O contador Francisco de Almeida, de 32 anos, percebeu que as coisas iam mal na cama. “Tinha menos ânimo, menos energia”, recorda-se. Sedentário e acima do peso, ele notou que, “mesmo querendo, faltava disposição” na hora do sexo.

Mas as coisas começaram a mudar depois que ele se matriculou em uma aula de crossfit. Treinando entre três ou quatro vezes por semana, Francisco identificou que a atividade começou a lhe fazer bem tanto no físico quanto no psicológico.

“Desde que comecei a praticar crossfit e fiquei mais ativo no dia a dia, percebo que minha disposição melhorou bastante. Tenho mais vontade, mais confiança e minha autoestima aumentou. Isso tudo impactou diretamente na minha vida sexual”, relata.

A percepção de Almeida sobre a melhoria sexual relacionada ao treinamento físico não é caso isolado. Estudos demonstram que a prática de atividade física interfere diretamente no aumento da libido e na performance sexual para homens e mulheres.

No caso deles, pesquisa publicada no The Journal of Sexual Medicine, da Universidade de Oxford, mostrou que homens sedentários têm mais 50% de chance de apresentar disfunção erétil em comparação com aqueles que praticam exercícios rotineiramente.

Já no caso das mulheres, levantamento da mesma revista identificou que o público feminino que pratica até seis horas de exercícios físicos semanalmente apresenta níveis maiores de desejo, excitação e lubrificação em relação com as sedentárias. 

No caso do contador, que optou pelo crossfit, a atividade pode, de fato, ser benéfica para ter mais fôlego na transa. “Por ser intenso, esse treino pode aumentar energia e liberar endorfina, melhorando o humor e a disposição”, explica o fisioterapeuta e especialista em medicina do esporte, Rodrigo Fadel.

Ele ressalta ainda que cada modalidade de exercício tem um efeito distinto no corpo. “A musculação, por exemplo, é excelente para o fortalecimento muscular e aumento da testosterona, o que pode melhorar o desejo sexual, especialmente em homens. A corrida, por ser uma atividade aeróbica, melhora a resistência cardiovascular e reduz o estresse, o que também impacta positivamente na libido”, indica.

Educador físico, Randy Duarte enumera outras atividades importantes para um bom desenvolvimento sexual. “A ioga é eficaz, pois reduz o estresse, melhora a flexibilidade e a consciência corporal. Já o HIIT pode ser positivo, pois aumenta o nível de testosterona e de outros hormônios positivos para o corpo”, pontua.

Mas ele chama atenção para a busca pelo equilíbrio, porque o exagero na atividade física pode provocar efeito contrário. “O excesso de exercício pode diminuir a libido devido ao estresse crônico e à falta de descanso adequado”, recomenda.

No dia a dia de seu consultório, inclusive, o fisioterapeuta Rodrigo Fadel percebe que seus pacientes comentam mudanças na no desejo sexual relacionadas à rotina de treinos, tanto positivas quanto negativas.

“Observo que muitos alunos relatam aumento na libido quando seguem uma rotina de treinos regular e equilibrada, associada a uma dieta saudável. No entanto, também já observei casos em que o excesso de treino, especialmente sem descanso adequado, ou dietas extremamente restritivas podem levar a uma diminuição do desejo sexual. Isso é um reflexo de um desequilíbrio no corpo, o que enfatiza a importância do equilíbrio entre atividade física, descanso e nutrição”, aponta.

Para alguém que está começando a treinar visando benefícios na vida sexual, o especialista recomenda que sejam procurados exercícios agradáveis e adequados ao nível físico de cada um.

“Atividades aeróbicas de intensidade moderada, como caminhada rápida ou corrida, combinadas com musculação, são uma ótima combinação. Manter um equilíbrio entre treino e descanso é fundamental, pois o excesso de exercício pode levar a uma queda na libido. Além disso, é importante prestar atenção à alimentação, priorizando alimentos que favoreçam a saúde hormonal, como fontes de gorduras boas, proteínas magras e carboidratos complexos”, indica Fadel.

Dieta também interfere na disposição sexual

Para ter uma vida sexual plena, não basta praticar exercícios com regularidade, também é importante ter uma dieta saudável. Comer bem pode contribuir no desempenho sexual porque melhora a circulação sanguínea e o humor.

O contador Francisco Almeida conta que começar a comer de maneira saudável influenciou positivamente em suas experiências sexuais. “Uma alimentação mais leve, com alimentos selecionados, ajuda no desempenho geral do corpo, inclusive no sexo. Já percebi que quando como muito mal ou exagero em álcool e comidas pesadas, a disposição cai”, avalia.

Vale destacar, no entanto, que não existem alimentos milagrosos. Os afrodisíacos podem, por exemplo, aumentar a libido, mas isso não acontecerá da noite para o dia nem deve ser usado como único elemento para alcançar orgasmos melhores.

O endocrinologista Wallace César de Souza Alves enumera que ovos, abacate e oleaginosas podem ser um potencializador de um bom sexo, pois são “ricos em colesterol, base para produção de hormônios esteroides.” 

Mas o mais importante é ter um consumo equilibrado rico em fibras, proteínas, carboidratos e nutrientes diversos, sem neuras.  “A gordura alimentar é essencial para a síntese de hormônios esteroides, como testosterona, estradiol e progesterona. Dietas muito restritivas prejudicam a produção desses hormônios e com isso afetam diretamente a libido de forma negativa”, indica.

Jejum intermitente pode ser positivo?

O jejum intermitente também é associado ao aumento do desejo sexual. Estudo realizado pelo Centro Alemão de Doenças Neurodegenerativas (DZNE) em parceria com universidades da China identificou que camundongos que comeram livremente por 24 horas e ingeriram apenas água nas 24 horas seguintes tiveram mais contato sexual que aqueles animais que tiveram comida à vontade por todo o período.

No entanto, na avaliação do endocrinologista, em humanos, os “efeitos parecem ser mais indiretos”. Ou seja, acontecem por melhora metabólica, da composição corporal e do humor. “Além disso, os resultados ainda são inconclusivos quanto a um efeito direto sobre a libido”, argumenta.