É comum que o “Big Brother Brasil” fomente debates que ultrapassem as paredes do confinamento. Uma das discussões recentes sobre a edição deste ano foi a respeito de envelhecimento, uma vez que Joselma – ou Delma, como prefere ser chamada – tem sido tratada como idosa dentro da casa.
Acontece que internautas chamaram a atenção para o fato de que a pernambucana tem 54 anos, e, pela convenção legal, são consideradas idosas somente aquelas pessoas com 60 anos ou mais. Um usuário do X (antigo Twitter) ainda postou uma foto de Joselma ao lado da imagem da atriz Alessandra Negrini, destacando que ambas têm a mesma idade, mas aparências distintas. Com mais de cinco milhões visualizações, o post recebeu inúmeros de comentários de pessoas reforçando as diferenças entre as duas.
Gente, a Joselma não é idosa. É considerado pessoa idosa, de acordo com nossa legislação, quem tem 60 anos ou mais, art. 1º do Estatuto da Pessoa Idosa - Lei 10.741/2003. E só a título de comparação, ela tem a mesma idade da Alessandra Negrini, qual seja, 54 anos. #BBB25 pic.twitter.com/3EIL0MYSct
— Jeje ✨ (@jejezaum) January 14, 2025Diante do debate, surge um questionamento: pessoas com a mesma idade podem envelhecer de maneiras diferentes? A resposta é sim e está atrelada a inúmeras razões, que incluem fatores genéticos, estilo de vida, ambiente, condições financeiras e acesso à saúde mental e física. Para começar, é importante destacar que, no Brasil, a classificação de uma pessoa como idosa a partir dos 60 anos busca reconhecer e proteger os direitos da pessoa idosa.
“No entanto, essa definição pode não refletir a realidade de todas as pessoas nessa faixa etária. A condição de saúde, a vitalidade, a capacidade funcional e o estilo de vida variam entre indivíduos. Assim, enquanto algumas pessoas de 60 anos podem se sentir e agir como jovens, outras podem enfrentar limitações significativas”, defende a médica geriatra Milyan Mara Moreira Gomes. Sendo assim, a idade cronológica não é o único critério para determinar a velhice.
Até mesmo por isso, comparações como a de Joselma e Alessandra Negrini são cruéis, reforça a médica. “O debate que surgiu nas redes sociais sobre a participante do ‘BBB 25’ e a atriz vai além da simples comparação física, tocando em questões importantes como o preconceito etário e a pressão que as mulheres enfrentam para manter uma aparência jovem. A comparação entre duas mulheres da mesma idade, com trajetórias e estilos de vida diferentes, revela as expectativas injustas que recaem sobre as mulheres”, salienta.
Co-fundador do Terra da Longevidade Negócios e autor do artigo “A Cada 20 Segundos Nasce um 50+”, Martin Henkel concorda com a geriatra. “Acompanhei um pouco desta repercussão, e acho ela totalmente fora de propósito. Quanto às comparações sobre a aparência de cada uma, a jornada da nossa vida é única e é composta de aspectos fisiológicos, herança genética familiar e situações de estresse nas várias fases da vida”, argumenta.
Dessa maneira, antes de tudo é importante levar em conta que cada envelhecimento é único e pode ocorrer cercado ou não de privilégios. Joselma, por exemplo, precisou vender marmitas por muitos anos para ajudar a família. Além disso, ela admitiu que fuma, consome bebidas alcoólicas e não gosta de fazer atividades físicas. Por outro lado, Alessandra Negrini frequentemente compartilha sua rotina de alimentação saudável, de exercícios e de realização de procedimentos estéticos.
A geriatra atesta que os hábitos estão diretamente ligados ao tipo de envelhecimento de cada um. “Fatores comportamentais, como hábitos como alimentação, exercício físico, consumo de álcool e tabaco têm um impacto direto na saúde. O gerenciamento do estresse e a qualidade das relações sociais são igualmente importantes para um envelhecimento saudável”, aponta.
Fatores biológicos e comportamentais também podem determinar o tipo de envelhecimento de cada um. “Genética e a biologia celular desempenham um papel crucial, afetando a longevidade e a predisposição a certas doenças. A exposição a poluentes, condições climáticas e estilo de vida em diferentes regiões podem atingir a saúde. O acesso a cuidados de saúde e a qualidade do ambiente em que se vive também são determinantes”, ressalta. (Veja, abaixo, a lista detalhada de hábitos saudáveis e nocivos à saúde em relação ao envelhecimento)
A especialista também identifica sinais e sintomas que podem estabelecer que uma pessoa está envelhecendo mais rápido do que o esperado para sua idade. Nessa lista estão fadiga excessiva, dificuldades cognitivas, redução da massa muscular e problemas de mobilidade. “A perda de força e massa muscular, também conhecida como sarcopenia, é um sinal comum de envelhecimento prematuro. Dificuldades para se mover ou realizar atividades diárias também podem indicar um envelhecimento acelerado”, sinaliza.
Cuidados com a pele
Geralmente é na pele que se reconhece a idade aproximada de uma pessoa. Portanto, é um dos órgãos que mais merece cuidado quando se trata de retardar os efeitos do avançar dos anos. A exposição ao sol é o hábito que mais contribui para a piora do aspecto da cútis.
“Os raios UV induzem alterações na pele, conduzem à produção de radicais livres de oxigênio e a alterações morfológicas. Com isso, causam queimaduras, fotoenvelhecimento e câncer da pele”, explica médica dermatologista do Hospital Felício Rocho, Mariana Menezes. Quando a exposição ao sol é feita sem protetor solar, é comum aparecerem alterações da cor da pele, como manchas, pintas e sardas, além de rugas, manchas e mudanças da textura.
“O agente mais importante na prevenção do fotoenvelhecimento, sem dúvidas, é o protetor solar. Este deve ser utilizado diariamente, independente do clima, uma vez que a emissão dos raios uv é diária. Cuidados com a pele e a limpeza diária da mesma também ajudam a manter uma aparência menos envelhecida, assim como a ingestão adequada de água”, indica a dermatologista.
Ela afirma que é necessário usar filtro solar em todas as áreas expostas do corpo e reaplicá-lo ao longo do dia. “Usar um protetor adequado a exposição, por exemplo, mais resistente à água se for nadar, também é importante. Dependendo do grau de exposição solar é necessária a proteção física com óculos escuros, bonés, roupas uv, guarda-sol ou barracas. Hidratação é outro ponto de destaque, tanto diretamente na pele quanto por ingestão de água”, aponta.
A dermatologista pondera que a prevenção do fotoenvelhecimento deveria ser um hábito coletivo, sem exceções em termos de indicação. No entanto, existem alguns procedimentos que podem ser feitos para retardar os efeitos de envelhecimento.
“Peelings químicos, luz pulsada, laser fracionado, são procedimentos que podem trazer melhoras na textura, rugas e alterações de cor provenientes do envelhecimento. A toxina botulínica trata rugas dinâmicas e previne que as mesmas se tornem estáticas. Preenchedores ajudam com correções na mudança da estrutura óssea e disposição da gordura com o envelhecimento e bioestimuladores ajudam com a flacidez estimulando a síntese de colágeno”, enumera a médica.
Capacidade financeira de cuidar da saúde
As condições financeiras são um elemento crucial para o envelhecimento mais acelerado de alguém. “Dentro do Brasil temos vários brasis. Brasil das metrópoles, Brasil do interior e o Brasil profundo. Em cada um deles, a capacidade financeira e o grau de instrução das pessoas têm um impacto brutal na qualidade de vida ou falta dela", comenta co-fundador do Terra da Longevidade Negócios, Martin Henkel.
"Neste aspecto deixamos muito a desejar. Do atendimento às demandas básicas da assistência básica e preventiva, vital na qualidade de vida, controle de comorbidades naturais nas idades mais avançadas à assistência social e segurança alimentar. Sabemos que muitos idosos sustentam, além de si, suas famílias. Seja com a aposentadoria ou com o benefício de Prestação continuada. Em 2022 o IBGE identificou que 24% dos lares brasileiros tinham um 60+ como provedor da renda principal ou única”, ressalta Henkel, que também é CEO da SeniorLab e professor convidado de Marketing 60+ na FGV.
Segundo a médica geriatra Milyan Mara Moreira Gomes, “as condições financeiras podem, de fato, ser um fator determinante no processo de envelhecimento, tanto de forma direta como indireta, influenciando o acesso a recursos essenciais que promovem a saúde e o bem-estar.”
“Daí a importância do setor saúde se somar aos demais setores da sociedade no combate às iniquidades. Todas as políticas que assegurem a redução das desigualdades sociais e que proporcionem melhores condições de mobilidade, trabalho e lazer são importantes neste processo, além da própria conscientização do indivíduo sobre sua participação pessoal no processo de produção da saúde e da qualidade de vida", complementa a médica.
Hábitos que contribuem para envelhecimento saudável e costumes nocivos à saúde
Médica geriatra, Milyan Mara Moreira Gomes lista os hábitos de vida que mais contribuem para um envelhecimento saudável e quais são aqueles que podem acelerar esse processo. Confira:
Contribui para um envelhecimento saudável:
- Dieta equilibrada e variada: O consumo de frutas, vegetais, cereais integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis (como as encontradas no azeite, abacate e peixes) está associado a uma redução do risco de doenças crônicas.
- Antioxidantes e alimentos anti-inflamatórios: Alimentos ricos em antioxidantes (como frutas vermelhas, chá verde e nozes) ajudam a combater os radicais livres, que contribuem para o envelhecimento celular.
- Exercício regular: A prática de exercício físico moderado, como caminhadas, natação, corrida leve e treino de força, está associada à longevidade, maior massa muscular, melhor capacidade cardiovascular e saúde mental.
- Flexibilidade e equilíbrio: Atividades como ioga e pilates melhoram a flexibilidade e o equilíbrio, reduzindo o risco de quedas e lesões em idades avançadas.
- Sono adequado: O sono de qualidade é crucial para a regeneração celular, equilíbrio hormonal e funcionamento do sistema imunitário. Ele também melhora a saúde mental e reduz os níveis de estresse.
- Gestão eficaz do estresse: Técnicas de relaxamento, como meditação, ioga, respiração profunda e tempo para lazer, ajudam a reduzir os níveis de cortisol, um hormônio ligado ao envelhecimento prematuro.
Acelera o envelhecimento:
- Sedentarismo: A falta de atividade física leva ao enfraquecimento dos músculos e ossos, aumento do peso e maior risco de doenças crónicas, como diabetes e doenças cardíacas.
- Privação de sono crônica: Dormir mal está associado a um aumento do risco de doenças cardíacas, declínio cognitivo, aumento de peso e inflamação, acelerando o processo de envelhecimento.
- Estresse crônico: O estresse prolongado está associado a uma série de problemas de saúde, como hipertensão, doenças cardíacas, insônia e enfraquecimento do sistema imunológico.
- Tabagismo: Fumar danifica os vasos sanguíneos, reduz a elasticidade da pele e aumenta a produção de radicais livres, que aceleram o envelhecimento celular.
- Dieta rica em açúcar e gorduras saturadas: O consumo excessivo de alimentos processados, açúcares e gorduras saturadas pode aumentar o risco de doenças crônicas e acelerar o envelhecimento ao aumentar a inflamação no corpo.
- Deficiência de nutrientes: Deficiências de vitaminas e minerais podem enfraquecer o sistema imunitário e os ossos, contribuindo para um envelhecimento mais rápido.