Ter uma vida sexual ativa e satisfatória é o que muitos buscam, mas nem todos conseguem por motivos diversos. O fato é que os homens ainda estão mais perto dessa realização do que as mulheres. Segundo uma pesquisa desenvolvida pelo aplicativo de relacionamento Happn pelo menos 94% dos entrevistados do sexo masculino afirmaram ser “bons de cama”, analisando seus desempenhos mais recentes como bons ou excelentes. 

Por outro lado, 64% das mulheres relataram que as últimas experiências foram consideradas abaixo do esperado. A pesquisa, divulgada no segundo semestre de 2024, foi feita com mais de 3.000 pessoas declaradas heterossexuais. O desequilíbrio no resultado mostra que, caso a clássica pergunta “foi bom pra você?” fosse feita ao final de cada relação, haveria um grande constrangimento em muitas das vezes. 

Mas, principalmente, o estudo do Happn revela que há uma diferença nos conceitos de prazer entre os sexos. De acordo com Isabela Aguiar, médica ginecologista e pós graduada em sexualidade humana, essa insatisfação feminina escancara a grande diferença de como eles e elas enxergam o ato sexual. 

“Homens, em grande maioria, guiados pela pornografia, tem um comportamento muito mais genital e focam apenas nas partes íntimas durante a relação. Olham o corpo como um objeto sexual, rapidamente se sentem excitados e partem para a penetração esquecendo da fisiologia da excitação feminina. As mulheres precisam inicialmente do desejo na pessoa, que envolve não apenas o tesão, como também respeito, carinho e confiança”, destaca.

A terapeuta sexual e psicóloga clínica Leni Oliveira acrescenta que o sexo na pornografia é performático, feito para as câmeras, o que prejudica quem busca reproduzir o modelo. “Daí vem esse mito de que o cara ‘bom de cama’ é aquele que performa, e o prazer feminino está longe disto. As mulheres tem buscado muito mais interação de qualidade atualmente”, explica Leni. 

Como identificar

Mas, afinal, o que é ser “bom de cama”? Segundo o psicólogo e sexólogo, Rodrigo Torres, trata-se daquela pessoa que sabe pensar em si e no outro ao mesmo tempo. “Não é sobre performance, é sobre conexão, sobre saber criar intimidade, um espaço seguro, confortável, que tenha diálogo, comunicação, que tenha curiosidade sobre o corpo e o prazer da outra pessoa e vice-versa. Um homem e uma mulher ‘bons de cama’ são aqueles que sabem se conectar, se entregar, demonstrar o que estão sentindo, se expressar”, define o máster em Sexologia Clínica e Saúde Sexual pela Universidade de Barcelona.

Segundo Isabela Aguiar, o bom desempenho sexual ocorre quando se deixa o desejo fluir espontaneamente em uma relação, sem travas por medos, preconceitos, julgamentos ou até mesmo por tabus sociais. “É uma entrega. Se tornar verdadeiramente vulnerável naquele momento. Ouvir os desejos da parceria sem julgamentos e se permitir viver com confiança e segurança”, detalha. 

A culpa é do parceiro(a)?

É importante ressaltar que o sucesso da transa não é responsabilidade somente do parceiro(a). Ou seja, não se deve esperar encontrar um “perito” sexual para que a relação seja agradável e satisfatória. “Você é responsável pelo seu prazer. Você precisa comunicar ao parceiro(a) o que é bom e o que é ruim. Caso não saiba, se toque mais para descobrir”, afirma a médica.

Esse autoconhecimento, inclusive, se faz necessário a partir do momento que a boa transa depende mais da conexão e da entrega das pessoas envolvidas, do que de alguém específico. “Uma pessoa pode ser boa de cama para X, e ruim para Y”, comenta Isabela.

Torres acrescenta que o êxito na cama é subjetivo, ou seja, vai depender da intimidade do parceiro do momento.  “A gente vai transar com várias pessoas ao longo da vida e acha que vai ter que ser igual com todo mundo, quando, na realidade, cada um gosta de uma coisa, cada pessoa é diferente da outra”, destaca o sexólogo.

Dicas para dar e receber prazer

Para quem busca “evoluir” sexualmente, selecionamos algumas dicas de especialistas: deixar de lado a autocobrança de ter um grande desempenho pode ser o primeiro passo para, de fato, proporcionar e obter muito prazer, de acordo com Isabela.

“Não se preocupar em fazer bonito e sim em ser de verdade. O principal órgão do sexo é o cérebro, então só tenha relações quando estiver realmente afim, e não para agradar. Lembrar que seu corpo é seu objeto de prazer e desfrutar cada pedacinho dele sem tabus ou julgamentos”, enumera a médica.

Rodrigo Torres reforça a importância do autoconhecimento e da liberdade de conversar, de comunicar sobre sexo e de ter curiosidade sobre o outro. “Descobrir o que a pessoa gosta eu acho que é a melhor forma de você ser uma pessoa boa de cama. E claro, a liberdade de falar e pedir o que você gosta”, afirma.

“Uma pessoa boa de cama é aquela que está aberta ao momento, quer compartilhar a experiência, ouvir e falar das suas preferências. Quer dar e receber prazer”, resume Leni Oliveira.