"Sou mulher, não robô". Foi assim, com essa e outras - sejamos sinceros - verdades, postadas em forma de hashtags, que a cantora, atriz e dubladora (entre outros talentos) Suellen Ogando encerrou um post recente no Facebook, no qual, se valendo da proximidade do Dia das Mães, decidiu fazer uma reflexão sobre as cobranças que ainda hoje recaem sobre os ombros das mulheres. Suellen pontuou a existência de um "machismo estrutural", que faz com que, mesmo com os aparentes avanços, a sociedade ainda se sustente sobre alguns pilares que sacrificam sobremaneira as mulheres. "Ninguém é obrigada a aceitar", bradou ela, citando uma série de culpas que volta e meia são imputadas às mães. 
A saber, algumas das por ela relatadas no post: "Não pode amamentar naquela hora que o filho está chorando, pois está estudando ou dando aula? É acusada de não ter dado amor. Reclamou de cansaço? 'Ué, você não sabe que mães devem se sacrificar?'. O filho não come direito? Culpa da mãe. Não pode ir ao banheiro? 'Leva o filho junto, ué'. Reclama que está passando mal? 'Mas como? Você está aí, na pandemia, fazendo nada!'. 'Está tirando uma hora para malhar e desestressar e o filho chora?. 'Ué, mãe tem que parar tudo! Não quis ter filho? Agora, aguenta". 

Bem, essas foram apenas algumas das situações por ela vivenciadas que foram arroladas no post. Na entrevista a O Tempo, Suellen se lembrou de outras. Mas, antes de seguir em frente, que fique claríssimo: ela não está nem um pouco arrependida de ter sido mãe. Ao contrário. O fofo Luigi é a declarada razão de sua vida. O desabafo está direcionado apenas à forma que, como dito, a sociedade ainda imputa à genitora da criança uma espécie de avatar de ser abnegado a ponto de nem se importar ao se abandonar completamente, quase com uma auréola circundando a cabeça.

"O mais assustador é ouvir falas machistas saídas da boca das próprias mulheres", assusta-se Suellen. "A mãe atual tem que bater o pé para tentar se fazer ser entendida, mas ainda dá muito murro em ponta de faca", acrescenta ela, para quem toda a pressão não deixou incólume o seu físico: neste momento, está às voltas com uma crise de labirintite, avaliada como de fundo emocional, e uma escavação aumentada do nervo óptico, para a qual serão necessários exames mais apurados. 

Mãe de dois filhos, a jornalista Nathália Bini conta que às vezes se tranca no banheiro para respirar. Principalmente quando os filhos "estão quebrando tudo". "Várias vezes fui para o banheiro fingir que estava fazendo o número dois só para ter um tempo para respirar".

Para espairecer, ela conta que assinou um Clube do Vinho. "Aí, eu arrumo a janta deles, pego uma taça, respiro, dou uma golada e dá aquela acalmada. Também comecei a fazer terapia online, uma vez por semana, para dar conta de toda essa montanha-russa de emoções que a gente vive. E  falei: preciso descobrir coisas dentro de casa que me deem prazer, que não seja apenas fazer coisa para filho. Então, comecei a mexer com decoração de casa, pintar parede, pintar objetos decorativos. Também assinei um programa de exercícios físicos online, já que não tem como ir à academia, tiro 20, 30 minutos, vou para meu quarto, tranco a porta, tenho a minha aula ali, de pesinho, relaxametno... Porque uma mãe que se sente cuidada, tranquila, que está bem emocionalmente, fisicamente, vai conseguir criar um filho melhor". 

 

Especialista em terapia sistêmica e neuropsicóloga, a psicóloga Telma Oliveira ratifica que, para cuidar do outro - no caso, o bebê - é preciso cuidar primeiramente de si. "E com a mulher mãe, não é diferente. Para oferecer o melhor cuidado para o seu filho, ela precisa estar fisicamente e emocionalmente saudável". Telma entende que é comum, após o parto, a  mulher dedicar mais tempo do dia aos cuidados com o recém-chegado. "E mesmo ela estando cansada com a nova rotina, não deixa, por exemplo, de abrir mão do sono. Mesmo com as dores, segue oferecendo o seio como fonte de alimento. Mesmo trabalhando, encontra tempo para auxiliá-lo em meio à alguma necessidade e alguma demanda. E essa dedicação permanecerá por muitos anos". 

Mas sim, essa rotina de abdicação pode trazer muitos transtornos para a mulher e até o  esgotamento emocional. "É preciso que a mulher reconheça suas limitações e invista parte do seu tempo para se dedicar ao auto-cuidado. Compreender que é humana e que a maternidade perfeita, na verdade, não existe. Falhas, assim como os acertos, fazem parte de um processo e de um aprendizado".

Recentemente, Suellen começou a fazer uma pós em Ensino Bilíngue. E, há poucos dias, se deu ao direito de cortar o cabelo. Mesmo sem conhecê-la, Telma certamente aprovaria a iniciativa. "Eu sei que não é fácil encontrar tempo quando se é mãe, esposa, profissional, dona de casa, mas priorizar um momento para cuidar de si - por exemplo, cuidar das unhas, tomar um café, fazer uma caminhada ou até mesmo tirar um cochilo -, é primordial. O retorno às atividades promove momentos de felicidade e bem estar, e contribuem com uma vida emocional mais saudável", conclui ela. "Uma dica é investir nas redes de apoio de parentes e amigos de sua confiança para contar com ela nestes momentos dedicados exclusivamente a você", diz Telma.