Leonardo Gontijo tinha 12 anos quando recebeu a notícia de que ganharia mais um irmão. Caçula de três, ele sempre desejou ter mais um membro na família. “A nossa ligação sempre foi muito forte, desde o nascimento, desde a hora da notícia. Hoje temos 34 anos de parceria”, conta. Foi dessa relação, inclusive, que surgiu o Instituto Mano Down, organização que hoje atende cerca de 1.100 famílias de pessoas com síndrome de Down e outras deficiências intelectuais. “Quando o Dudu nasceu, em 1990, a expectativa de vida das pessoas com deficiência intelectual no Brasil era de menos de 25 anos. Hoje, em 2024, já são 60 anos. Então, tivemos um avanço legal. Porém, a alfabetização era de menos de 10% e até hoje continua a mesma, o que é um absurdo. E dois dados estarrecedores são que 70% dos pais, homens, abandonam o filho com deficiência intelectual, no Brasil, antes de ele completar 5 anos, e 73% da geração do meu irmão é abusada sexualmente. São dados assustadores, que justificam a nossa existência. O Mano Down existe para mudar essa realidade”, reforça Leonardo Gontijo. “O nosso slogan é trocar a palavra ‘exclusão’ por oportunidades”, completa.
Uma dessas oportunidades apareceu para a artesã Ana Lúcia Léllis, 40. Mãe da pequena Luísa, ela conta que conheceu o Instituto Mano Down por meio de outra mãe atípica, quando trocavam experiências. “Ainda estava grávida, e as dúvidas eram muitas. Conheci pelo Instagram e fui acompanhando e vendo que a síndrome de Down exige mais dedicação e oportunidade e que não era algo difícil”, lembra. Como a filha nasceu prematura e com uma cardiopatia congênita, as boas-vindas no instituto aconteceram apenas quando a bebê tinha 8 meses. “Ela precisava ganhar peso para fazer a cirurgia, e foi depois disso que tivemos a oportunidade de ir para a tão sonhada reunião do Mano Down”.
Desde então, a vivência tem sido muito positiva, segundo a artesã. Ana Lúcia conta que Luísa, agora, com 2 anos e 9 meses, desenvolve diferentes atividades na organização, que incluem hidroterapia, fisioterapia, fonoaudiologia, musicoterapia, terapia ocupacional, além de ter acompanhamento com uma nutricionista. “Nossa experiência no Mano Down é extraordinária, vemos a oportunidade todos os dias através de cada aprendizado. É uma busca diária para todos os marcos de desenvolvimento, e a cada marco agradecemos ao instituto”, explica Ana. Ela pontua ainda que tem visto, graças ao trabalho desenvolvido no local, o desenvolvimento da filha.
As atividades na faixa etária da pequena Luísa, porém, são apenas uma parte de tudo que é realizado pela organização belo-horizontina. Coordenadora do setor de mobilização de recursos do Instituto Mano Down, Miia Siqueira explica que o acompanhamento é pensado desde o nascimento dos bebês até o envelhecimento. “Quanto mais cedo fizermos as intervenções, mais autonomia e mais desenvolvimento vamos proporcionar. Hoje, vivemos em uma sociedade onde o preconceito ainda é muito gritante, por isso a gente busca dar oportunidade, preparando essas pessoas para o mundo, mas também preparando o mundo para elas”, afirma.
Atuante na área de projetos institucionais e inovação no Mano Down, Bruna Moreira Faria dá mais detalhes sobre as frentes de trabalho do instituto, explicando que, além de terapias voltadas para o desenvolvimento cognitivo, motor, de autonomia e de comunicação, há ainda atividades de socialização, reforço escolar e até mesmo acompanhamento das pessoas atendidas nos espaços da capital mineira. “Temos uma oficina chamada ‘Circula BH’, em que os nossos educandos circulam pela capital. Então, eles vão ao supermercado, ao teatro, às praças. Recentemente, fizemos uma visita ao metrô, e eles aprenderam como é o funcionamento do local, como é feito o pagamento da passagem, como devem esperar na plataforma. Tudo isso para que eles tenham mais autonomia”, esclarece Bruna.
Existem ainda frentes dedicadas à empregabilidade das pessoas atendidas pelo instituto. “Temos uma consultoria que chamamos de ‘Talento Apoiado’, inspirada no Emprego Apoiado dos Estados Unidos, que diz que todo ser humano é capaz de trabalhar, desde que tenha apoio. Então, o que fazemos é também estar dentro das empresas, dentro das organizações, falando de diversidade, mostrando a inclusão e ensinando a lidar com as pessoas com deficiência”, elucida a coordenadora. Até o momento, conta, já são 86 pessoas empregadas por meio do projeto, além de um banco de talentos com mais de cem pessoas aptas a trabalhar.
Mas a intenção é ampliar esses números. Miia explica que um dos projetos do Mano Down é atender mais mil famílias até 2025. “Nossa pesquisa mostrou que temos em BH 120 mil pessoas com algum tipo de deficiência, 26 mil com deficiência intelectual, sendo 6.000 com síndrome de Down. Então, sabemos que temos muito trabalho pela frente”, afirma Miia.
Parceria com o Grupo SADA
Desde 2023, o Grupo SADA é um dos patrocinadores do Instituto Mano Down por meio de leis de incentivo. Analista de diversidade e inclusão sênior do grupo, Priscila Cavalcante explica que a parceria é uma forma de reafirmar o compromisso da empresa com a responsabilidade social e com a transformação das realidades das pessoas. “Acreditamos que a inclusão é um objetivo e um caminho que deve ser trilhado de forma coletiva. A parceria com o Mano Down surge da necessidade de promover um impacto positivo e social, proporcionando oportunidades para o desenvolvimento integral de pessoas com deficiência”, destaca.
Priscila ressalta, ainda, que a colaboração com a organização teve início com um aporte financeiro destinado a um projeto aprovado pelo Fundo da Infância e Adolescência, com o objetivo de fomentar ações para o desenvolvimento de pessoas com síndrome de Down na primeira infância, reconhecendo a importância de investir na inclusão desde os primeiros anos de vida. Agora, porém, a parceria tem sido expandida com outras atividades. “Implementamos também visitas guiadas à redação do jornal O TEMPO, proporcionando aos jovens do Mano Down a oportunidade de conhecer os bastidores de uma grande editora. Essas experiências incentivam a familiarização com o ambiente corporativo e estimulam o interesse e a preparação desses jovens para o mercado de trabalho”, frisa.