“Poxa, fulana já está viajando a trabalho para o exterior, enquanto eu nem emprego tenho”, “ciclano trocou de carro, e o meu não sai da oficina” ou “beltrano já comprou apartamento, e eu mal tenho dinheiro para pagar o aluguel” são frases que podem vir à mente de qualquer um, especialmente quando se está rolando o feed de alguma rede social.

“As comparações sempre existiram, mas, como vivemos hoje em um mundo midiático, esse tipo de atitude é muito mais fácil de acontecer. Fotos de pessoas brindando uma conquista com um champanhe, por exemplo, podem despertar uma sensação de estagnação em quem as vê”, avalia a mentora de resultados Leila Said.  

Em certa medida, é natural se equiparar com os outros, é o tal do “a grama do vizinho vai ser sempre mais verde que a nossa”. Mas, quando essa prática se torna recorrente, é hora de ligar um sinal de alerta. “É preciso ter em mente que cada pessoa tem uma história. Não é porque alguém tem uma carreira bem-sucedida na área comercial que você precisa fazer o mesmo. Cada pessoa tem uma trilha de oportunidades, mas também de desafios”, observa Leila. 

Mas, afinal de contas, existe uma explicação para que pessoas alcancem seus objetivos mais facilmente que outras? Seria sorte, habilidade ou esforço? Segundo a terapeuta integrativa Fabyana Assunção, a resposta nada tem a ver com essas possibilidades – ou melhor, antecede qualquer um desses três pontos. “Se o seu subconsciente não estiver programado para conseguir o que deseja, não adianta nada. Ler livros de autoajuda, por exemplo, pode até ajudar, mas não haverá uma mudança efetiva se você não reprogramar seu subconsciente”, pontua Fabyana.   

Leila Said levanta outro ponto sobre o assunto e devolve a pergunta com outros questionamentos. “Você está realmente disposto a alcançar seus objetivos? Vai se dedicar? Porque há pessoas que podem ter herdado uma renda, por exemplo, e vão conseguir voar mais alto. Mas é importante também pensar no quanto você está empenhado para conseguir o que deseja”, pontua. Além disso, ela chama atenção para outro tópico. “Temos que ficar atentos aos influenciadores de hoje. Muitos deles trazem modelos a serem seguidos, e isso não é saudável”, recomenda. 

Peso pode ser ainda maior sobre as mulheres 

Quem é mulher sabe: em algum momento da vida, já ouviu ou ouvirá alguém questionando sobre namoro, casamento ou quando terá filhos. Esse tipo de indagação só serve para reforçar a ideia da comparação, especialmente quando a mulher vê as amigas ou pessoas próximas seguindo por tais caminhos.

“Mas o casamento não deveria ser um projeto de vida”, assevera Leila. “Projeto de vida deveria ser aquilo que te deixa feliz e estável. Eu tenho muitas amigas que têm mais de 50 anos, não se casaram e estão muito realizadas. Existem outros caminhos para serem trilhados, sejam eles a jornada profissional ou mesmo cuidar dos pais. Tudo isso são histórias de vida muito válidas”, reitera. 

Vale a pena refletir ainda se o modo de enxergar a vida não se transformou em apenas um grande checklist a ser cumprido. Obviamente, não existe nenhum manual que dita idade certa para sair de casa, casar e ter filhos, mas pressões internas e externas podem levar a acreditar que sim, existe um momento exato da vida para realizar cada uma dessas coisas.

“Às vezes, eu nem sei o que quero, só vou seguindo o fluxo. Se todo mundo está fazendo algo, também vou fazê-lo, sem sequer refletir se é isso o que realmente quer. Enquanto continuar agindo assim, as cobranças vão continuar existindo”, argumenta Fabyana.  

Como deixar de se comparar 

Não existe fórmula mágica para deixar de lado as comparações, mas ambas as especialistas concordam que é fundamental lançar um olhar verdadeiro para a própria vida. “O autoconhecimento é a base de tudo. Na minha percepção, muitas pessoas querem os bônus, mas não os ônus das suas próprias escolhas. É preciso se questionar: se você não está satisfeito com a vida, quais sensações isso provoca? Ansiedade? Tristeza? Quanto mais você se conhece, mais entende em qual lugar deve estar”, diagnostica Leila. “Depois disso, é importante fazer planejamentos para atingir suas metas. Preciso de 60 dias ou dois anos para conseguir algo? Você não precisa cumprir as metas dos outros, mas as suas próprias”, sugere Leila. 

“Quando você começa a trabalhar suas próprias crenças, há uma mudança interna na programação do seu subconsciente. É fácil? Não! É uma tarefa árdua. Mas o seu sonho merece a sua disciplina. Quando não conseguimos algo que queremos muito, isso pode ser um autoboicote. E esse tipo de ação pode ser trabalhado em terapia, análise em ou uma constelação familiar”, comenta Fabyana. 

Acima de tudo, elas concordam, deve-se trazer para si responsabilidades próprias. “É preciso enxergar os próprios erros. Percebeu que tomou uma decisão pouco acertada? Bola pra frente! No passado, só tem história”, diz Leila, destacando que é necessário desconstruir a ideia de estar atrasado para cumprir algo. “Vejo muitos alunos tomando a decisão de fazer uma graduação ou um MBA depois dos 40, 50 anos, especialmente as mulheres. E eu sempre falo que este é o momento certo, porque, mais jovem, talvez não tivesse tanta maturidade quanto agora”, aponta Leila. “Ninguém é 100% resolvido. Se fosse, o mundo seria maravilhoso. Temos que saber que temos total responsabilidade por nossas escolhas, sejam boas ou ruins”, completa Fabyana.