Embora boa parte dos pais reconheça os benefícios da prática de atividades física, eles afirmam que os filhos preferem passar horas na frente do videogame. É o que mostra pesquisa realizada recentemente pelo Ibope.

De acordo com o estudo, 37% dos pais afirmaram que os filhos ocupam o tempo livre com jogos digitais e não possuem o hábito de praticar esportes. Ainda que o videogame possua pontos positivos em relação ao desenvolvimento cognitivo das crianças, a falta da prática de esportes preocupa especialistas.

“Os videogames fazem com que as crianças conheçam coisas novas e melhorem a atenção. Mas, por outro lado, a prática excessiva pode levar a criança ao sedentarismo e a ter problemas de socialização. O ideal é achar um denomidador comum entre as duas atividades”, afirma a psicóloga Ana Cássia Maturano.

Isso é o que o professor de educação física da PUC Minas Mauro Sá tem tentado fazer com os filhos. Pai de Mariana, 8, Matheus, 12, e Rafael, 14, o educador determina o horário dos filhos de jogarem videogame e os incentiva na prática esportiva.

“Na minha casa não há a proibição em relação aos jogos digitais. As crianças podem ficar até uma hora por dia na frente do videogame. Mas faço com que elas tenham contato com outras atividades. O incentivo por parte dos pais é fundamental”, afirma Sá.

A importância de incentivar os filhos nas práticas de atividades físicas também foi mostrada na pesquisa. De acordo com o Ibope, pais que praticam esportes incentivam mais os filhos. Dentre os entrevistados que praticam atividades, 72% disseram incentivar seus filhos no esporte, ao contrário de 50% que não mantêm o hábito.

“Os pais são um espelho para o filho, mas, às vezes, esse pai acaba não incluindo a criança na prática esportiva. Se o pai joga futebol e não leva o filho, ele pode interpretar como uma coisa ruim. O segredo é a inclusão”, defende Maturano.

Ciclo vicioso. Com a inserção dos pais no mercado de trabalho, aumento da jornada de trabalho e da correria do dia a dia, os adultos acabam usando o videogame como uma “babá”. Ana Cássia Maturano explica que mesmo que as crianças gostem dos jogos digitais, o comportamento dos pais na educação delas é fundamental para entender essa predileção.

“Os pais estão cada vez mais sobrecarregados, e o videogame acaba ocupando o papel que a televisão ocupava há alguns anos. É mais fácil deixar a criança quieta dando um jogo para ela. Mas isso não é saudável. Até porque o videogame é atrativo, e o processo acaba sendo cíclico”, analisa.

Para Ana, quando a criança fica viciada nos jogos, existe, de fato, a dificuldade de tirá-la da frente dos videogames. Nesses casos, o melhor é o diálogo. “Os pais têm receio de impor a autoridade, mas se o pai estiver disposto a conversar e oferecer opções para os filhos, a relação se torna de troca. Assim, fica mais fácil para os dois lados”, afirma.

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Em casa

Dialogar e estabelecer regras favorece o respeito aos limites

Ainda que a prática de futebol faça parte da rotina de Arthur Reis, 12, seus finais de semana são dedicados aos jogos digitais. No sábado e no domingo, o garoto passa horas jogando games populares, como o GTA (jogos sobre furto de automóveis) e o Minecraft (jogo que permite a construção de cidades por meio do uso de cubos).

Isso, porém, não é uma preocupação para sua mãe, a professora Alessandra Matos, 44. Ela conta que, desde que o filho tenha um bom desempenho na escola, as horas dedicada aos jogos digitais não são um problema. “Ele interage bastante nos jogos. Alguns são online, então ele pode conversar com outras pessoas. Isso é um ponto positivo. Mas, quando as notas estão ruins, ele não pode jogar e aceita muito bem isso”, afirma.

O garoto afirma que obedece à mãe sem problemas quando é impedido de usar o videogame. “Ela sempre deixa claro que, quando não vou bem na escola, não posso jogar. Eu não jogo, e ela confia em mim”, diz. 

A professora também destaca que uma maneira de não deixar que o filho seja prejudicado pelos games é a supervisão. “Tento ficar sempre atenta aos jogos, porque muitos deles são bastante reais. Às vezes vejo que têm muito palavrão nesses jogos. A solução é conversar e deixar claro para ele que trata-se apenas de um jogo”, defende Alessandra. (MA)