A testosterona é o principal hormônio masculino, produzido principalmente nos testículos, e desempenha um papel fundamental na saúde física, sexual e emocional dos homens. Ela é responsável, por exemplo, pelo desenvolvimento das características masculinas, como o crescimento dos pelos, o aumento da massa muscular, a voz grave e a produção de esperma, além de regular a libido, o humor e o metabolismo.

Nos últimos anos, estudos têm apontado que os níveis do hormônio masculino vêm caindo década após década. Nos Estados Unidos, por exemplo, a média caiu de 640 ng/dl (abreviação para nanogramas por decilitro, unidade de medida usada para expressar a concentração de substâncias no sangue, como a testosterona), em 1985, para 451 ng/dl entre 2021 e 2023.

A queda não foi registrada somente nos Estados Unidos. Homens na Europa, América Latina e o Leste Asiático também vem enfrentando esse declínio. Hipogonadismo é a condição médica caracterizada pela diminuição da função das gônadas (testículos ou ovários), resultando na redução da produção de hormônios sexuais, como testosterona em homens e estrogênio em mulheres.

Os níveis de testosterona no organismo masculino podem ser avaliados por meio de análises laboratoriais que quantificam a testosterona total e, em alguns casos, também a testosterona livre, fração disponível para uso pelo corpo. Não existe um consenso quanto a um nível de testosterona considerado minimamente saudável.

No Brasil, contudo, diretrizes apresentadas em 2014 pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) classificam que valores de testosterona total inferiores a 300 ng/dL são interpretados como insuficientes.

“Em geral, consideramos o valor laboratorial para testosterona baixa quando está menos que 300 ng/dL, conforme as principais diretrizes, mas em outras esse valor de corte pode variar entre 264 a 350 ng/dL. Não é unânime”, explica o médico endocrinologista Heber Augusto Lara Cunha, professor da pós-graduação em endocrinologia da Afya Educação Médica de Belo Horizonte.

O especialista diz que a busca dos homens por informações sobre a testosterona e o desejo de averiguar se o nível do hormônio está baixo é assunto recorrente em seu consultório. “É uma demanda que engloba várias idades, desde homens jovens aos idosos, principalmente por conta do maior acesso às informações e discussões atuais sobre a reposição desse hormônio”, ele conta. 

Causas e consequências

Em geral, as causas de testosterona baixa incluem fatores como o envelhecimento natural, obesidade, diabetes, estresse crônico, sedentarismo, uso de medicamentos para tratamentos de doenças, privação de sono e dieta pobre em nutrientes.

“As consequências são amplas: fisicamente, pode haver diminuição da massa muscular, ganho de peso e redução da libido.  Emocionalmente, muitos homens relatam sentir mais fadiga, depressão e dificuldade de concentração além da  baixa auto-estima. É importante reconhecer esses sinais e buscar ajuda”, salienta Heber Augusto Lara Cunha.

Em seu site, a médica endocrinologista Beatriz Marquardt Leite abordou a diminuição da testosterona nos homens. A metabologista afirma que nem sempre a idade é determinante: “É perfeitamente possível – e comum – que um homem de 30 anos e um homem de 70 anos tenham níveis semelhantes de testosterona, como por exemplo 360 ng/dL, e ambos estarem dentro da normalidade”.

Em vez de buscar um valor ideal de testosterona para cada idade, o mais importante é observar os sintomas e avaliar o equilíbrio entre testosterona total, livre e SHBG (proteína produzida pelo fígado que regula a disponibilidade dos hormônios sexuais no organismo). 

“O acompanhamento com um endocrinologista experiente é fundamental para interpretar corretamente os exames e indicar, quando necessário, uma investigação ou tratamento adequado”, orienta Beatriz Marquardt Leite.

Prevenção e tratamento: caminhos e alternativas

Os especialistas ressaltam que existem maneiras de reverter ou prevenir a queda da testosterona. Mudanças no estilo de vida – dieta equilibrada, praticar exercícios regularmente e gerenciar o estresse – podem ter um impacto positivo. O tratamento das condições metabólicas como diabetes, obesidade e hipertensão também favorece a melhora dos níveis hormonais.

“Em alguns casos, tratamentos médicos podem ser necessários, mas sempre é importante discutir as opções com um profissional de saúde”, alerta Heber Augusto Lara Cunha. A reposição hormonal também pode ser uma alternativa, mas deve ser encarada como a última opção. Nos Estados Unidos, o número de prescrições de testosterona saltou de 7,3 milhões, em 2019, para 11 milhões em 2024.

Médico endocrinologista da Santa Casa BH, Savio Luis Soares Neves avalia que o tratamento, sempre que possível, deve ser focado em corrigir a causa base: “Quando isso não for suficiente para normalizar a testosterona ou quando a causa não é identificável, podemos realizar a reposição”.  

Caso a opção seja mesmo o tratamento médico, as formas mais recomendadas de reposição, segundo Neves, são a transdérmica (pela pele) e a intramuscular (injeção), de preferência as que têm efeito mais duradouro; já a via oral habitualmente não é indicada.

“O uso de doses suprafisiológicas de testosterona, para efeito anabolizante ou de aumento de performance, não é recomendado devido a um aumento de risco de diversas doenças, incluindo infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, embolia pulmonar e arritmias, além de um aumento de mortalidade”, finaliza o especialista.