Cleusa da Cruz vai regularmente ao dentista e realiza “todos os tratamentos necessários”. A aposentada de 63 anos não quer dar brecha para problemas dentários, nem para que essa parte do corpo envelheça a sua aparência. “Cuido tanto da saúde quanto da parte estética. Se você tiver dente torto, com cárie, você não vai nem sorrir. Os dentes ficam mais frágeis com a idade, às vezes quebram, então tem que tomar muito cuidado. Quando tomo algo gelado, não ingiro bebida quente, procuro não comer coisas duras e que vão estragar os dentes, mesmo porque o dentista é muito caro”, compartilha Cleusa.  

Muito mais novo, o estudante Artur Santana, de 26 anos, também toma as suas precauções para conservar um sorriso jovial e vistoso. “Uso flúor, escovo os dentes depois de todas as refeições, às vezes uso o fio dental e vou ao dentista pelo menos uma vez por ano. Já quebrei o dente, tenho a mordida um pouco para frente, então tive que usar todo tipo de aparelho possível, mas acho que meu sorriso condiz com a minha idade”, relata. O aposentado Antônio Justino, de 75 anos, teve que colocar uma prótese após se submeter ao tratamento para um câncer, o que acarretou em perda óssea. “Utilizo enxaguantes bucais, vou ao dentista todo ano, mas alguma coisa sempre muda na nossa aparência com o tempo, é inevitável”, constata. 

Riscos e precauções

Apesar disso, hábitos comportamentais podem acelerar um processo de deterioração dos dentes que impactam na aparência do sorriso. Um dos principais vilões da vida moderna nesse sentido seria o famoso combo que associa estresse a bebidas ácidas, casos de refrigerantes, café, vinho e até água com limão em jejum, que atuariam para corroer o esmalte do dente. O dentista, mestre em Ortodontia e especialista em Radiologia Oral Júlio Brant não tem dúvidas de que “a melhor forma de preservar a estética do sorriso é investir em prevenção”. 

“Isso envolve uma higiene oral adequada, com escovação pelo menos três vezes ao dia com creme dental fluoretado, uso de fio dental diariamente e visitas regulares ao dentista. Estudos mostram que o flúor é essencial para manter o esmalte mais resistente ao desgaste e às cáries. Além disso, escolhas alimentares fazem a diferença. Bebidas escuras como café, vinho e refrigerantes, bem como o tabaco, aceleram o amarelamento dos dentes. O consumo excessivo de alimentos ácidos também está ligado à erosão do esmalte. Em casos de manchas ou desgaste já instalados, procedimentos como clareamento supervisionado e restaurações estéticas podem devolver vitalidade ao sorriso”, orienta o especialista. 

Alertas

Outro problema que tem se revelado cada vez mais comum no mundo contemporâneo é o chamado “bruxismo”, condição caracterizada pelo ato de ranger ou apertar os dentes, o que provoca desgastes importantes no esmalte e pode até causar fraturas. “Segundo um consenso internacional, essa condição deve ser vista não apenas como um hábito, mas como um distúrbio de saúde com impacto funcional e estético. Além da dor muscular e articular, dentes encurtados pelo desgaste transmitem uma aparência de envelhecimento. O tratamento envolve placas interoclusais para proteção durante o sono, e, em alguns casos, reabilitação com restaurações ou laminados”, explica Júlio. 

Some-se a isso o fato de, ao longo da vida, não serem incomuns as alterações na posição dos dentes, podendo-se “comprometer a harmonia do sorriso, deixando-o com aspecto mais envelhecido”. “Uma revisão sistemática mostrou que alinhadores transparentes são eficazes e discretos para correções ortodônticas em adultos. Assim, mesmo em idades mais avançadas, é possível reposicionar os dentes de forma confortável e praticamente invisível”, garante o entrevistado. 

Proteção

Responsáveis por proteger as raízes dos dentes, fixando-os junto ao osso, as gengivas atuam como uma barreira contra infecções e também contribuem para a estética do sorriso. Além do incômodo físico, Júlio afirma que gengivas inflamadas ou retraídas “dão ao sorriso uma aparência mais antiga, já que a retração expõe a raiz do dente, alongando a coroa”. “Além disso, doenças periodontais não tratadas podem levar à perda de dentes. Pesquisas confirmam que o tratamento periodontal regular preserva não só a saúde oral, mas também a estética”, assinala. 

Em se tratando de “rejuvenescimento do sorriso”, Júlio informa que a terminologia é utilizada atualmente “porque a odontologia dispõe de várias ferramentas que devolvem frescor e harmonia, como clareamentos, facetas, restaurações estéticas e alinhadores”. “Um estudo recente reforça que a ortodontia em adultos e idosos é viável e eficaz quando bem planejada. A idade, portanto, não é contraindicação. Alinhar os dentes pode preservar a função e trazer uma estética mais jovem”, conclui. 

Mudança de hábitos

Como se sabe, hábitos cotidianos influenciam fortemente na saúde e na aparência dos dentes. Por conta disso, o dentista Júlio Brant defende uma mudança de hábitos para aqueles que consideram que o aspecto dentário têm envelhecido sua própria aparência. “O cigarro, por exemplo, é um dos maiores vilões. Além de escurecer os dentes, está diretamente associado a doenças gengivais e maior risco de perda dentária. Já uma dieta equilibrada, rica em cálcio e vitaminas, ajuda a manter dentes e gengivas saudáveis, preservando o sorriso jovem por mais tempo”, analisa. 

O medo da perda dentária, aliás, um dos que mais atemorizam pessoas de idade mais avançada, também pode ser combatido com medidas aparentemente simples, mas de eficácia comprovada. “A perda dentária afeta o sorriso e também o contorno do rosto, já que a ausência do dente acelera a reabsorção óssea. Isso pode levar a uma aparência mais envelhecida. Pesquisas de longo prazo com implantes mostram que a reposição dentária ajuda a manter a estética, a função mastigatória e a sustentação óssea. A prevenção continua sendo o melhor caminho, com visitas regulares ao dentista e tratamento das doenças gengivais antes que evoluam para perda dentária”, finaliza Júlio.