Uma nova modalidade de tratamento contra o câncer de pulmão – um dos mais comuns e mais difíceis de tratar – promete ser um divisor de águas na abordagem da doença. As imunoterapias, que estimulam o próprio sistema imunológico do paciente a reagir contra o tumor, estão em processo de obtenção de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“A célula tumoral tem um desequilíbrio e se reproduz de forma descontrolada. Por isso, forma os tumores. O sistema imunológico normalmente tem a capacidade de reconhecer os agentes estranhos no organismo e combatê-los. O que a célula do câncer aprende a fazer é se disfarçar, para que nosso sistema imunológico passe a tolerá-la”, explica o radio-oncologista Rodrigo Buzzatti Peixoto, gerente médico sênior da área de oncologia da MSD, empresa que desenvolveu e produziu a droga que está sendo analisada pela Anvisa.
Seguindo com a explicação do médico, o que os novos tratamentos fazem é impedir essa “camuflagem” do tumor. Dessa forma, o organismo consegue reconhecer aquela disfunção e atacá-la (veja no infográfico).
Uma das maiores vantagens dessa nova terapia é a diminuição dos efeitos adversos. “O paciente pode sentir fadiga nas primeiras semanas de tratamento e ter algumas inflamações, mas com menos frequência do que na quimioterapia”, garante Peixoto.
Como ainda é uma tecnologia recente, as novas drogas só foram testadas em pacientes com câncer em estágio 4, já com metástases. De acordo com uma pesquisa, que comparou a imunoterapia à quimioterapia tradicional, o medicamento conseguiu aumentar em até 50% o tempo de vida dos pacientes.
“O estudo testou o pembrolizumabe (nova droga) em duas dosagens – 2 mg e 10 mg por quilo. Nos pacientes que receberam a menor dosagem, a sobrevida geral aumentou 29%. Já nos que tomaram a maior, 39%. Em pacientes que manifestavam mais a proteína PD-L1 (que ajuda a ‘disfarçar’ o tumor), a sobrevida geral aumentou 50%, passando de 8,5 meses para 17 meses”, diz o médico.
Outros tipos. Por enquanto, as pesquisas comprovaram a eficácia da droga contra os cânceres de pulmão e de pele do tipo melanoma. Mas outros 30 tipos de tumores – incluindo os cânceres de esôfago, estômago, bexiga, mama e colo de útero – estão sendo testados para sua reação ao medicamento. O próximo passo será testar em pacientes menos graves.
A nova droga já está sendo usada nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, a expectativa é que o registro da Anvisa seja obtido ainda este ano. A princípio, o tratamento ficará disponível somente para as redes suplementar e privada de saúde.
Flash
Preço. Ainda não há estimativa de quanto o novo tratamento irá custar no Brasil. Nos EUA, onde já é aplicado, custa cerca de US$ 12 mil por mês.
Estudo mostra maior risco da doença entre irmãos gêmeos
Miami, EUA. Gêmeos compartilham os mesmos genes, e, quando um desenvolve câncer, o outro corre maiores riscos de também adoecer. É o que diz um estudo publicado na semana passada, que analisou 200 mil pessoas.
Mas só porque um gêmeo fica doente não significa necessariamente que o outro terá o mesmo câncer, ou qualquer outro tipo de tumor, de acordo com o relatório publicado no “Journal of the American Medical Association” (JAMA).
Na verdade, a quantidade de aumento do risco de câncer foi de apenas 14% maior em pares idênticos em que um dos gêmeos foi diagnosticado com câncer. Gêmeos idênticos se desenvolvem a partir do mesmo óvulo e compartilham exatamente o mesmo material genético.
Entre gêmeos bivitelinos, que se desenvolvem a partir de dois óvulos diferentes, o risco de câncer foi 5% maior em um gêmeo cujo irmão teve a doença. Os irmãos analisados no estudo vinham de Dinamarca, Finlândia, Suécia e Noruega – e foram acompanhados entre 1943 e 2010.