A relação entre o saber indígena e a medicina ocidental será tema de uma roda de conversa que acontece nesta terça-feira, a partir das 17h30, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFMG. Aberto a todos e sem necessidade de inscrição prévia, o evento tem como tema “Os povos Huni Kuĩ/Kaxinawá e Omágua/Kambeba: Tradições e Rituais de Tratamento e Cura” e conta com a apresentação da médica Adana Omágua (nome ocidental: Danielle Soprano) e o estudante de Medicina Otávio Kaxixó, além do coordenador da aula e professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social (MPS) da Faculdade, Ulysses Panisset. Ainda participam os indígenas Bane e Nixiawaka do povo Huni Kuĩ.
A roda de conversa faz parte da disciplina Perspectivas Globais da Saúde Indígena, ofertada pelo MPS no contexto de formação transversal internacional da UFMG e coordenada pelo professor Ulysses Panisset. De acordo com ele, esse será o encontro de duas culturas, com diferentes perspectivas em saúde: a da medicina ocidental, baseada na evidência científica; e a outra da medicina indígena que usa como parâmetros a natureza e a espiritualidade. “São dois paradigmas, mas que podem se beneficiar. Inclusive há evidências sobre essa contribuição, como os estudos de plantas medicinais e os princípios ativos”, comenta.
O professor ressalta que o objetivo, tendo em vista a própria história do Brasil e os oito alunos indígenas que estudam na Faculdade de Medicina, é ampliar a discussão sobre as tradições dos povos originários e suas contribuições, incluindo as ações e conhecimentos em promoção de saúde. Com as apresentações dos convidados sobre a visão dos seus povos, tradições, rituais de cura e suas vivências pelos dois “universos”, usando também o canto, o evento promove mais visibilidade e identificação das interfaces entre os dois saberes.
Em conversa com o Interessa, Adana acrescentou que haverá um espaço para perguntas e respostas, de modo a que as pessoas possam esclarecer dúvidas quanto à relação das duas citadas medicinas. "A científica oficial e a medicina tradicional indígena dentro da realidade amazônica, porque são indígenas tanto do Acre quanto do Amazonas, além do representante do povo Caxixó, acadêmico de medicina da UFMG. "E falarem a respeito do que pensam, do que acham, dos costumes, tradições".
“Este encontro entre indígenas e não indígenas dentro da academia e com a academia correspondem aos anseios do movimento indígena, o mesmo movimento que garantiu na Constituição 1988, pelo menos na lei, os direitos dos povos indígenas. Entre eles o direito à autonomia de nossas terras, autonomia de sermos quem somos e de executarmos nossas tradições e saberes como nossa medicina tradicional”.
Durante o dia 31, o Centro de Memória (Cememor) da Faculdade de Medicina também reapresenta a exposição “(Re)Tratar – Cura da Terra” no corredor da Memória, com fotografias que ilustram a vida de dois povos indígenas aldeados durante a pandemia de covid-19. Esse é um trabalho realizado pelo estudante Otávio Kaxixó e do professor da Formação Intercultural de Educadores Indígenas da UFMG, Edgar Kanaykõ.