A obsessão pela juventude é uma velha conhecida da humanidade. Indício disso são as tantas lendas, presentes em antigas civilizações, sobre fontes e rios capazes de rejuvenescer quem neles se banhasse ou cuja água ingerisse. Um mito cuja força mobilizou até o rei grego da Macedônia Alexandre III, conhecido como Alexandre, o Grande, que teria buscado por essa promessa a fim de alcançar a imortalidade. E há registros ainda mais antigos, que datam 700 anos a.C., que já falavam em “poços da juventude”. Mais tarde, no século XVI, o tema foi apropriado pelo Renascimento europeu.
Sem fugir à regra dessa fixação pela reversão do envelhecimento, no mundo contemporâneo há farta oferta de tratamentos, técnicas e procedimentos estéticos que prometem trazer de volta a aparência jovem. Para alguns, no entanto, é como se essa mitológica fonte de juventude corresse, naturalmente, em suas próprias veias. E, diante delas, muita gente reage com espanto, como se tivessem descoberto nelas aquele milagroso tesouro que Alexandre III tanto procurou. Foi o que aconteceu durante a cerimônia de posse da chapa Lula-Alckmin, realizada em 1° de janeiro, no Distrito Federal. Na ocasião, entre os tantos assuntos que repercutiram a partir do evento, a aparência da vice-primeira-dama Lu Alckmin apareceu com destaque. A razão foi justamente a surpresa de boa parte das pessoas ao descobrir que ela tem 72 anos.
Por um lado, o fato de a aparente jovialidade dela ter ficado entre os tópicos mais comentados daquele dia pode ser interpretado como sinal de uma sociedade muito etarista, que valoriza apenas o que é jovem, sobretudo no caso das mulheres. “Quando uma pessoa na posição de figura pública, no caso de uma vice-primeira-dama, aparenta ter menos do que tem, isso vira assunto imediatamente, como um elogio a ela. O aspecto físico acaba sobressaindo mais do que qualquer outro atributo que possa ter”, criticou o doutorando em comunicação Valmir Moratelli em sua coluna na revista “Veja”. Mas, por outro lado, esse espanto é também apenas sinal de uma autêntica surpresa.
A escritora e produtora de conteúdo digital Cris Pàz, que, entre outros temas, debate o etarismo em suas plataformas digitais, reconhece que também se viu surpresa ao saber da idade de Lu Alckmin. “Ela aparenta menos idade, mas é curioso como não tem uma lógica que faz a gente entender o que faz alguém aparentar menos idade. É uma coisa meio sem explicação”, reflete, assinalando acreditar que, para além de aspectos como o vigor físico e a saúde da pele, há outros diversos elementos que contribuem para esse exalar de jovialidade. “Tem uma cena, já no fim daquele dia, quando está no palco em que acontecem os shows, em que ela desce do salto. Eu acho que essa atitude é uma boa metáfora, pois é uma postura de juventude, que não tem a ver só com aparência ou com o nosso guarda-roupa. É algo mais abstrato”, avalia.
Cris pondera que nossa sociedade persegue um padrão de beleza, que dialoga com uma ideia de juventude. “Então, talvez ela pareça mais jovem também por se enquadrar nesse padrão estético”, contemporiza. “Mas, ao mesmo tempo, não creio que seja só isso”, complementa. “Acredito que os fatores principais são mais de comportamento do que de físico, até porque o físico é retrato do comportamento. Ou seja, uma postura de vida, o bom-humor e um olhar mais de turista, mais curioso e generoso para o viver vão ser essenciais nesse sentido”, opina.
Para ela, aliás, o que envelhece mesmo é a obsessão pela juventude. “Há coisas na vida que são inevitáveis, e envelhecer é uma delas – a menos que você morra. Então, quando você vem de um processo de aceitação do envelhecimento, de entendimento que o tempo está passando e vive esse processo com suavidade, você vai transmitir jovialidade. Mas, se você tenta resistir ao inevitável, mesmo que passe por vários procedimentos, você vai se ver enrijecido, tendo um olhar muito duro para a vida e, pouco a pouco, vai perder o frescor e a energia do viver”, sinaliza, acrescentando que ela não demoniza intervenções estéticas – “acho até que algumas delas são bem-vindas. O problema está no excesso”.
Fator genético e hábitos de vida
A opinião de Cris é compartilhada pela estudante de direito Monalisa Miranda, que, aos 32 anos, convive com comentários reiterados de como aparenta ter menos idade do que de fato tem. Crítica aos excessos da busca eterna pela juventude, ela acredita que o ideal é manter uma rotina de autocuidado, mas sem fazer da própria aparência uma questão central ou uma “paranoia”. “O pessoal fala que eu não pareço ter a idade que eu tenho, e eu encaro isso como um elogio. E acredito que o fato de eu ter uma alimentação saudável desde os meus 17 anos e me cuidar contribui para isso, mas não é só isso, porque tem também o fator genético. Meus pais, por exemplo, assim como outros membros da família, parecem mais jovens do que são”, observa.
Segundo o dermatologista Jonas Bueno, os palpites de Monalisa são certeiros. Ele conta que, na rotina clínica, a busca por uma aparência jovem, com a pele bonita e saudável, é muito comum, ficando atrás apenas das consultas devido a doenças dermatológicas. “O que se sabe, hoje, é que hábitos de vida são decisivos para um envelhecimento saudável. Mas há também a loteria genética. Ou seja, algumas pessoas, naturalmente, parecem ser mais jovens do que são”, sinaliza.
Sobre tratamentos para gerenciar o envelhecimento, ele cita que, atualmente, fala-se muito em bioestimuladores de colágeno, nome dado à proteína que contribui para a firmeza da pele. “É um tipo de procedimento que pode fornecer bons resultados, mas, além dessa estimulação, precisamos agir para evitar a degradação dessa substância no corpo”, alerta, citando que hábitos como o consumo exagerado de açúcar, exposição ao sol sem proteção e até mesmo o estresse podem acelerar o processo de deterioração do colágeno.
A pedido da reportagem, Bueno elencou uma série de dicas para o cuidado com a pele.
Hidrate-se. A desidratação do corpo acelera o envelhecimento ao deixar a pele mais seca, fazendo que ela perca seu viço e esteja mais propensa ao desenvolvimento de rugas prematuras. Além disso, a falta de água interfere na sustentação e consistência das fibras de colágeno. Por isso, lembre-se de beber água e de usar cremes hidratantes.
Use filtro solar. Tanto a radiação UV, emitida pelo sol, quanto a luz azul, que vem das telas, aumentam a produção de radicais livres no organismo, além de causarem o ressecamento da pele. Portanto, recomenda-se o uso de filtro solar, inclusive quando não estamos expostos ao sol. Para o dia a dia, o fator mínimo sugerido por Bueno é o de 30 FPS, sendo importante que a aplicação ocorra ao menos três vezes por dia.
Faça atividades físicas. Os exercícios físicos contribuem para a circulação sanguínea e para o combate à flacidez dos tecidos. Mas é preciso cuidado em relação à suplementação, pois algumas substâncias podem gerar foliculites, cravos e espinhas, favorecendo o surgimento de manchas.
Tente relaxar e durma bem. A ansiedade e o estresse provocam o aumento da liberação de insulina e cortisol. Se isso acontece cronicamente, pode-se haver quadros inflamatórios no organismo, causando perda de colágeno. O sono é outro fator essencial para a renovação celular, pois é enquanto dormimos que esse processo de regeneração da pele acontece de forma mais intensa.
Não fume e beba moderadamente. O tabagismo aumenta, no organismo, a liberação de radicais livres, que provocam a deterioração do colágeno e elastina (substância responsáveis por dar elasticidade aos tecidos). E mais: a nicotina causa manchas e o amarelamento da pele. Já o álcool causa desidratação, pois, para metabolizar uma molécula de álcool, o corpo precisa de ao menos nove moléculas de água. Sem contar que a substância ainda gera quadros inflamatórios.
O fator poluição. O acúmulo de substâncias como o monóxido de carbono e a fuligem leva à obstrução dos poros, provoca o aumento da liberação de radicais livres no corpo e ainda pode provocar quadros inflamatórios na pele.