Recentemente, um jovem morador de Curitiba de 18 anos viralizou nas redes sociais e nem ficou sabendo disso. Tudo porque o que levou o rapaz a se tornar uma espécie de celebridade virtual foi justamente o fato de declarar a um repórter que não possui redes sociais e nem possui interesse em tê-las.
O comportamento drástico retomou o assunto daquelas pessoas que se sentem sugadas pela lógica dos algoritmos e decidem não só abandonar as redes como apagar os aplicativos de seus aparelhos eletrônicos, para não correrem o risco da tentação. O contexto leva à inevitável pergunta sobre o peso das redes na nossa vida contemporânea, e o quanto elas podem nos fazer bem ou mal.
“As redes sociais não são boas ou ruins por natureza, e podem afetar as pessoas tanto para o bem quanto para o mal”, ratifica o psicólogo Rodrigo Tavares Mendonça. Ele acredita que entre os principais efeitos positivos das redes estão “a possibilidade de manter contato frequente com amigos e familiares, de reencontrar pessoas que passaram por sua vida e que se distanciaram, de se sentir pertencente a um grupo de pessoas, de expressar seus pensamentos e sentimentos e receber o feedback dos outros, de acessar rapidamente notícias, de aprender conhecimentos por meio de conteúdos educativos, de construir um networking, de interagir diretamente com pessoas de destaque na sociedade, e, é claro, de se divertir”.
“Nesse sentido, as redes sociais podem enriquecer a vida das pessoas. Contudo, esses benefícios têm um custo. E esse custo pode ser a saúde mental dos usuários”, pondera Rodrigo. É justamente essa sobrecarga de um mundo que se mantém conectado ininterruptamente que estaria levando muitas pessoas a tomarem a radical atitude de negação total das redes.
“As redes sociais sobrecarregam o indivíduo de informações com um fluxo constante de notícias, opiniões e conflitos que podem desencadear ansiedade e estresse. O indivíduo pode sentir que não consegue se controlar, que está viciado, que deixa de viver a vida real para viver a virtual”, corrobora o psicólogo.
A própria lógica de funcionamento das redes motivaria um comportamento de estresse. “Os algoritmos das redes sociais aprenderam que a melhor forma de manter os usuários engajados é despertar neles emoções fortes, então eles incentivam as posições polarizadas, frequentemente mostram informações que os usuários consideram absurdas, inaceitáveis, para que eles reajam com paixão. Acontece que esse excesso de estímulos diariamente pode cansar, estressar, adoecer. O ambiente virtual, então, costuma ser agressivo e tóxico”, complementa o especialista.
Fuga & comparação
Certa vez, Rodrigo ouviu em seu consultório o seguinte relato de um paciente: “No Instagram, parece que todo mundo é bonito, rico e feliz”. Essa idealização da vida alheia também estaria na raiz de consequências negativas para a saúde de muitos usuários.
“A comparação diária com os outros costuma afetar a saúde mental das pessoas. Ver a ‘vida perfeita’ dos outros diariamente pode desencadear uma sensação de fracasso. O problema é que essa ‘vida perfeita’ pode não ser perfeita de verdade. A vida real pode ser bem pior do que a mostrada nas redes sociais. A comparação costuma ser injusta, porque a pessoa compara a vida real dela com a imagem que os outros passam, que pode não representar realmente a realidade”, analisa o psicólogo.
Independentemente disso, é cada vez mais comum que as pessoas conheçam outras que decidiram largar as redes – mesmo que por um período específico como férias, final de semana e viagens – isso quando a ideia não passou pela cabeça delas próprias.
“As pessoas podem querer se afastar das redes sociais porque percebem que estão perdendo qualidade de vida, que gastam tempo demais ali, e, assim, produzem menos no trabalho e se conectam menos com as pessoas na vida real. Elas podem se afastar das redes por não quererem se expor excessivamente ou não permitir que seus dados pessoais sejam usados comercialmente. Acredito que esses efeitos negativos estejam entre os principais motivos que fazem as pessoas tomarem tal atitude”, afirma.
Estilo
Rodrigo não endossa a ideia de que existe um traço específico de personalidade que leva algumas pessoas a se manterem afastadas das redes sociais e outras não. “Os motivos para as pessoas se afastarem das redes são muitos e variados, então pessoas diferentes podem ter motivos diferentes para emitir o mesmo comportamento de se manter mais offline”, pondera.
Do mesmo modo, “sair das redes sociais pode fazer a pessoa sentir que tem mais tempo livre para cuidar de si mesma, que está menos ansiosa, que está com um foco melhor, que está cuidando mais dos relacionamentos mais importantes para ela”. “Quando o uso das redes está sendo prejudicial para a saúde mental da pessoa, a melhor estratégia pode ser realmente se distanciar para viver a vida que perdeu por causa desse excesso de uso”, orienta.
Sensação de isolamento
O psicólogo Rodrigo Tavares Mendonça esclarece que, como em qualquer decisão na vida, optar por deixar as redes sociais também trará perdas e ganhos, cabendo a quem toma tal atitude mensurar os prós e contras. “Entre os impactos negativos por sair das redes sociais está a sensação de isolamento. A pessoa pode se sentir sozinha. Existe ainda um fenômeno que está sendo chamado de FOMO (Fear of Missing Out), que é a sensação de estar perdendo as notícias, os eventos ou as tendências que acontecem na sociedade. A pessoa pode sentir que está de fora da vida social, que está perdendo o que está acontecendo ao seu redor”, salienta.
O especialista alerta que essa sensação de exclusão “pode desencadear ansiedade e sofrimentos intensos”. “A saída das redes sociais pode prejudicar o networking do indivíduo e realmente deixá-lo desconectado das informações que circulam com mais facilidade nelas”, aponta. Segundo ele, “as gerações mais novas, que nasceram em um mundo digital, podem sentir com mais intensidade a sensação de exclusão social por estar fora das redes sociais”.
“Contudo, existem formas de se manter em contato com os outros fora das redes sociais que podem ser aproveitadas quando se está mais offline. Encontros presenciais, ligações telefônicas ou mensagens SMS podem ser usadas mesmo que estejam fora de moda”, arremata.