmação de que o relacionamento está gostoso, de que ainda existe uma intimidade e de que o casal ainda gosta de participar desse momento”, pontua.
Carla acrescenta ainda que, nesse sentido, a relação sexual funciona como um complemento a outras questões que também são importantes como o companheirismo e uma intimidade que vai além do sexo, incluindo também o conhecimento do outro e o entendimento das necessidades de cada um.
A especialista também pontua que outros projetos também podem acabar surgindo como prioridade, o que acaba fazendo com que a relação sexual fique menos frequente. “É natural que outras coisas surjam como importantes. Às vezes é comprar um imóvel ou ter filhos. Esses são projetos que ocupam um bom espaço da vida de um casal, então o sexo não fica sendo mais prioritário, mas é ele importante”, reitera.
A terapeuta sexual Tami Bhavani observa que a própria rotina também pode influenciar na frequência. Ela exemplifica essa questão com a situação de pessoas casadas. “Quando estamos namorando, normalmente, nos aprontamos, compramos uma roupa nova, nos maquiamos porque estamos na expectativa de encontrar o outro. Depois que a gente casa, essa paixão, essa novidade de se encontrar, não existe mais, então o casal pode deixar de se produzir um para o outro, não tirar um tempo para sair, ficar a sós, namorar. Isso faz com que a paixão seja drenada”, afirma.
Morar junto também é uma situação que pode tornar a intimidade sexual mais complicada. Essa foi uma situação enfrentada pela social media Nathália*, de 25 anos. “Ver a pessoa sem roupa acaba se tornando algo do dia a dia. Acordar descabelada, ficar estranha às vezes em casa porque não quer se arrumar o tempo todo”, conta ela, que vive com a namorada.
Apesar de o contexto ter sido observado como um fator que comprometeu a frequência e, de certa forma, até o desejo entre as duas por algum momento na relação, ela diz que o mais importante foi perceber que as duas não se beijavam de língua com tanta frequência - e que era exatamente isso que faltava para deixar a “chama acesa”. “A gente estava deixando de lado esse ponto que fazia a chama ficar acesa. Era um selinho aqui, um beijinho ali. Quando identificamos isso, passamos a ter esses momentos com mais frequência, sem ser só quando estamos aprontando para dormir. Então, se ela está ali trabalhando, eu lasco um beijo, dou um abraço diferente, dou um beijo no pescoço”, diz.
Comunicação, respeito e cuidado com as pequenas coisas
Além de apimentar a relação e demonstrar que o desejo ainda existe, a comunicação também é fundamental para que a frequência sexual seja restabelecida, principalmente se isso se tornar um problema para o casal. “O primeiro passo é ter bastante diálogo dentro do relacionamento, sair para jantar, tirar um tempo para ficar sozinho, para falar sobre sexo e sobre o prazer um do outro”, aconselha Tami Bhavani.
Em um relacionamento há 17 anos, a bióloga Jéssica Barreto, de 31 anos, ressalta também que é preciso ter cuidado com as pequenas coisas. “Um elogio, um bom dia, uma mensagem carinhosa durante o trabalho”, lista. “Mas acima de tudo é preciso ter respeito, ouvir o outro com atenção, não fazer birra e tentar resolver as coisas na conversa mesmo, chegando a um acordo”, diz.
Se o relacionamento cai na mesmice, mudar a rotina também pode contribuir. “Vale começar a promover momentos para o casal, escolher dias da semana em que os dois possam sair juntos, promover uma viagem só do casal ou que mesmo dentro de casa os dois possam abrir um vinho, assistir uma Netflix juntos”, sugere a sexóloga Carla Cecarello. “Quem perceber que a relação está assim pode também começar a dar os primeiros passos e a dividir essa questão com a outra parceria, mostrando que não está legal e pedindo para que juntos eles tentem melhorar, porque a acomodação é algo que leva à mesmice de forma inevitável”.