A constante busca por novos tratamentos contra o câncer tem levado a medicina a alcançar técnicas cada vez mais surpreendentes, como, por exemplo, a terapia genética, também conhecida como CAR T-cell (sigla em inglês para “receptor de antígeno quimérico de células T”).

Trata-se de uma imunoterapia combinada à engenharia genética. O método, aprovado comercialmente nos Estados Unidos desde 2017 pela FDA, órgão regulador similar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, é utilizado para editar geneticamente as células de defesa do corpo humano para que elas “aprendam” a lutar contra o tumor.

De acordo com o órgão norte-americano, essa decisão é tratada como uma “ação histórica”. Além disso, a entidade afirma que “inaugura uma nova abordagem para o tratamento de câncer e outras doenças graves que ameaçam a vida”.

O novo procedimento consiste em extrair os linfócitos T, espécies de “soldados” do sistema imunológico, do sangue do paciente. “Recolhemos esse material e o modificamos geneticamente em laboratório para que ele reconheça as células malignas. Em seguida, o injetamos na corrente sanguínea para que ocorra o ataque contínuo até destruir o câncer”, explica o oncologista da Oncomed-BH Marcos André Marques Portella.

Conforme explica o profissional, o tratamento foi aprovado baseado em dois estudos realizados em pacientes com leucemia linfoide aguda de células B. “Essa patologia é resistente a várias linhas de medicações. No entanto, ao utilizar essa nova técnica, o resultado atingiu resposta em 83% dos casos”, frisa. Apesar da boa notícia, Portella revela que a terapia não é isenta de risco, uma vez que apresenta 26% de toxicidade grave, que atende pelo nome de síndrome de liberação de citocinas.

“Isso ocorre quando o organismo do paciente libera essas proteínas de defesa, levando a toxicidade grave e potencialmente fatal. Para conseguir evitar essa questão, o centro de atendimento tem que estar munido de um anticorpo chamado tocilizumab, que funciona bloqueando uma das citocinas, a interleucina-6”, explica Portella.
Apesar dos riscos, o oncologista aponta que, nos últimos anos, o avanço no tratamento contra o câncer tem proporcionado ganhos de sobrevida para vários pacientes. “Temos visto uma revolução nesse sentido. A imunoterapia, por exemplo, apresenta decorrências melhores em várias neoplasias que antes tinham um resultado pobre com o tratamento quimioterápico”, conta.

Para Portella, a estratégia usada pela medicina – que valeu no ano passado o Prêmio Nobel de Fisiologia, consiste em “tirar os freios do sistema imune e acometer as células causadoras da doença, bloqueando, através de anticorpos, os receptores CTLA 4 e PD-1, para, então, liberar os linfócitos T para atuar na defesa contra os tumores”

Tratamento é o mais caro em oncologia

Uma das maiores dificuldades em importar essa técnica para os hospitais do Brasil é o alto custo que o procedimento apresenta. “Nós estamos discutindo sobre o tratamento mais caro até hoje em oncologia, cerca de US$ 475 mil (R$ 1,8 milhão) por infusão”, frisa o oncologista da Oncomed-BH Marcos André Marques Portella.

Ele destaca que há poucos centros de excelência em tecnologia e segurança ao paciente no país capazes de disponibilizar esse tipo de tratamento. “É provável que demore muito tempo para incorporar essa tecnologia de uma forma geral por aqui”, diz.

Já em relação aos tipos de câncer que podem ser tratados com a técnica, o médico aponta que atualmente existem três terapias com células CAR T-cell: a primeira delas é para os casos de leucemia linfoide aguda avançada ou recidiva. As outras duas são para tipos de linfoma de células B avançado. 

Brasileira foi até Israel para realizar procedimento

Em busca de uma saída para curar um tipo de câncer agressivo, a brasileira Márcia D’Umbra foi até Israel, país que também tem apostado nesse tipo de procedimento, para se submeter a um tratamento experimental. 
“Eu tinha dois tumores no sistema nervoso central. Um deles era operável. Já o outro, não. Tive que realizar sessões de quimioterapia, mas que, infelizmente, não deram certo”, relatou ela em entrevista ao portal G1. 

Ainda segundo ela, pouco tempo depois houve piora no seu quadro de saúde. “Isso aconteceu devido à metástase, que chegou até o meu cérebro. Eu cheguei a parar de dirigir, não trabalhava mais”, lembra. Márcia revela que foi nesse momento que ela e o seu meu marido buscaram novas alternativas. 

“O médico da nossa família conhecia uma paciente que tinha levado o pai dela para Israel e passado pelo procedimento. Aí ele nos indicou”, disse.

Conforme Márcia conta, o tratamento foi difícil. No entanto, ela conseguiu se manter muito otimista durante todo o tempo. “Hoje, graças a Deus, eu tenho uma vida normal”, frisou.