Usadas para adornar o corpo há milênios, as tatuagens agora estão sendo utilizadas com outro fim: complementar uma cirurgia plástica. Trata-se da dermopigmentação definitiva, técnica muito similar à tatuagem, usada para suavizar cicatrizes, disfarçar manchas e cobrir pequenas marcas pelo corpo.


Um dos usos mais conhecidos – e de maior sucesso – é a reconstrução do mamilo em mulheres que se submeteram à retirada da mama, após um câncer.

Com a pigmentação, mamilo e aréola são pintados na paciente, dando a impressão visual de que a mulher não os perdeu. “Foi um avanço. Com efeitos de claro e escuro, conseguimos dar profundidade e movimento para o seio”, comenta Inajá Bessa, profissional que atua com a dermopigmentação definitiva, em Belo Horizonte, há 17 anos.

Como o mamilo tem terminações nervosas que podem levar a uma metástase, o mais seguro é a remoção do complexo aréolo-mamilar. Mas nem todas as mulheres se submetem a uma cirurgia para reconstruir o complexo com pele enxertada de outras partes do corpo. Então, uma opção é a dermopigmentação.

A costureira Soraya Cardoso, 49, é uma das pessoas que optaram pela técnica depois de um tratamento contra o câncer. “É uma sensação muito ruim, ter um seio normal e o outro diferente. A mulher fica acanhada, tem vergonha de tirar a roupa na frente das pessoas. E nós mesmas acabamos não enxergando muito o normal, vemos só o ‘errado’”, revela.

Ela fez a reconstituição cerca de dois anos após ter terminado o tratamento contra a doença. Os resultados, segundo ela, não poderiam ser melhores. “Ficou perfeito. A tonalidade do mamilo reconstituído é igual à do mamilo natural”, garante. E completa: “Hoje em dia, quando me perguntam de supetão qual é o seio reconstituído, eu nem me lembro de imediato”.

Versatilidade. A dermopigmentação definitiva também pode ser usada para disfarçar a leucodermia – ou as chamadas “sardas brancas” – e as manchas claras deixadas pelo vitiligo estacionário. Serve, também, para o relaxamento de cicatrizes de cortes – inclusive no couro cabeludo e as de plásticas no seio –, queimaduras, e para diminuir as marcas de uma cirurgia de correção de lábio leporino. Um último uso, mais raro, é a pigmentação de córnea, usada para quem perdeu a visão e já está na fila para uma prótese ocular, ou olho de vidro. “Não existe a menor possibilidade de mudar a cor de um olho saudável”, adverte Inajá.

De acordo com o coordenador do plantão de cirurgia plástica do Hospital Mater Dei, Alfonso Senpertegui, não há contraindicações absolutas para a técnica, mas, sim, relativas. Quem tem a pele muito fina e clara ou quem tem tendência a queloide deve passar por uma avaliação criteriosa antes de se submeter ao procedimento. O mesmo vale para as pessoas que estão passando por radioterapia, pois a pele fica muito sensível.

“Como em todo procedimento, os riscos de complicações existem. Os principais, neste caso, são o de o tom da dermopigmentação não ficar idêntico ao da pele e também de a pessoa ter alguma alergia aos pigmentos”, alerta Senpertegui.


Técnica é menos agressiva à pele e dura cerca de um ano

A técnica da dermopig-mentação definitiva é muito parecida com a da tatuagem. Em ambas, pigmentos são introduzidos no corpo por meio de agulhas. No entanto, o equipamento e os pigmentos utilizados são um pouco diferentes.

Enquanto a máquina da tatuagem faz cem rotações por minuto, a da dermopigmen-tação consegue fazer somente 50. Por isso, o trauma causado na pele por essa técnica é menor. Para as tatuagens decorativas, os pigmentos são orgânicos e solúveis em água. Assim, as cores são muito mais fortes. Já na dermopig-mentação, os pigmentos são inorgânicos e solúveis em glicerina. Isso faz com que seus tons sejam mais pasteis – ou próximos dos tons da pele humana.

Para uma tatuagem, é atingida a derme, camada média da pele. Na outra técnica, a substância é aplicada na epiderme. Por isso, requer retoques mais frequentes. O recomendado é que, de ano em ano, a pessoa faça uma avaliação profissional.