É bem provável que você já tenha ouvido falar sobre harmonização facial ou saiba inúmeros exemplos de famosos e anônimos que tenham recorrido ao procedimento. Mas o uso de substâncias como o ácido hialurônico, lasers ou outros tipos de tratamentos que podem envolver até mesmo pequenas cirurgias também tem sido aplicado à região íntima. Para se ter uma ideia do quanto esse tipo de procedimento tem se tornado popular, dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS, na sigla em inglês), apontam que somente no ano passado foram realizados mais de 84 mil procedimentos de “rejuvenescimento vaginal” no mundo. Só no Brasil, foram quase 13 mil. Segundo a ISAPS, o Brasil é líder em cirurgias íntimas há dois anos.

Ginecologista especializada em cosmetoginecologia e cirurgia íntima a laser, Eduarda Maciel (@draeduardamaciel) explica que embora os  procedimentos utilizados na harmonização tenham tido seu uso popularizado na região da face, os benefícios observados nesses tratamentos - entre eles a melhora na produção de colágeno e aumento da firmeza da pele, por exemplo - fizeram com que sua aplicação também fosse expandida para outras áreas. 

No caso da região íntima, a harmonização pode ser utilizada em diferentes casos que vão desde a recuperação de áreas que podem ir perdendo o colágeno e a elastina, com o avançar da idade, até a ninfoplastia ou labioplastia, procedimento que tem como objetivo reduzir o tamanho dos pequenos lábios vaginais ou corrigir possíveis assimetrias. “Assim como a face tem um padrão de harmonização, observamos isso também na região íntima, com os pequenos lábios escondidos pelos grandes”, pontua a médica. 

Eduarda explica que no caso da ninfoplastia são vários os fatores que podem afetar a disposição, o tamanho e até mesmo a simetria da vulva. “Os lábios podem ser muito grandes por uma questão genética ou pelo próprio envelhecimento, com a perda de colágeno ou gordura”, diz. Outros procedimentos também podem ser adotados nesse caso. “Podemos fazer um preenchimento vulvar com ácido hialurônico ou estimular a produção de colágeno através da bioestimulação com laser. Todas as tecnologias que usamos na face, conseguimos utilizar na região íntima”, destaca. 

O cuidado com a pele também acaba sendo englobado no que é compreendido como harmonização íntima. “A cor normal da região é um tom acima do da pele, mas às vezes com a depilação com cera, gilete ou por conta do atrito, quando uma parte encosta muito na outra, ou se a mulher usa muito calças apertadas, a cor pode ser alterada e a paciente pode optar por fazer o clareamento da região. Nesse caso, podemos utilizar técnicas como peeling ou o laser”. 

Embora a maioria dos tratamentos seja voltado para o lado estético, Eduarda pondera que os benefícios podem ir muito além da aparência. “A harmonização externa é uma questão mais estética, mas que melhora até mesmo a questão psicológica. Algumas mulheres, quando os pequenos lábios são muito grandes, têm vergonha de ficar pelada, ou essa pode ser uma condição que encobre muito o clitóris, então a correção acaba também tendo um papel funcional”, afirma. 

Por outro lado, tratamentos feitos no canal vaginal, como o rejuvenescimento íntimo, acabam trazendo benefícios para o funcionamento da região. “Ele é indicado para pacientes que foram submetidas ao parto normal,  que sentem algum grau de incontinência ou fraqueza do assoalho pélvico. Nesses casos, optamos pelo laser interno para o tratamento funcional, melhora na circulação sanguínea, do colágeno, da elastina”, lista. “É algo que vai melhorar a lubrificação, a firmeza, a flacidez e pode ser aplicado também para mulheres em menopausa, que sofrem com o ressecamento e atrofia vaginal”. 

No caso dos homens, existem também tratamentos disponíveis. “Tem procedimentos que tanto para melhorar o aspecto da rugosidade da bolsa escrotal quanto para aumentar ou engrossar a região do pênis”, cita Eduarda. 

Apesar de existirem diferentes casos e recomendações para a opção pela harmonização íntima, o psicólogo e sexólogo Rodrigo Torres pontua que é importante entender o que está por trás da busca por esses procedimentos. “Pode haver um aumento de autoestima e bem estar em determinados casos, mas em outros a gente precisa identificar se não há nenhum tipo de dismorfia corporal, porque quando esses procedimentos aparecem, viram moda, todo mundo quer fazer e isso pode acabar reforçando estereótipos, perpetuando tabus e construindo uma sexualidade extremamente genitalizada e pouco saudável”, afirma.