Deleite na cama

Orgasmo feminino: veja dúvidas mais comuns sobre o prazer da mulher

Quais são os sinais do corpo quando o gozo vem? Clímax só vem com penetração? Veja a resposta para essas e outras perguntas sobre a experiência sexual

Por Laura Maria
Publicado em 08 de março de 2024 | 06:00
 
 
 
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Em uma de suas cenas mais bonitas e delicadas, o longa-metragem “Pobres Criaturas” (Yorgos Lanthimos), indicado a Melhor Filme do Oscar 2024, mostra uma mulher atingindo o orgasmo pela primeira vez. Interpretada exemplarmente por Emma Stone (que também concorre à estatueta de Melhor Atriz), Bella Baxter, uma espécie de Frankenstein feminista, chega ao clímax durante a masturbação depois de perceber as potencialidades do próprio corpo.

O detalhe é que o longa-metragem não exibe absolutamente nada dos órgãos sexuais da personagem nessa imagem, revelando somente o movimento das pernas e a transformação da expressão do rosto dela ao chegar ao gozo.

A cena é um ótimo exemplo para quebrar expectativas do que é um orgasmo feminino, na contramão do que “ensina” a indústria pornográfica, que, muitas vezes, apresenta a experiência carregada de reações exageradas ou atrelada à participação de um parceiro, geralmente do sexo masculino.

A verdade é que um orgasmo feminino pode ser tanto potente quanto imperceptível, há a possibilidade de vir após repetidos estímulos na região genital ou simplesmente depois de toques leves pelo corpo; pode acontecer durante uma relação sexual ou na masturbação. Não existem regras sobre o gozo da mulher, mas há uma série de dúvidas sobre o assunto que deve ser esclarecida para uma vida sexual plena.

A primeira coisa a ser entendida é o significado do gozo feminino. As dúvidas a respeito desse tema podem ser muitas porque, ao contrário do masculino, geralmente o orgasmo da mulher não vem acompanhado de um líquido – segundo estudo do Hospital Central de Okayama (Japão), somente uma entre dez mulheres atingem o “squirt”, conhecido como a ejaculação feminina.

“O orgasmo é um fenômeno físico repleto de sensações e emoções e se difere entre as mulheres, principalmente na forma como elas se excitam. O orgasmo masculino, normalmente, é sentido, junto à ejaculação, com a estimulação do pênis”, explica a terapeuta sexual e psicóloga clínica Leni Oliveira.

Outra dúvida frequente entre as mulheres é sobre a certeza de que gozou ou não. Dados da pesquisa Prazer Feminino 2023, elaborada pela plataforma Hibou, revelou que 79% das entrevistadas já fingiram um orgasmo, enquanto outras 42% têm dificuldade de chegar ao ápice do prazer. Embora o orgasmo feminino seja uma experiência pessoal, o corpo apresenta sinais de que chegou ao clímax, em uma sequência que vai do arrebatamento ao relaxamento.

“As alterações físicas são o relaxamento muscular e a liberação de substâncias químicas que geram a sensação de prazer e bem-estar”, explica Leni. Um orgasmo feminino dura, em média, seis segundos, e as mulheres podem levar menos de 15 minutos para atingi-lo, segundo o estudo “Journal of Sexual Medicine”, ligado à Sociedade Internacional de Medicina Sexual.

Um mito comum ligado ao gozo feminino é que ele só é alcançado por meio de penetração. Na verdade, apenas 31,4% das mulheres chegam ao orgasmo somente com a ação, conforme a mesma pesquisa. “Menos de um terço alcança esse tipo de orgasmo e, mesmo assim, apenas se estiverem muito excitadas ou com estímulos em outras partes do corpo. No entanto, a cobrança sobre ele é gigantesca”, aponta Leni.

A historiadora Fernanda Lopes, 29, por exemplo, diz que já experienciou diferentes tipos de excitação. “Ao longo dos anos, fui me conhecendo e tive a oportunidade de experimentar vários tipos de orgasmos, inclusive combinados e múltiplos, como vaginal, clitoriano, anal, cervical… São bem diferentes em intensidade e duração”, comenta, revelando que a sua primeira experiência aconteceu durante a masturbação. “Lembro de estar na sétima ou oitava série, tinha chegado em casa de uma aula sobre o corpo humano e resolvi me tocar e me conhecer. Foi como se eu tivesse aberto a porta do paraíso”, recorda, entre risos.

Como chegar ao orgasmo?

Assim como cada experiência para atingir o orgasmo é única, também não há fórmulas para chegar ao gozo. Para a historiadora, por exemplo, é fundamental passar por uma “boa preliminar”, que envolve muitos beijos e carícias.

A terapeuta sexual Leni Oliveira aconselha “explorar todos os sentidos” na relação sexual, evitando focar apenas as regiões genitais. Além disso, ela recomenda “aprender a respirar” e a praticar a masturbação durante a penetração.

Para Fernanda, inclusive, se tocar é essencial tanto para uma relação sexual satisfatória quanto para a realização pessoal. “A masturbação é muito importante. À medida que nos conhecemos sozinhas e sabemos pontos específicos de prazer, podemos aumentar a intensidade e frequência dos orgasmos numa relação com o outro também. É como um treino”, fala.

Acima disso tudo, saber falar sobre os próprios desejos ao parceiro sexual e conhecer o próprio corpo é essencial para “chegar lá”. “Uma boa comunicação é fundamental para garantir segurança e cumplicidade no sexo. Quando a mulher se sente à vontade, relaxada, sem ser julgada, é muito mais fácil atingir o orgasmo”, recomenda a terapeuta. 

Tabus em torno do orgasmo feminino

Ainda hoje existem tabus que cercam o orgasmo feminino, que, na avaliação de Leni, “vão desde a anatomia até crenças sobre como ele deve ser”. Segundo ela, “um número muito pequeno de mulheres tem consciência de que seus orgasmos pertencem a elas”.

A historiadora concorda. “Muitas mulheres são reprimidas ao associar o sexo ao prazer, vemos até mesmo pelas gerações passadas como esse assunto era pouco falado e até mesmo proibido”, elabora.

Para quebrar esses estigmas, é preciso romper com a ideia de que atingir o orgasmo está atrelado a certas regras. “Ultimamente, temos muitas cobranças do tipo ‘esse orgasmo é o melhor’, ‘faça isso, que você vai gozar’ ou ‘você tem que fazer swing’. Ninguém tem que fazer nada, é preciso ter autoconhecimento e autonomia para ter experiências melhores na cama”, indica.

 

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