Você gosta de tomar banho? Quantos você toma por dia? A cabeleireira Márcia Mendes, 45, diz que não abre mão dos dois banhos por dia. “Dura uns 20 minutos cada, é bom pra relaxar”, explica. “Eu tomo banho de manhã cedo, quando acordo, e à noite, quando eu chego em casa do serviço”, conta o servidor público Osvaldo de Oliveira. O mecânico João da Silva afirma: “Dois banhos. Dependendo do dia é três ou quatro, mas dois é obrigatoriamente”. Já o também servidor público Alexandre Augusto de Jesus fala que, diariamente, toma uma média de três banhos. “Com o clima brasileiro a gente tem que tomar de dois a três”, detalha ele.

As respostas, dadas à reportagem de O TEMPO, no centro de Belo Horizonte, reafirmam o resultado de um estudo recente da World Population Review (organização independente que fornece dados demográficos e populacionais globais atualizados), que aponta que os brasileiros são os campeões mundiais em frequência de banhos. De acordo com a pesquisa, 99% dos brasileiros entrevistados tomam, pelo menos, um banho de chuveiro semanalmente. O levantamento também revela que os brasileiros tomam uma média de dois banhos por dia, somando 14 banhos por semana. O hábito está relacionado ao clima quente e úmido do país. Para comparação: no Reino Unido, que ficou em segundo lugar, 83% das pessoas tomam banho de chuveiro semanalmente; e na Alemanha, em terceiro, 92% da população declararam tomar, pelo menos, um banho de chuveiro semanalmente.

A explicação para esse comportamento no Brasil tem relação com o clima tropical do país, mas especialistas observam que é preciso adotar alguns cuidados com a pele. “O banho é importante para a nossa higiene geral. Precisamos ter a pele limpa para evitar infecções bacterianas em áreas de dobras; áreas que utilizamos para as nossas funções fisiológicas; e o couro cabeludo, uma área que contém alta densidade de glândulas sebáceas”, disse a médica Regina Schechtman, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio de Janeiro. “A falta de banho pode ocasionar doenças como impetigo, foliculite e furúnculo, que podem ser causados pelos estafilococos”, alertou a médica, referindo-se às bactérias que vivem na nossa pele e que esperam uma lesão para poder entrar no nosso organismo.

Marcela Mattos, dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, concorda e acrescenta que o banho também é importante para a regularização do sebo na pele: “Temos uma produção diária de sebo que, em excesso, pode gerar danos como doenças de pele, como a acne. Então, o banho ajuda no equilíbrio da nossa pele, que é o principal órgão responsável pela nossa defesa externa”. Segundo Marcela, o excesso de banho também é prejudicial, uma vez que remove a proteção natural da pele. “Há casos que são especiais, de pessoas que fazem atividade física, suam muito, e que a gente recomenda uma higienização mais vezes ao dia. Mas de um a dois banhos por dia já seria o suficiente para manter a boa higiene e o equilíbrio da pele”, pontua.

Cuidados básicos

Se o banho é questão de saúde, as especialistas ouvidas pela reportagem listaram alguns cuidados que devemos ter com a pele. Segundo a dermatologista Regina Schechtman, banhos muito quentes são prejudiciais, pois provocam o ressecamento do tecido. “O ideal é que a temperatura da água seja igual à nossa temperatura corporal, cerca de 37°C. Acima disso, 40°C, 45°C, já é maléfico”, afirmou. Marcela Mattos explica que a temperatura morna é recomendada independentemente se está fazendo calor ou frio. “A água fria vai pelo gosto da pessoa, porque ela gosta ou está um dia muito quente. Mas do ponto de vista de saúde, não é necessário”, observou. “No caso da água muito quente , além de tirar as defesas naturais, a pele entra em um processo de desidratação, estimulando a produção do chamado sebo rebote, que intensifica doenças como acne e inflamações da pele”, alertou. Banhos longos também devem ser evitados.

Marcela Mattos também orienta que o uso de bucha, inclusive a vegetal, seja feito por quem lida ou tem contato com substâncias ou com acúmulo muito grande de sujeira na pele. De acordo com a especialista, o ideal é passar na pele a espuma do sabonete, e não o sabonete. “Ela limpa e não vai agredir a pele”, frisou a dermatologista.

O recomendado, segundo Regina Schechtman, é substituir os sabonetes antissépticos pelos que tenham óleos (como os óleos essenciais) ou aqueles que sejam mais cremosos. “Ao sair do banho, em vez de se secar fazendo movimento como se estivesse esfregando a pele, seque de maneira suave e deixe a pele ligeiramente úmida. Em seguida, passe um hidratante, se você tem a pele normal ou oleosa. Para quem tem a pele mais seca, o ideal é usar algum óleo, como o de amêndoas”, explicou. Caso perceba coceira, vermelhidão, entre outros sintomas, a orientação é a de sempre: procurar um médico.

Dicas

  • Hidrate sua pele mais no inverno. A temperatura mais fria e o clima seco faz com que você se desidrate mais
  • Não exceda o número de banhos: um é ótimo, dois é bom, três é ruim
  • Reduza o uso de bucha e de sabonete direto na pele
  • Lembre-se: higiene da pele é fundamental

Em estudo, médico fica 8 anos sem tomar banho

Em 2015, James Hamblin, médico especializado em medicina preventiva e professor na Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale (EUA), decidiu parar de tomar banho. Com esse experimento, ele queria investigar os efeitos da higiene mínima na saúde da pele e no bem-estar geral. Na contramão do que recomenda a medicina, a conclusão que ele chegou é de que os banhos podem ser descartados. “Eu me sinto perfeitamente bem. Você se acostuma. Eu me sinto normal”, afirmou ele ao jornal “El Tiempo”, da Colômbia.

O médico revelou que, nesse período, tem usado apenas sabão para lavar as mãos, e manteve, também, a higiene bucal. Hamblin disse que seu corpo alcançou o equilíbrio natural com os óleos e micróbios presentes na pele. Ao minimizar o uso de produtos agressivos, ele afirmou que o corpo ajustou sua produção de óleo e manteve um ambiente microbiano mais estável e saudável. Ele contou que parar de tomar banho foi algo gradual.

No começo, ele começou a ficar alguns dias sem e reduzir o uso de sabonetes e xampus. “Houve momentos em que eu queria tomar banho porque sentia falta, cheirava mal e sentia que estava oleoso. Mas isso começou a acontecer cada vez menos”, disse. (Com agências)