Genes ligados à criatividade podem aumentar o risco de se desenvolver esquizofrenia ou transtorno bipolar, segundo uma nova pesquisa feita pelo Institute of Psychiatry, Psychology & Neuroscience, do King’s College, em Londres. O estudo, publicado na revista científica “Nature Neuroscience”, mostra que os genes de quem tem esquizofrenia ou transtorno bipolar têm influência direta na criatividade.
Apesar de o conceito de criatividade ser complicado de se definir em termos científicos, os pesquisadores consideraram uma pessoa criativa aquela que encontra soluções novas usando processos cognitivos distintos das formas comuns de pensamento ou expressão. Esquizofrenia e transtorno bipolar são distúrbios do pensamento e da emoção, o que significa que aqueles afetados têm alterações no processo cognitivo e emocional.
Embora estudos anteriores já tivessem sugerido que a criatividade e os males psiquiátricos caminham lado a lado, como um que mostrou que o transtorno bipolar era mais comum em famílias em que grande parte de seus integrantes se dedicava a atividades profissionais associadas ao pensamento criativo e artístico, os cientistas ainda não eram capazes de dizer se isso se dava devido a questões genéticas ou se era simplesmente reflexo de fatores ambientais e socioeconômicos comuns aos membros dessas famílias. Assim, essa é a primeira vez em que eles acharam uma relação direta entre os dois.
O TESTE. Os pesquisadores do King’s College e a empresa islandesa Decode Genetics usaram listas de integrantes das associações nacionais de artistas visuais, atores, dançarinos, músicos e escritores da Islândia para se certificar de que as pessoas pesquisadas eram, de fato, criativas.
Os cientistas então usaram dados de dois grandes estudos com mais de 150 mil pessoas, nenhuma delas islandesa, que identificou uma série de variações genéticas ligadas ao desenvolvimento de esquizofrenia e transtorno bipolar para montar uma espécie de “placar” do risco de sofrer com estes distúrbios mentais. E ao aplicar esse “placar” ao levantamento do genoma dos islandeses, eles verificaram ser capazes de prever quais indivíduos pertenceriam às associações artísticas nacionais da Islândia.
Em replicação do teste, os pesquisadores fizeram o mesmo com dados de cerca de 35 mil participantes de estudos semelhantes feitos na Suécia e na Holanda, novamente prevendo, com alto grau de confiabilidade, quais destas pessoas faziam parte de associações artísticas em seus países.
Segundo os cálculos dos cientistas, os integrantes das associações artísticas islandesas tinham uma chance 17% maior de ter algumas das variantes genéticas associadas à esquizofrenia e aos transtornos bipolares do que a população em geral, enquanto entre suecos e holandeses esse número chegou a 25%.
“Os resultados deste estudo não foram uma grande surpresa, pois, para ser criativo, você deve pensar diferente do resto da multidão, e já tínhamos demonstrado que as pessoas que carregam fatores genéticos que predispõem à esquizofrenia assim o fazem”, disse Kári Stefánsson, um dos autores do artigo sobre o estudo na “Nature Neuroscience”.
As informações são do site Science Daily e do jornal “O Globo”.
“Ser inovador é algo que pode ser treinado”
O professor de design gráfico da Universidade de Minnesota Brad Hokanson acredita que a criatividade não é o mesmo que produzir arte ou inventar algo novo. Ele prega que as pessoas mostram sua criatividade sempre que resolvem problemas do dia a dia. Para ele, ser criativo é algo que podemos treinar, que melhora com a prática.
“Artistas, designers e músicos são sortudos por terem uma vida cercada de criatividade. Mas acho que as pessoas erram ao isolarem a criatividade em certos campos e não incorporarem isso na vida”, explicou ele para a revista “Galileu”.
Professor do curso “Solução criativa de problemas”, disponível no site Coursera (em inglês), ele dá dicas de como ser mais criativo.
“Uma das formas de aumentar nosso potencial criativo é nos expondo a ambientes, coisas e pessoas diferentes. As pessoas podem ter visões limitadas em seus ambientes de trabalho, por exemplo, mas podem mudar as coisas tendo certeza de que atingiram os limites por lá”, conta.