Antes de se separarem em 2017, o produtor audiovisual Pedro Cardoso(*) e a ex-companheira, envoltos em problemas e desgastes próprios de uma relação de sete anos, começaram a fazer terapia de casal para tentar corrigir os rumos da união e salvar o que haviam construído até então. “Muita briga, pouca paciência um com o outro, mas a gente se gostava e queria tentar fazer dar certo”, comenta.

Quatro meses e oito sessões depois, o casal se separou. A experiência deixou alguns ensinamentos para Pedro Cardoso. O produtor pondera que a terapia funciona com uma pessoa como mediadora de problemas entre duas pessoas, mas ressalta que, em seu caso particular, houve um equívoco na escolha do especialista que conduziria o processo.

Olhando em retrospecto, Pedro vê com clareza o que poderia ter sido corrigido e, brincando com a situação, deixa uma dica para quem pretende apostar na terapia de casal como auxílio para melhorar o relacionamento: “Nunca faça terapia de casal com o psicólogo da sua esposa. (risos) A gente sempre soube disso, mas pela facilidade, insistimos. Ele era uma ótima pessoa, tentava ser imparcial, mas em muitos momentos não conseguia. Deu ruim”.

Pedro Cardoso e a ex buscaram ajuda quando a união já estava à beira do colapso. Entretanto, há contextos diversos e especialistas ressaltam que a terapia de casal não funciona somente para aqueles que já estão há anos e anos juntos ou percebem que o relacionamento está indo pelo ralo.

“A ideia de que a terapia de casal é um último recurso ainda é muito comum, mas equivocada. A verdade é que ela pode – e deve – ser procurada de forma preventiva, logo nos primeiros sinais de afastamento emocional, dificuldades de comunicação ou conflitos recorrentes”, comenta a psicóloga, terapeuta de casais e especialista em análise transacional, Lidiane Araújo.

Os atores Sophia Abrahão e Sérgio Malheiros, por exemplo, recorreram à psicologia conjugal antes de completarem um ano de namoro. O objetivo era cultivar, desde o início, uma união saudável. Eles estão juntos há 10 anos. No fim das contas, não existe momento certo para procurar a terapia de casal.

“Esperar que a relação atinja um ponto crítico para então buscar ajuda é uma escolha arriscada. Casais que se antecipam ao desgaste emocional e procuram apoio profissional desenvolvem recursos importantes para a relação: escuta empática, clareza de limites, autorresponsabilidade e comunicação mais consciente”, completa Lidiane.

Salvação?

A psicóloga clínica e especialista em constelação sistêmica familiar, Gabriela Tavares, refuta a ideia de que a terapia de casal seja uma salvação para relacionamentos que estão naufragando. Para ela, esse pensamento é extremamente prejudicial porque cria expectativas deturpadas que, consequentemente, levarão a frustrações.

A terapia não é uma fórmula mágica ou um socorro de emergência que garante resultados se tudo já desmoronou. “Quando o casal chega com essa expectativa, corre o risco de responsabilizar o terapeuta por algo que, na verdade, depende do comprometimento de ambos”, destaca Gabriela, que faz uma ressalva: quanto mais tempo se espera para procurar ajuda, mais desgastes se acumulam e mais difícil fica o processo.

“A terapia não precisa ser o último recurso, pode ser um recurso contínuo de cuidado, escolha e construção conjunta. E quando ela é buscada com esse olhar, os resultados costumam ser muito mais potentes”, enfatiza a psicóloga. 

Mitos e preconceitos atrapalham o debate

As psicólogas Lidiane Araújo e Gabriela Tavares são taxativas em afirmar: a terapia de casal ainda é vista sob pontos de vista obscurecidos por estigmas, distorções e preconceitos. Ver o processo como sinônimo de que o relacionamento está falido, resistência dos homens por medo de parecerem frágeis (condição ligada a crenças antiquadas sobre masculinidade) e acreditar que a terapia é um tribunal para julgar e decidir quem está certo e errado são alguns dos mitos que ainda são ligados erroneamente à prática.

“Ouvimos muito: ‘se precisar de terapia é porque já deu errado’. E isso não é verdade. Na prática, terapia de casal é um espaço seguro de escuta, mediação e crescimento mútuo. O objetivo não é salvar o relacionamento a qualquer custo, mas, sim, ajudar o casal a se escutar de verdade”, sublinha Gabriela Tavares. “O foco é entender padrões, desarmar defesas e criar um espaço seguro para retomar o diálogo e a conexão”, acrescenta Lidiane Araújo.

Lidiane, porém, enxerga avanços. Segundo a terapeuta de casais, as novas gerações têm procurado ajuda com mais naturalidade e menos vergonha. “E quanto mais falamos sobre isso, mais normalizamos a ideia de que cuidar da relação é um ato de responsabilidade e amor. Terapia é ferramenta – e das mais poderosas – para quem quer construir algo duradouro”, afirma a psicóloga. 

(*) Nome fictício utilizado a pedido do entrevistado