São Paulo. O anúncio dos nomes que arrebanharam o Nobel 2018 de Física feito nesta terça-feira (2), em Estocolmo, teve um sabor especial para as mulheres que se debruçam sobre essa área. É que, desta vez, a láurea foi para o norte-americano Arthur Ashkin, o francês Gérard Mourou e a norte-americana Donna Strickland por suas pesquisas com laser. Donna, vale dizer, não é a primeira mulher a ser agraciada por um Nobel de Física – na verdade, nessa categoria, responde pela terceira representante do sexo feminino a levá-lo para casa.
Ocorre que a última mulher a conquistá-lo o fez há nada menos que 55 anos. E o feito ganha mais relevo por acontecer no momento em que uma declaração polêmica de um cientista reverbera Europa afora.
Na segunda-feira (1), a Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (Cern) suspendeu sua colaboração com Alessandro Strumia, cientista italiano que afirmou que a física era “um assunto de homens” e que acusou as mulheres de “obterem cada vez mais postos graças ao debate da igualdade” de gênero.
Na sexta-feira, o Cern organizou uma oficina em Genebra intitulada “Teoria de altas energias e gênero”, para a qual Strumia, da Universidade de Pisa, foi convidado. Em sua apresentação, o italiano sugeriu, com equações e gráficos, que os homens enfrentam discriminação cada vez maior no campo da física. E afirmou: “A física foi inventada e construída pelos homens, não entramos por convite”.
O prêmio
Os vencedores de 2018 dividirão o prêmio de 9 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,1 milhões). O dinheiro vem de um fundo de quase 4,5 bilhões de coroas suecas (em valores atuais) deixado pelo patrono do prêmio, Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite.
Pinça óptica
Neste ano, Ashkin foi premiado com metade do valor do Nobel de Física por sua pesquisa com pinças ópticas, bem como por sua aplicação em sistemas biológicos. Mourou e Donna dividirão a outra metade com seu método de gerar pulsos ópticos supercurtos de alta intensidade.
As pinças ópticas desenvolvidas por Ashkin são instrumentos que permitem observar, girar, cortar, empurrar e puxar a luz. Em muitos laboratórios, pinças de laser são usadas para estudar processos biológicos, como proteínas, motores moleculares, DNA ou a vida interna das células.
Laser amplificado
Mourou e Donna desenvolveram um método para gerar os pulsos de laser mais curtos e intensos criados jamais pela humanidade. A técnica desenvolvida por eles abriu novas áreas de pesquisa e levou a amplas aplicações industriais e médicas.
Cientista brasileiro concorreu 7 vezes à premiação, sem êxito
São Paulo. O físico brasileiro César Lattes (1924-2005) já foi indicado ao Prêmio Nobel de Física sete vezes, mas nunca levou o prêmio. Ele teve participação decisiva em uma das descobertas científicas mais importantes do século passado. O brasileiro ajudou na detecção do méson pi (ou píon), partícula que mantém prótons e nêutrons unidos no núcleo dos átomos.
O Prêmio Nobel é distribuído desde 1901. Além do valor em dinheiro, o laureado recebe uma medalha e um diploma. Na segunda-feira, foi anunciado o prêmio de medicina. Nesta quarta-feira (3), será a vez do de química. O Nobel da Paz será anunciado na sexta (5), e o de Economia, na segunda (8). Quanto ao prêmio de literatura de 2018, após uma série de denúncias, a entrega foi cancelada. A cerimônia de 2019 também corre o risco de ser cancelada.
Flash
“Mea culpa”
Segundo o Cern, as mulheres representam apenas cerca de 20% dos funcionários da organização, que reconhece pouco avanço nos últimos dez anos.