Comportamento

Entenda quando a interferência na vida escolar dos filhos pode ser prejudicial

Especialistas dão dicas de como os responsáveis devem se portar ao lidar com a experiência de crianças e adolescentes na escola


Publicado em 07 de fevereiro de 2023 | 06:30
 
 
 
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Reuniões com professores e educadores, atividades a serem desenvolvidas em casa, feiras culturais, festas e apresentações artísticas. Não faltam ocasiões em que a presença dos pais seja requisitada no ambiente escolar. Mas, mesmo que essa participação seja indicada, ela precisa obedecer a certos limites – que, atualmente, têm sido cada vez mais desrespeitados. 

É isso o que conta a pedagoga Jacqueline Caixeta. “Os pais têm procurado as escolas mais para interferir nas regras que para acompanhar os filhos”, conta. Segundo a profissional, que também é especialista em educação, há um movimento de proteção exagerada, em que os pais buscam impedir que as crianças ou adolescentes se frustrem ou sofram com qualquer tipo de mudança ou fracasso. “Mas eles não podem viver dentro de uma bolha. É melhor que eles se frustrem nas nossas mãos, no nosso colo, porque, na escola, ele está sendo acompanhado”, pondera.

Conforme a educadora, exigências de trocas de sala, mudanças no regimento escolar e até mesmo no formato das avaliações diante de resultados baixos estão entre interferências comuns feitas pelos responsáveis. “Esses pais querem fazer a vontade dos filhos a todo custo, mas, quando eles agem dessa maneira, sempre interferindo e resolvendo problemas que são da criança ou do adolescente, eles acabam criando alguém com total dependência. São pessoas que vão crescer e sofrer muito, não vão conseguir tomar decisões e serão inseguros”, pontua.

A psicóloga Danielle Matos observa, também, que há outro fator que pode prejudicar a forma como os pais lidam com as escolas. “Existem casos em que a família tem uma relação de clientela, naquela lógica de que o cliente sempre tem a razão. Isso acaba gerando uma confusão de papéis, porque os educadores são vistos sob uma lógica de mercado, e não uma lógica educativa, como parceiros”, observa.

Relação dos pais com os filhos

No que tange ao relacionamento com os filhos, a forma de lidar e acompanhar a vida escolar também pode causar prejuízos se não for respeitada a autonomia dos alunos. “Existem aquelas famílias que exercem o que chamamos de ‘parentalidade autoritária’. Eles querem controlar as crianças e os adolescentes na base da punição e da recompensa. Punem quando não há um bom rendimento ou são intrusivos no acompanhamento do dever de casa, não incentivando a autonomia dos filhos e fazendo a atividade por eles”, explica.

Professora de psicologia da Faculdade Arnaldo, ela ressalta que a indiferença ao período escolar também tem seus prejuízos. “É o outro extremo; se de um lado algumas famílias ultrapassam o limite da interferência, do outro há famílias que negligenciam, que são muito permissivas ou se mostram indiferentes ao aprendizado. Não comparecem às reuniões escolares, colocam a responsabilidade sobre os filhos e não demonstram envolvimento e desejo de aprender junto com eles, e isso é muito importante, porque os pais são os exemplos”.

Ação saudável e sem ultrapassar limites

A pedagoga Jacqueline Caixeta explica que, antes de tudo, é importante distinguir a interferência na vida escolar dos filhos do acompanhamento – este, o indicado. “A interferência é quando se busca questionar as regras da escola, já o acompanhamento é estar sempre presente, preocupado com o que está acontecendo. Acompanhar o filho é importante e necessário. É algo que chamo de ‘parceria’, e ela é necessária também com a escola, porque ela quer a família dentro do ambiente escolar”, explica.

Jacqueline destaca ainda a importância do diálogo respeitoso entre as partes. “Você pode levar questionamentos em relação à pedagogia, à filosofia e até mesmo às formas avaliativas da escola, mas sempre abrindo uma proposta para a discussão. A escola tem essa escuta e muitas vezes ela faz essas alterações”, afirma.

No que diz respeito à relação com os filhos, a psicóloga Danielle Matos pontua que a participação ativa dos pais é fundamental. “Tem um provérbio africano que eu gosto muito e diz que ‘é preciso uma aldeia para se educar uma criança’, e é mesmo assim. Toda a comunidade tem um papel atuante na formação de um ser humano, por isso a família deve se portar de uma forma colaborativa desde a etapa da escolha da escola”, diz.

O acompanhamento das atividades escolares e dos conteúdos que os filhos aprendem e também o interesse pela rotina são outros pontos importantes. “Filhos que têm familiares que se envolvem são muito beneficiados, porque essa participação desperta o desejo de aprender”, explica. Ela orienta ainda que os pais sempre deixem o espaço para o diálogo aberto e que ensinem as crianças e os adolescentes a se comportarem de forma empática diante de situações de conflito, sempre respeitando as diferenças. “É o que chamamos de ‘pais democráticos’. Aqueles que sabem equilibrar a exigência, as regras, as expectativas em torno do filho e do aprendizado deles com a receptividade e o acolhimento”.

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